quinta-feira, 7 de março de 2019

ECONOMIA: Com pessimismo no exterior e cautela com reforma da Previdência, dólar sobe a R$ 3,88; Bolsa tem leve alta

OGLOBO.COM.BR
João Sorima Neto

Moeda americana atingiu o maior patamar do ano e chegou a bater em R$ 3,90

Dólar opera estável Foto: Pixabay

SÃO PAULO - Numa semana mais curta por conta do carnaval, a Bolsa brasileira teve um dia de volatilidade, enquanto o dólar voltou a subir. A moeda americana encerrou a sessão negociada a R$ 3,88, alta de 1,30%, o maior patamar do ano e a sétima alta consecutiva. Na máxima do dia, a moeda americana bateu em R$ 3,90. No exterior, a divisa americana também subiu e o dollar spot, índice da Bloomberg que acompanha o desempenho da divisa frente a uma cesta de moedas, se valorizava 0,82% no final dos negócios no Brasil.
Para especialistas em câmbio, a escalada da moeda é influenciada tanto por fatores externos quanto internos. No campo doméstico, o mercado acompanha a tramitação da reforma da Previdência no Congresso. O deputado Felipe Francischini (PSL-PR), que será o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), afirmou que se a CCJ não for instalada na próxima semana, a reforma pode ser votada no plenário da Câmara apenas no segundo semestre deste ano. Isso deixa o mercado cauteloso.
- Essa alta do dólar vai continuar até que a proposta de reforma da Previdência seja definida e enviada para votação, deixando assim o investidor mais tranquilo. Mas uma reforma mais branda não trará confiança aos mercados - explica Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital.
Ricardo Gomes, diretor de câmbio da corretora Correparti, avalia que o dólar também foi influenciado pelo clima de pessimismo no exterior. Em discurso, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, afirmou que o PIB dos países da zona do euro está "potencialmente desacelerado". Por isso, o BCE teve que rever o programa de estímulo, com juros mais baixos e empréstimos aos bancos. O euro recuou mais de 1% e as moedas de países emergentes como o real, o peso argentino e chileno também perderam força.
- Hoje o dólar foi a única moeda que se valorizou no mundo - diz Gomes. 
O Banco Central Europeu adiou, nesta quinta, para 2020 a primeira alta de juros pós-crise, e ofereceu aos bancos novas rodadas de empréstimos.
Para Gomes, além da aversão ao risco no exterior, se a reforma da Previdência não tiver algum andamento neste primeiro mês de trabalho do Congresso, o dólar ficará pressionado. Ele afirma que o mercado também teme a desidratação do projeto, que perderia sua finalidade de estancar o déficit das contas públicas. Os ruídos provocados pelo presidente Jair Bolsonaro e seus filhos também deixam os investidores mais cautelosos e interessados em se proteger na segurança do dólar, diz ele.
- Acredito que se sair algum acordo comercial entre China e EUA, o dólar tende a ceder. Mas neste momento, enquanto se aguarda a tramitação da reforma e há pessimismo com o crescimento global, no exterior, a tendência é que o dólar fique pressionado e flutue entre R$ 3,80 e R$ 3,90 - disse Gomes.

Bolsa teve dia de volatilidade
Na Bolsa, o dia foi de volatilidade. O Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro de ações, oscilou desde a abertura, mas encerrou com leve alta de 0,13% aos 94.340 pontos. O giro financeiro foi de R$ 11,8 bilhões. Depois de quatro dias consecutivos de queda, a Bolsa acabou atraindo investidores ao descer ao patamar de 94 mil pontos.
- Como o Ibovespa acumulava quatro pregões de queda, o patamar dos 94 mil pontos acabou atraindo investidores no final do dia - disse o operador de uma corretora, que prefere não se identificar.
Para Álvaro Frasson, analista da corretora Necton, outra declaração do presidente Jair Bolsonaro, depois do polêmico post sobre o carnaval, trouxe ainda mais incerteza aos investidores no cenário doméstico. Bolsonaro afirmou que "democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem".
- Não que a frase tenha tido efeito sobre a Bolsa. Mas o mercado está se cansando porque o presidente está perdendo capital político sozinho, quando poderia estar focado na reforma da Previdência - disse Frasson.
Pesaram sobre o Ibovespa as ações da CCR ON (recuo de 6,66%, a R$ 12,61) e Ecorodovias ON (com perda de 5,39,24% a R$ 10,00), as maiores quedas do índice. Os investidores venderam os papéis das duas concessionárias de estradas após a Rodonorte, empresa do Grupo CCR, firmar acordo de leniência de R$ 750 milhões com o Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da Operação Lava-Jato. A Rodonorte terá que reduzir em 30% o preço dos pedágios e será obrigada a fazer publicidade em rádio, jornais e nas praças de pedágio sobre a queda na tarifa. A publicidade está prevista no acordo de leniência.
As ações de bancos, com maior peso no índice, e da Vale, ajudaram o Ibovespa a encerrar no positivo. Os papéis preferenciais do Itaú subiram 1,77% a R$ 35,47 enquanto as ações PN do Bradesco avançaram 0,59% a R$ 42,46. Os papéis ordinários da Vale subiram 1,81% a R$ 48,92. Já as ações ordinárias da Petrobras perderam 0,78% a R$ 29,25.
"O mercado se debruçou sobre o tweet do presidente Jair Bolsonaro com conteúdo polêmico e a sensação é que este é um evento que se soma a outros que mostram a falta de foco do governo em relação às reformas, mas não é de forma alguma uma surpresa", escreveu o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito, em relatório a clientes.
A possibilidade de um crescimento mais fraco da economia global e a indefinição de um acordo comercial entre China e EUA trouxeram incerteza aos investidores no exterior, que fugiram das Bolsas e procuraram a segurança do dólar. As bolsas americanas recuam e as europeias fecharam em queda.

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