Por Alberto Tamer - O Estado de S.Paulo
A economia mundial e o Brasil não devem crescer mais de 2,5% este ano,
precisam com urgência de um novo Plano Marshall de investimentos em grandes
obras para gerar demanda e emprego. Isso deveria ser decidido na próxima reunião
do G-20, na qual os países apresentariam uma série de projetos de grandes obras
que, mesmo adiáveis, seriam iniciadas rapidamente. A China fez isso na crise de
2008, os Estados Unidos tentaram, mas não havia projetos prontos.
O Plano Marshall para reconstruir a Europa devastada pela guerra foi
anunciado em junho de 1947 - completa 65 anos este mês - e foi uma das
iniciativas mais bem-sucedidas para enfrentar a recessão mundial ainda abalada
pela depressão dos anos 30.
Agora é diferente? Sim e não. Em 1947, não havia mercado,
mas havia recursos. Hoje não há nem um nem outro. O que existe hoje é ainda a
consequência da crise financeira de 2008: os sinais de recessão, o endividamento
excessivo dos países e um sistema financeiro ameaçado pela crise da zona do euro
sem sinais de solução graças à intransigência da Alemanha. A partir de 2008, os
bancos centrais americano e europeu injetaram no mercado mais de US$ 3 trilhões
conseguindo apenas socorrer os bancos e um agravamento nefasto da crise
financeira sem estimular a economia. Como a inflação média nos países
desenvolvidos é apenas 2,5%, podem criar mais dólares e euros destinados a
projetos produtivos, que gerem mais empregos.
Mas há dinheiro? Sim. Existe hoje o que não havia antes,
liquidez no sistema, fuga do risco com busca de investimentos mais seguros e em
produção. Há também as grandes empresas que já apresentam lucros e mostram
sinais de que estão dispostas a investir. É só preciso mais oportunidades e
projetos. Exagero da coluna? Não. A Unctad, num acompanhamento cuidadoso em mais
de 200 empresas multinacionais, estima que neste ano os investimentos diretos
estrangeiros no mundo devem chegar a US$ 1,7 trilhão. A América Latina é a que a
atrai mais atenção das grandes empresas.
Há US$ 20 trilhões. A consultoria MacKinsey estima que nos
próximos 10 anos será necessário investir US$ 10 trilhões. "Os fundos de pensão
dispõem no momento de mais de US$ 20 trilhões de ativos globais, e não
conseguirão encontrar projetos suficientes e seguros para investir", afirma seu
diretor, Dominic Barton. Os investimentos em infraestrutura são perfeitos, mas
com retorno de longo prazo, que exigem estabilidade regulatória.
Um Marshall no Brasil. Há, portanto, US$ 20 trilhões
disponíveis lá fora. Desses, pelo menos US$ 10 trilhões para projetos de países
em desenvolvimento ou emergentes, como o Brasil, avalia a MacKinsey. Ao mesmo
tempo em que tenta desentravar os investimentos, o governo deveria favorecer de
todas as formas as maiores empresas, nacionais e estrangeiras, para executarem
grandes projetos
Privatizar. "É preciso deslanchar um programa de
privatizações, algo que fosse visto como crível ajudaria as empresas a
investirem, como a dedução da carga tributaria", afirma Armando Castelar, da
FGV. No fundo, o que ele propõe é um Plano Marshal para o Brasil, atraindo parte
dos US$ 20 trilhões para um país onde tudo está por construir.
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