terça-feira, 9 de julho de 2013

ECONOMIA: FMI revisa projeções para a economia mundial e reduz expectativa de crescimento do Brasil

De OGLOBO.COM.BR
FLÁVIA BARBOSA
CORRESPONDENTE

Números do PIB do Brasil foram consideravelmente diminuídos, tanto para 2013 (2,5%) quanto para o próximo ano (3,2%)
China, considerada motor do mundo, teve a previsão de PIB diminuída em 0,3 ponto percentual este ano, para 7,8%
Apenas o Japão recebeu uma boa notícia do FMI. Após colocar em prática ousada política monetária expansionista, previsão de crescimento saltou 0,5 ponto percentual, para 2,5%
WASHINGTON - A desaceleração maior e mais prolongada das economias emergentes, a recessão mais profunda na Zona do Euro e o impacto do aperto fiscal nos EUA jogaram água na chama da retomada da atividade econômica global, que repetirá em 2013 o desempenho arrastado de 2012. A recuperação também se antecipa modesta em 2014. Este é o cenário desapontador desenhado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou esta manhã as revisões trimestrais das projeções do relatório "World Economic Outlook (Perspectivas para a Economia Mundial)". Os números do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil foram consideravelmente diminuídos, tanto para este ano (2,5%) quanto para o próximo (3,2%).
A equipe do economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, reduziu em 0,2 ponto percentual a previsão para a expansão mundial em 2013, para 3,1%, mesmo patamar do ano passado, quando imaginava-se que a economia global reagiria com mais força este ano. Para 2014, o ajuste foi na mesma magnitude, para 3,8%.
Os maiores países emergentes, que compõem o chamado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), colaboraram decisivamente para o resultado, após sustentarem o desempenho global nos anos imediatamente após a grande crise financeira de 2008. Eles tiveram o maior corte de projeções no relatório do FMI, refletindo o esgotamento das políticas anticíclicas adotadas no auge das turbulências, barreiras internas, demanda internacional fraca e efeitos do aperto anunciado da política monetária dos EUA.
Principal nação emergente, segunda maior economia do mundo, a China teve a previsão de PIB diminuída em 0,3 ponto percentual este ano, para 7,8%, e em 0,6 ponto em 2014, para 7,7%. O FMI foi ainda mais severo com o Brasil : a previsão de expansão econômica brasileira recuou para 2,5% em 2013 (queda de 0,5 ponto percentual) e para 3,2% no ano que vem (queda de 0,8 ponto).
Na Rússia, o recuo foi de 0,9 ponto, para 2,5% em 2013, e de 0,5 ponto, para 3,3%, em 2014. As projeções para a Índia passaram de 5,8% para 5,6% este ano e de 6,4% para 6,3% no próximo. Os números da África do Sul recuaram 0,8 ponto em 2013, para 2%, e 0,4 ponto em 2014, para 2,9%.
"O crescimento continuou a desapontar nas maiores economias emergentes, refletindo, em vários graus, gargalos de infraestrutura e outros constrangimentos à capacidade (de produção), expansão mais lenta da demanda externa, preços mais baixos das commodities, preocupações com estabilidade financeira e, em alguns casos, apoio mais frágil das políticas (públicas)", escreveu o time de Blanchard, que acrescenta crescimento mais lento da concessão de crédito como outro freio.
O anúncio de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deverá começar já no fim deste ano a reduzir o seu programa de estímulo — com taxa de juros quase zero e compras mensais de títulos de US$ 85 bilhões ao mês — adicionou uma grande dose de incerteza para os países emergentes, principais receptores dos capitais que deixaram o mercado financeiro dos EUA nos últimos anos em busca de ganhos mais elevados.
Embora acredite que as turbulências recentes nos mercados financeiros emergentes representam uma reacomodação, diante das perspectivas de crescimento mais modesto e de realinhamento dos investidores, o FMI não descarta que as fragilidades domésticas e uma retirada de estímulos pelos EUA menos ordenada gerem nova rodada de volatilidade e fuga de capitais, enfraquecendo ainda mais o desempenho dos emergentes, incluindo o Brasil.
Neste caso, o Fundo chama a atenção para o fato de que a capacidade de resposta dos países pode ter diminuído, ao contrário dos primeiros anos de crise global. Há indícios de que o espaço fiscal para estimular as economias (por exemplo com desonerações) está menor; e as taxas de juros já estariam muito baixas e o câmbio, depreciado, limitando a implementação de políticas monetárias expansionistas.
Nas nações ricas, a Zona do Euro terá uma recessão mais acentuada: a contração da atividade econômica, estimada em abril em 0,4%, foi ampliada para 0,6%. O FMI continua apostando em recuperação no próximo ano, porém mais fraca. O PIB conjunto dos países que utilizam o euro como moeda deverá expandir-se 0,9%, contra o 1% projetado três meses atrás.
"A recessão na Zona do Euro foi mais profunda do que o esperado, uma vez que demanda mais baixa, confiança deprimida e balanços fracos interagiram para exarcebar os efeitos (negativos) sobre o crescimento e o impacto dos apertos fiscal e financeiro", avaliou o FMI., que recomendou a aceleração da implementação de mudanças como o saneamento do balanço dos bancos (incluindo recapitalização com recursos públicos quando necessário), a união bancária e reformas estruturais.
Nos EUA, a tesoura nos gastos implementada a partir de 1o de abril diminuiu a projeção de 2013 de 1,9% para 1,7% e a de 2014, de 2,9% para 2,7%. O cenário leva em conta que o chamado sequestro (cortes automáticos de despesas federais) ficará em vigor até 2014. O FMI acredita que o consumo das famílias e o investimento das empresas vai se fortalecer, ajudando na recuperação. Mas a instituição alerta que é fundamental para a retomada o aumento do teto da dívida americana, para o qual ainda não há acordo no Congresso. O Fundo ressalta ainda que é imperativo que os EUA comuniquem com clareza as mudanças pretendidas na política monetária.
Apenas o Japão recebeu uma boa notícia do FMI. Após pôr em prática uma política monetária expansionista, que tenta gerar inflação e estímulo ao consumo e ao investimento, a previsão de crescimento japonês saltou 0,5 ponto percentual, para 2,5%. Mas, em 2014, o país acompanhará o resto do mundo, devido à demanda global mais fraca. A projeção caiu 0,3 ponto, para 1,2%.
Segundo o time de Blanchard, o melhor caminho para a recuperação das nações ricas continua sendo a combinação de políticas de estímulo à atividade econômica no curto prazo e planos de médio e longo prazos para conter o endividamento público.

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