quarta-feira, 24 de maio de 2017

ECONOMIA: Crise política completa uma semana com impactos concretos na economia

OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO

Bolsa em queda, dólar em alta e reformas paradas estão entre os reflexos da delação premiada de Joesley Batista

- Reprodução

RIO - A nova crise política aberta com a divulgação da delação premiada de Joesley Batista, dono do grupo JBS, completa uma semana nesta quarta-feira com repercussões concretas no país. No mercado financeiro, onde reflexo de fatos que tenham impacto na economia é sempre imediato, o índice mais importante da Bolsa brasileira (Ibovespa) acumula queda de 7,2% e o valor de mercado das empresas listadas, perda de R$ 184 bilhões. O dólar comercial — que fechou em torno de R$ 3,12 na quarta-feira passada antes da revelação de que o presidente Michel Temer estava envolvido, feita pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim — gora vale cerca de R$ 3,27, uma alta de 4% ou R$ 0,15 em apenas quatro pregões.
Além disso, as reformas da Previdência e trabalhista, consideradas fundamentais para o ajuste fiscal e a recuperação da confiança dos agentes econômicos, estão praticamente paradas. A incerteza é o maior paralisador da economia, porque, sem saber o que virá pela frente, consumidores não gastam e empresários não investem nem contratam funcionários esperando uma definição de cenário. Diante isso, a retomada do crescimento, que era esperada para o segundo semestre do ano, pode ficar para depois.
Nesta terça-feira, o Congresso deu uma amostra de como pode ser o andamento dos projetos do governo daqui para a frente. A leitura do relatório da reforma trabalhista no Senado gerou grande bate-boca e confusão, aos gritos de “Fora, Temer”, e a sessão por pouco não foi concluída. Já o projeto que muda as regras da aposentadoria não voltou a ser discutido. “Não há espaço para avançarmos com a reforma da Previdência no Congresso Nacional”, disse, por exemplo, o deputado Arthur Maia. O recado foi claro e o clima entre os técnicos do governo, segundo interlocutores, é de perplexidade e frustração, porque, até o momento das denúncias, havia esperança de que a proposta pudesse ser votada em primeiro turno pelo plenário da Câmara dos Deputados no dia 29 deste mês. Agora, a equipe econômica já descarta a aprovação da reforma da Previdência no primeiro semestre. Nesta segunda-feira, inclusive, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu pela primeira vez que o cronograma de votação poderá sofrer atraso.
As agências de classificação de risco também reagiram mal às novas denúncias, embora não tenham anunciado rebaixamento na classificação do Brasil. Para a Moody’s, as denúncias de Joesley Batista contra o presidente Michel Temer prejudicam a perspectiva de crédito do país e ameaçam “paralisar ou reverter o positivo momento político e econômico observado recentemente”. Já a agência de classificação de risco Fitch afirmou que a crise política eleva a incerteza sobre a aprovação das reformas da Previdência e trabalhista e também podem abalar a recuperação econômica. A Moody’s manteve inalterada a nota de crédito soberana do Brasil, em “BB” (abaixo do grau de investimento, espécie de selo de bom pagador), com perspectiva negativa. E a Fitch manteve os ratings de longo prazo do Brasil, em moedas estrangeira e local, em BB. Já os ratings de curto prazo em moedas estrangeira e local foram reafirmados em B. O teto do país, por sua vez, permanece sendo BB+.
Na Bolsa, as ações que mais sofreram a queda foram as fortemente ligadas à atividade econômica: transportes, bancos, construção civil, energia elétrica. Bancos e corretoras também já estão revendo para baixo as apostas para o corte de juros pelo Banco Central, que há uma semana haviam subido para até 1,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom, que ocorre nos dias 30 e 31 de maio. A mudança nas apostas aparece no mercado futuro: a taxa dos contratos de DI com vencimento em janeiro de 2019 (o mais negociado) passou de 8,85%, em 17 de maio, para 9,89% nesta terça-feira.
Em relatório enviado a clientes, Alberto Ramos, analista de América Latina no banco americano Goldman Sachs, frisa que a reação do mercado ao aumento da incerteza levou a significativo aperto das condições domésticas de financiamento, com um aumento do risco-país medido pelo CDS (credit default swap, espécie de seguro contra calote do país). No início da semana passada, o CDS brasileiro estava em 200 pontos, subiu para 247 na sexta-feira e na segunda-feira operou a 251 pontos — próximo ao nível do Chipre e o dobro do da Colômbia.
“A crescente incerteza política e política, o déficit fiscal e um real mais fraco podem levar o Banco Central a ser um pouco mais conservador (no corte dos juros básicos), mas a perspectiva de uma economia e de um mercado de trabalho ainda mais fraco ainda ainda exigiria mais afrouxamento da política monetária”, afirma Ramos no texto. “ O afrouxamento monetário continua no curto prazo. O Comitê de Política Monetária ainda tem espaço significativo para cortar a taxa, mas não vemos mais espaço para para acelerar ainda mais o ritmo de reduções. No máximo, na próxima reunião (31 de maio), o Banco Central poderia reduzir a Selic em um ponto percentual”, acrescenta.
A possível nova transição de governo coloca ainda em risco o andamento do pacote de concessões anunciado pelo governo em março: foram 55 novos projetos, contemplando terminais portuários, linhas de transmissão, ferrovias e rodovias, com investimentos estimados em R$ 45 bilhões. As concessões são consideradas fundamentais para impulsionar os investimentos, empregos e a atividade econômica.
Os riscos são tão abrangentes que o temor de um novo mergulho da economia levou o meio empresarial a deixar de lado questões como o destino do próprio presidente da República para se concentrar no destino das "reformas estruturais" e no perfil da atual equipe econômica, que esperam que se mantenha. Afinal, Henrique Meirelles, na Fazenda, e Ilan Goldfajn, na presidência do Banco Central, são as âncoras, os fiadores da política econômica.
Nessa direção, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicou nos principais jornais do país nesta terça-feira uma mensagem cobrando dos poderes da República "serenidade, equilíbrio e espírito público" para solucionar a atual turbulência. No texto, a CNI adverte que "não pode haver retrocessos

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