Por CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Junte os fatos: a vitória ainda parcial do candidato socialista François
Hollande nas eleições presidenciais da França; a recente greve geral na Espanha;
a queda do governo da Holanda, que aconteceu anteontem; as manifestações
generalizadas na Grécia, em Portugal, na Itália e por toda a Europa - enfim, as
pressões vão numa única direção: atacam as políticas de austeridade.
Economistas de renome, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, também avisam que
são terapias que, além de exigir enorme sacrifício da população, impedem o
crescimento, causam desemprego e agravam a crise. E não falta quem advirta:
dívida impagável foi também a que o Tratado de Versalhes impôs à Alemanha em
1919 e que, anos depois, desembocou na hiperinflação e na ascensão do
nazismo...
Hoje é a própria Alemanha quem mais impõe sacrifícios aos demais sócios do
bloco do euro. Ou seja, a receita prevalecente são cortes orçamentários, aumento
da arrecadação e reformas que reduzam salários e aposentadorias.
Por maiores e mais disseminados que sejam os protestos e as recomendações em
contrário de consagrados economistas, ainda está para aparecer quem aponte saída
melhor. O problema não é só o tamanho da dívida da maioria dos países da área do
euro. É o rombo orçamentário anual, alto demais, de quase todos.
Ou seja, as dívidas sobem todos os anos em relação ao PIB, a menos que cresçam
menos do que o PIB.
A escapatória da Grécia foi o corte de cerca de 70% da dívida. Mesmo com essa
reestruturação do passivo, o rombo segue grande e exigirá nova rodada de
financiamentos, num ambiente em que o credor já não tem disposição de continuar
comprando títulos emitidos por caloteiro.
Os mecanismos de socorro (portas corta-fogo) não atendem à necessidade de
financiamento de déficits correntes. Servem para apagar incêndios. Assim, para
pagar a dívida em vencimento mais os novos déficits, é preciso contar com os
compradores de títulos (credores).
De vez em quando aparece alguém para dizer que a receita aplicada à Grécia
deve se repetir pelos outros devedores. Isso significaria que o calote deve ser
generalizado. Mas credores não são apenas banqueiros sem alma, merecedores de
boas pauladas. São todos os que aplicam dinheiro no mercado financeiro, como
seguradoras, fundos de investimento e fundos de pensão que, lá na frente,
pagarão aposentadorias complementares. Calote generalizado não só quebraria
bancos e levaria para o ralo o dinheiro de depositantes e aplicadores e reservas
de seguradoras, mas transformaria em fumaça o futuro dos cotistas dos fundos de
pensão. Portanto é opção descartada.
Outra opção cada vez mais reivindicada por políticos e candidatos à chefia de
governo, caso dos franceses Nicolas Sarkozy e François Hollande, é levar os
bancos centrais a emitir moeda para o resgate de títulos. Seria a monetização,
ainda que parcial, dos passivos. Na prática, seria escolher uma inflação
controlada que se encarregasse de desvalorizar as dívidas.
Mas isso equivaleria a cavar um buraco numa barragem para deixar escapar
"controladamente" o excesso de água. O problema é que chega um momento em que
coisas assim fogem do controle e se tornam catástrofes.
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