terça-feira, 17 de setembro de 2013

CONSUMIDOR: Seguro-viagem nega UTI móvel a brasileira, que tem de ser operada de tumor no cérebro no Peru

De OGLOBO.COM.BR
DAIANE COSTA

Assistência de viagem do cartão Visa Platinum não autorizou retorno, apesar de família concordar em pagar a diferença de custo
Em férias, arquiteta viajava sozinha quando teve dor de cabeça, procurou hospital e recebeu diagnóstico
Natália, à esquerda, e a família durante o último Dia das Mães - FOTO: Reprodução/Arquivo Pessoal
RIO — Um mal-estar acompanhado de fortes dores de cabeça interrompeu a viagem de férias da arquiteta brasileira Natália Duffles ao Peru, no nono dia do passeio. No último dia 6, ela caminhava por Cuzco, cidade de 300 mil habitantes, nos Andes peruano, quando precisou procurar um hospital. Ao chegar à Clínica MacSalud, o quadro se agravou, teve uma convulsão e entrou em coma. Diagnóstico: tumor no cérebro. O caso foi noticiado na coluna de Ancelmo Gois, no GLOBO, na sexta-feira.
Natália teria de passar por uma cirurgia para a retirada de edemas. Como viajava sozinha, o hospital procurou a embaixada brasileira no Peru, que, dois dias depois, conseguiu localizar a família da arquiteta no Brasil. No mesmo dia, os parentes solicitaram à assistência de viagem contratada, do cartão de crédito Visa Platinum, uma UTI aérea, conforme cobertura prevista em contrato, para que Natália fosse operada no Brasil. A seguradora pediu à família que desembolsasse US$ 33 mil para trazê-la de volta — o voo sairia por US$ 83 mil, e o seguro cobriria US$ 50 mil. Apesar de ter aceitado a proposta, a seguradora cancelou o embarque, previsto para a última quarta-feira. Um dia depois, o estado de Natália piorou, e ela precisou ser operada às pressas em Cuzco.
— Ficamos desesperados. Além de o estado da minha irmã ser muito grave, não podíamos ficar com ela. E ainda tivemos de resolver toda uma questão burocrática, tentar convencer a seguradora de que não era uma doença preexistente — conta a irmã de Natália, Bárbara Duffles.
Segundo a irmã da arquiteta, antes de autorizar o voo, que acabou sendo cancelado, a AXA Assistence, empresa terceirizada que fornece o serviço de assistência de viagem aos portadores do cartão Visa Platinum, exigiu que a família comprovasse que Natália não sabia da doença antes de embarcar para o Peru.
— Tive de arrombar a casa da minha irmã em busca de exames anteriores. Tudo o que consegui digitalizei e enviei à seguradora. Mas, mesmo assim, eles cancelaram o traslado dela sem dar muitas explicações. Já tínhamos até conseguido uma vaga no Instituto do Cérebro no Rio, que é referência, para a operação.
Assim que ficou sabendo do estado da filha, o pai de Natália viajou por conta própria para Cuzco. A mãe dela embarcou na sexta-feira, mas com as despesas custeadas pela seguradora.
Segundo Bárbara, Natália já está consciente e até segurou as mãos dos pais. No entanto, por recomendação médica, tem evitado falar. Ela ainda não tem previsão de alta e provavelmente deve ficar pelo menos até domingo internada. A família não vê a hora de ela receber alta e voltar ao Brasil.
Atenção ao contrato
De acordo com a advogada Janaina Alvarenga, da Associação de Proteção e Assistência aos Direitos da Cidadania e do Consumidor (Apadic), uma vez caracterizado que a segurada tem condições clínicas de viajar e estando o procedimento previsto na cobertura, é dever da seguradora cumprir o contrato.
— Se a empresa garante o custeio e não está o fazendo por questões meramente financeiras, como uma possível redução de custos, caberá uma medida judicial para obrigá-la a arcar com os custos do traslado. E para que seja condenada a reparar a consumidora lesada pelos danos suportados, tanto dela quanto da família — avalia.
Por isso, antes da contratação, quem vai viajar deve verificar com muita cautela o que está sendo oferecido no contrato, orienta a advogada. Ela aconselha a ler as condições gerais, um resumo dos direitos do segurado, e a verificar a abrangência do seguro, os procedimentos e serviços incluídos.
— Também verifique qual é a empresa, se contra ela existem reclamações. E fiquem atentos, pois “promoções” nesse ramo podem ser sinônimo de serviços ruins, pois não dá para baratear o custo com serviços médicos e hospitalares — complementa Janaina.
Procurada, a Visa optou por não se pronunciar sobre o caso de Natália. A administradora de cartões alegou que não comenta casos envolvendo portadores de cartão da bandeira para não violar a privacidade dos clientes. A empresa esclareceu que o serviço prestado pelo Visa Platinum não trata-se de um seguro-saúde, mas sim de uma compensação por emergências médicas no valor de até US$ 25 mil, fornecido a quem paga todo o valor de uma passagem aérea para o exterior com o cartão.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |