Do blog do NOBLAT
Rubens Valente, UOL
O relator da CPI dos Correios (2005-2006), deputado federal Osmar Serraglio
(PMDB-PR), foi à tribuna da Câmara nesta quarta-feira (13) para enumerar o que
chamou de "a dúzia de provas" da participação do ex-ministro da Casa Civil, José
Dirceu (PT-SP), no esquema do mensalão.
A CPI relatada por Serraglio investigou o esquema entre 2005 e 2006 e sugeriu
o indiciamento de Dirceu, dentre outros parlamentares.
Serraglio disse estar "farto da alegação de que o mensalão é fantasia". A
gota d'água, segundo ele, foi um artigo assinado pelo produtor de cinema Luiz
Carlos Barreto, publicado ontem na *Folha", sob o "Por qué no lo matan?", que
faz a defesa de Dirceu.
"Certamente me amofina essa cantilena repetida de que o 'mensalão' fora uma
farsa, como se a investigação não se realizou por parlamentares dos mais
diversos matizes político-partidários", discursou o deputado.
"Ainda agora assistimos José Dirceu concitando os jovens a se manifestarem
diante de sua inocência", discursou o deputado.
O deputado listou os seguintes indícios coletados tanto pela CPI quanto pelo
processo do mensalão, que poderá ser levado a julgamento no STF (Supremo
Tribunal Federal) no segundo semestre deste ano:
1) à época em que Dirceu era ministro, "nada ocorria sem o beneplácito do
super-ministro, como era chamado na imprensa e nos corredores do poder";
2) Roberto Jefferson, líder do PTB, "confessa que tratou por mais de dez
vezes do mensalão com Dirceu";
3) o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza "afirmou que
ouviu de Delúbio [Soares, ex-tesoureiro nacional do PT e da campanha
presidencial de Lula em 2010], que Dirceu deu 'aval' aos empréstimos bancários
que alimentaram o mensalão;
4) a mulher de Valério "assentou que Dirceu se reuniu com o presidente do
Banco Rural no Hotel Ouro Minas para acertar os empréstimos do banco";
5) Valério "arrumou emprego para a ex-mulher de Dirceu no [banco] BMG em São
Paulo";
6) um sócio do publicitário se "tornou 'comprador' do apartamento da
ex-mulher de Dirceu em São Paulo";
7) Valério "afirma que foi quem ajustou a audiência havida entre os diretores
do BMG e o ministro Dirceu";
8) segundo Valério, "Silvio Pereira [ex-secretário nacional do PT] lhe disse
que José Dirceu sabia dos empréstimos junto aos bancos";
9) a presidente do Banco Rural "declarou que Valério era um 'facilitador' das
tratativas com o governo" e "disse mais, que 'Dirceu foi a única pessoa do
governo com quem ela falou" sobre o interesse do Rural relativo à aquisição de
parte do Banco Mercantil de Pernambuco;
10) o ex-deputado Jefferson "afirmou que, por orientação de Dirceu, houve
encontro no Banco Espírito Santo, em Portugal, à busca de R$ 24 milhões";
11) o ex-tesoureiro do PTB, "Emerson Palmieri relata que todas as tratativas
eram ratificadas, ao final, por Dirceu;
12) a ex-secretária de Valério na agência de publicada em Belo Horizonte
(MG), Karina Somaggio, "testemunhou que Valério mantinha contatos diretos com
José Dirceu".
Serraglio disse que a CPI ajudou a "abrir o caminho" para a eleição de Dilma
Rousseff, em 2010, como sucessora de Lula, ao enfraquecer Dirceu, nome natural
dentro do PT, antes do escândalo, para uma eventual candidatura à
Presidência.
"De fato, na época, parecia que estávamos sob sistema parlamentarista. José
Dirceu, ambiciosa super-ministro, capitão do time, primeiro-ministro,
inteligente e mefistofelicamente, confinava o migrante de Garanhuns [Lula] à sua
dimensão sindical, tutelando-o, como se lho devesse ser o sucessor mais do que
natural, inexorável, razão por que já atapetava a caminhada, fazendo-se
onipresente e onisciente nas grandes decisões nacionais".
O ex-relator disse que a "CPI dos Correios não se converterá em pizza. Nosso
Judiciário não tem vocação para isso".
Durante o discurso de Serraglio, os deputados da base aliada não apareceram
para apartes --apenas dois parlamentares se manifestarem, em apoio a
Serraglio.
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