terça-feira, 22 de novembro de 2011

POLÍTICA: Momentos de tensão marcam relação de Dilma com Marco Maia

De O GLOBO.COM,.BR
Cristiane Jungblut / Isabel Braga
Hábil nas crises ministeriais, Dilma enfrenta problemas nas negociações com o Congresso
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff tem driblado com habilidade política surpreendente as crises de denúncias contra seus ministros, ainda capitalizando a fama de ter promovido uma "faxina pública" junto à sociedade. Mas essa habilidade não se repete quando o assunto é o dia a dia do Congresso Nacional ou as negociações políticas para aprovação de projetos. A dificuldade nesse relacionamento diário é apontada por aliados como um problema constante entre ela e sua base aliada. Ainda assim, a Câmara dirigida pelo petista gaúcho Marco Maia - que já teve momentos de tensão na sua relação com Dilma, sendo que os dois conviveram como secretários de Estado no Rio Grande do Sul - aprovou tudo que Dilma precisou no seu primeiro ano de governo.
A presidente, na avaliação dos próprios petistas, estaria cercada de assessores que desconhecem a dinâmica da Câmara e do Senado e costumam dar ênfase a avaliações mais técnicas e menos políticas. A grande mágoa de Marco Maia, resumem petistas e aliados, é o sentimento de que Dilma não o respeita como um dos chefes do Legislativo, sempre prestigiando o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Muitos já o ouviram comentar que Dilma parece não entender que, até para defender o governo, o presidente da Câmara precisa ter estatura e agir de forma autônoma.
Com exceção de um dos pontos do Código Florestal, ela não sofreu nenhum grande revés na Casa. Marco Maia, em entrevista ao GLOBO, faz um balanço dos resultados neste primeiro ano de trabalho. Demonstra que, apesar das insatisfações no relacionamento, a maioria aliada sob seu comando na Câmara não negou apoio ao governo petista.
- Eu diria que a presidenta e o governo não podem reclamar da Câmara dos Deputados. Porque a Câmara votou, praticamente na integralidade, todos os principais projetos que o governo apresentou à Câmara. É óbvio que a Câmara votou outros projetos que não eram necessariamente de interesse do governo, mas faz parte do processo democrático, faz parte do debate e da discussão do próprio Parlamento - afirmou Maia.
A relação entre Dilma e Marco Maia é definida pelos próprios aliados como "nada próxima". Quando muito, "cordial", ao contrário do que sempre ocorreu com outros presidentes dos dois poderes. Para os mais experientes, o fato de Dilma nunca ter pertencido ao Legislativo é uma das explicações. Além disso, cercou-se de pessoas que não conseguem transmitir a ela como realmente se dão as articulações no dia a dia do Parlamento.
Nos bastidores da relação Dilma-Maia, as farpas são mútuas, com muitos deputados relatando à presidente e seus auxiliares que o presidente da Câmara critica atitudes e o jeito de ser da presidente, com adjetivos como "inábil politicamente, dura no trato e coração de pedra". Maia evita falar sobre isso.
Para os aliados, Dilma não reconhece o trabalho importante do petista gaúcho na condução dos trabalhos. Prefere apenas criticar suas atitudes de autonomia em algumas votações, como ocorreu com a Emenda 29 ou a tentativa de acordo com a oposição na votação da DRU.
Na semana retrasada, na votação da Proposta de Emenda Constitucional que prorroga a Desvinculação de Receitas da União até 2015, Marco Maia viveu outra situação de desconforto e tensão com Dilma. No calor das discussões sobre a DRU, que se transformou numa novela para o governo, Maia tentou um acordo em torno de uma prorrogação de dois anos - e não quatro como propôs o governo - e teve a proposta pronta e diretamente rechaçada pela presidente.
Parlamentares reclamam até do tratamento que Dilma dá em viagens, deixando de levar deputados e senadores em comitivas, uma prática muito comum a todos ex-presidentes - trata-se de um gesto político para prestigiar os aliados em viagens aos seus estados de origem.
Maia tem sido um dos poucos que, a despeito do tratamento que pode receber, que enfrenta determinados debates com a presidente, mostrando-lhe as dificuldades e a necessidade de ceder em negociações, como ocorreu no caso da votação da Comissão da Verdade.
Mesmo a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, tem recebido críticas de parlamentares, em especial dos deputados, que a acusam de desconhecer que as regras da Câmara não são as mesmas do Senado, sua Casa de origem. Na semana passada, por exemplo, Ideli foi à Câmara acompanhar a votação da DRU, mas acabou ficando isolada no gabinete de Maia.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), prefere não entrar nos detalhes da difícil relação com Dilma. Para ele, o governo está aberto ao debate de mérito sobre projetos e eventuais alterações. Ele atribui os problemas iniciais ao fato de o governo estar em seu primeiro ano e afirma que o importante são os resultados.
- A política tem solenidades de soma zero. Vamos olhar as coisas do ponto de vista objetivo. E os resultados do governo são bons. O governo tem sido rápido tanto na agenda do Brasil, quanto em relação aos problemas que surgiram. As quedas de ministros foram todas costuradas com as respectivas bancadas - avalia Teixeira.
Sobre a relação entre ela e o presidente petista, Paulo Teixeira afirma:
- Marco Maia tem sido decisivo para o sucesso do governo Dilma.
A falta de entrosamento entre o grupo de Marco Maia e o do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), patente no início da legislatura, arrefeceu neste final de ano, com os dois demonstrando ter entendido que o jogo dividido só os enfraquecia. Vaccarezza tem enfatizado que Dilma deve muito a Marco Maia.
- Para mim, o governo só tem a agradecer à base aliada e ao presidente Marco Maia. À base pelo apoio, e ao presidente pela independência. A oposição, às vezes bruta comigo, se manteve nos marcos democráticos - afirma Vaccarezza.
Os deputados governistas têm esperança de que a relação poderá melhorar ainda mais no próximo ano.
- A presidente nunca foi parlamentar e não entende a dinâmica do Congresso. E a turma que está em volta dela também, e a presidente começa a perceber isso - diz um experiente parlamentar aliado, relevando parte dos problemas com a presidente.
Na oposição, a relação de maior autonomia da presidência da Câmara em relação ao Palácio do Planalto é destacada.
- Ele (Marco Maia) nunca foi o candidato dela à presidência da Câmara. Mas, na presidência, ele se comporta no sentido de se resguardar. Surpreendeu. É um presidente que não tem sido tutelado, feito valer o cargo, colocando em votação matérias que o governo não queria. Não foi anestesiado pelo canto da sereia - avalia o vice-líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).
Na difícil relação de Dilma e sua base aliada, além da demora na liberação das emendas parlamentares, outra coisa que tensiona o ambiente são os constantes rumores de que setores do governo querem a troca dos líderes do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP) e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

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