Do ESTADAO.COM.BR
Fernando Gallo, de O Estado de S. Paulo
Repasses à Rental Frota Distribuição e Logística foram feitos em parcelas; empresa diz que verba foi dada por ex-vereador tucano para a compra de carros
SÃO PAULO - O grupo comandado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira, repassou R$ 600 mil a uma empresa de Jayme Rincón, homem
forte do governo goiano e tesoureiro da campanha do governador Marconi Perillo
(PSDB) em 2010. Os pagamentos à Rental Frota Distribuição e Logística foram
divididos em três parcelas de R$ 200 mil e depositados em 29 de julho, 1.º e 2
de agosto de 2011.
A CPI do Cachoeira ouve nesta terça-feira, 12, Perillo, cujo
nome aparece em várias escutas telefônicas da Operação Monte Carlo da Polícia
Federal, que investiga os negócios do contraventor e suas ligações com agentes
públicos.
Embora esteja formalmente afastado da empresa desde janeiro de 2011, Rincón
detém 33% de suas cotas. Ele diz desconhecer o repasse. Já a Rental os confirma.
Sustenta, porém, que os pagamentos se referiam à venda de 28 veículos usados, no
valor de R$ 600 mil, ao braço direito de Cachoeira, o ex-vereador tucano
Wladimir Garcez. Ela nega que o valor tenha sido repassado diretamente a
Rincón.
A Rental declarou ainda que, em função de "normas internas", não pôde
fornecer à reportagem cópia do contrato, mas que ele foi "devidamente
contabilizado e arquivado na empresa".
O valor e as datas dos depósitos coincidem com um empréstimo que Cachoeira
afirmou ter feito a Rincón, hoje presidente da Agência Goiana de Transportes e
Obras Públicas (Agetop), em conversa gravada pela PF. Em 1.º de agosto, a PF
resumiu um diálogo entre o contraventor e o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste
Cláudio Abreu: "Carlinhos diz que emprestou R$ 600 mil para Rincón. Diz que vai
pagar 100 por mês". A conversa foi revelada pelo Estado em 27 de abril.
Naquele mesmo dia, Rincón emitiu nota na qual negava ter recebido de Garcez
ou Cachoeira. "Nunca recebi um centavo do sr. Wladimir Garcez e muito menos do
sr. Cachoeira, pessoa que vi apenas duas vezes na vida."
Escutas da Monte Carlo sugerem que a operação foi coordenada por Garcez e
Cachoeira e executada por Geovani Pereira da Silva, apontado pela PF como
contador do grupo do contraventor.
Em 27 de julho, dois dias antes do primeiro depósito, a PF resumiu um diálogo
entre Garcez e Geovani referente a uma conta bancária, o CNPJ da empresa e o
valor dos repasses: "BB; AG 3388-X; C/C 6751-2; nome: Rental Frotas Distribuição
Logística Ltda. CNPJ 97.45.68110001-90. Valor: 200, 200 e 200, para não dar
aquela complicação. Geovani fala que sim, que não tem nota".
Em 1.º de agosto, dia do segundo depósito, Cachoeira fala com Geovani.
"Aquele que você fez o depósito, quanto ele depositou sexta? Aquele rapaz, e
hoje? E amanhã, fica faltando quanto?", pergunta o contraventor. "200, 200, e
amanhã finaliza", responde o contador. Cachoeira, então, pergunta: "Você
depositou em nome de quem?". Geovani responde: "Rental Frota Ltda.".
A empresa diz que firmou contrato com Garcez em 7 de junho, e que o prazo
para a quitação era de 45 dias.
Casa. À CPI Garcez disse que comprou a casa de Perillo onde
o contraventor foi preso, mas disse que a vendeu em seguida por não ter dinheiro
para pagá-la. A venda foi registrada em 13 de julho de 2011, período em que a
Rental diz que ele comprou os carros. O advogado de Garcez, Ney Teles, disse que
já "ouviu falar" da operação, mas não teria condições de confirmar dados antes
de conversar com o ex-vereador, que está preso. Teles deve se encontrar hoje com
Garcez.
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