segunda-feira, 8 de julho de 2013

MUNDO: Terror no jato: vendo a água, não a pista

Da FOLHA.COM
NORIMITSU ONISHI / CHRISTOPHER DREW / MATTHEW L. WALD / SARAH MASLIN NIR,
DO "NEW YORK TIMES", EM SAN FRANCISCO

O percurso de quase 11 horas através do Pacífico havia transcorrido tranquilamente e o voo Asiana 214 estava perto do aeroporto internacional de San Francisco --uma viagem sem incidentes para os 291 passageiros, entre os quais dezenas de adolescentes chineses que estavam chegando aos Estados Unidos para cursos de inglês e visitas a universidades, em suas férias de verão.
Mas, do assento 30K, Benjamin Levy sabia que havia algo de errado. Do lado de fora de sua janela, onde Levy sabia que a pista de pouso do aeroporto deveria estar visível naquele momento de aproximação, o panorama que ele via era aterrorizante: as águas da baía de San Francisco.
"O piloto acelerou as turbinas com toda potência, e voltamos a subir - ele usou força total para retomar um pouco de altitude", disse Levy, domingo (7), de sua casa, um dia depois de sobreviver ao pouso de emergência que matou duas meninas de 16 anos que eram parte do grupo de estudantes chineses, e causou ferimentos a 180 dos passageiros que retornavam da Coreia do Sul.
Josh Edelson/AFP
Boeing 777 da Asiana Airlines sofre acidente no aeroporto de San Francisco, nos EUA, durante o pouso Leia mais
"Estávamos tão perto da água que a passagem do avião fez com que ela se erguesse", conta Levy. "Havia muralhas de água visíveis da janela --antes que caíssemos em terra".
Quando os gritos pararam a bordo do Boeing 777, o avião estava pousado de barriga, sua cauda e turbinas arrancadas pelo acidente.
O diretor do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) norte-americano declarou domingo que o piloto estava se aproximando em velocidade baixa demais, demorou demais a perceber o fato e tentou abortar o pouso momentos antes da queda. O Ministério dos Transportes sul-coreano informou que o piloto, Lee Kang-guk, só tinha 43 horas de experiência no comando de um 777.
Uma porta-voz da Asiana informou que era sua primeira viagem conduzindo um 777 ao aeroporto de San Francisco. "Por enquanto, isso não deve ser citado como tivesse sido a causa do acidente", disse Chang Man-hee, um funcionário de primeiro escalão no departamento de aviação do ministério. "Lee era um piloto veterano, que estava passando pelo processo que todo piloto precisa enfrentar ao passar a pilotar um tipo novo de avião".
Em um relato dramático sobre o acidente, minuto a minuto, Deborah Hersman, presidente do NTSB, sugeriu que os tripulantes do avião não tinham percebido que uma queda era iminente até sete segundos antes do impacto, quando o gravador da cabine de pilotagem registrou um deles pedindo por um aumento de velocidade. Mas o alerta veio tarde demais.
Três segundos depois, soou um alerta de que o avião estava para entrar em estol, disse Hersman. Um segundo e meio antes do impacto, os pilotos aceleraram as turbinas a fim de obter mais potência, em um esforço para evitar a colisão. Mas antes que o aparelho conseguisse ganhar altitude, colidiu com a água poucos metros antes do aeroporto; o choque arrancou a cauda do aparelho, que depois deslizou em terra até parar, e pegou fogo.
Os comentários de Hersman, em um briefing à imprensa, baseavam-se em dados preliminares oferecidos pelo gravador de voz da cabine de pilotagem do Boeing 777 e pelo gravador de dados de voo. Outros dados, fornecidos pela FlightAware, uma companhia de capital fechado, indicavam que o avião desceu em ritmo superior ao esperado, ao perder velocidade de avanço.
Hersman enfatizou que os investigadores ainda não eram capazes de extrair quaisquer conclusões sobre a causa da colisão, mas não indicou qualquer sinal de defeito mecânico e se concentrou quase exclusivamente nas ações dos pilotos, em seus preparativos para a aterrissagem.
"Nada está definido até o momento", ela disse. "É cedo demais para descartar qualquer possibilidade".
O sábado (6) foi um dia claro, com velocidade de vento baixa, sem ventos cruzados e com visibilidade de mais de 15 quilômetros, disse Hersman. Os controladores de tráfego aéreo haviam liberado o voo da Asiana para aproximação visual - o que significa que não havia necessidade de orientação por instrumentos para o pouso.
Perto da frente do avião, o que inclui a cabine da primeira classe, alguns passageiros fugiram depois do choque carregando sua bagagem de mão. Na seção central do aparelho, onde Levy estava sentado, não havia escorregador inflável, ao contrário do que acontecia em outras saídas.
No fundo do avião, a seção mais danificada, os compartimentos de bagagem superiores se abriram e as malas caíram sobre os passageiros em seus assentos. Levy contou que viu uma mulher com a perna esmagada entre dois assentos, que haviam sido arrancados de suas bases. Levy e outros trabalharam para libertá-la.
Outra mulher, na mesma parte do avião, ficou inicialmente inconsciente depois da queda. "Ela não se mexia", contou Levy. "Eu e dois outros caras estávamos tentando ajudar, mas não conseguíamos levantá-la".
De repente, pelo buraco na cauda do avião, um bombeiro entrou correndo, apressando Levy e os demais passageiros a sair; o compartimento foi tomado pela fumaça. O jato estava em chamas.

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