Por JOÃO BOSCO - ESTADAO.COM.BR
O desmoralizante desmentido oficial ao ministro da Agricultura, Mendes
Ribeiro, desnuda a estratégia da presidente Dilma Rousseff de voltar a negociar
o Código Florestal, em bases bem menos radicais, após a Rio+20.
A irritação do Planalto foi muito mais pela indiscrição de Mendes do que pelo
conteúdo de sua declaração. Afinal, o que o ministro disse é o que já se intuía
desde a edição da Medida Provisória com a qual o governo ganhou tempo para
conter a pressão ambientalista às vésperas do evento mundial: é inevitável a
volta à mesa de negociações com o governo mais flexível em algumas posições
constantes da MP.
É, portanto, o que se pode chamar de radicalismo de ocasião, desta vez
direcionado aos ruralistas. Antes, Dilma já o usara contra os ambientalistas, no
dia 4 de abril, em discurso no Palácio do Planalto, durante o Fórum do
Clima.
Ao se referir à participação do Brasil na Rio+20, ela disse aos presentes que
o mundo real não trata de tema “absurdamente etéreo ou fantasioso”. “Ninguém
numa conferência dessas também aceita, me desculpem, discutir a fantasia. Ela
não tem espaço para a fantasia. Não estou falando da utopia, essa pode ter,
estou falando da fantasia”, afirmou.
A declaração tinha endereço certo: os ativistas empenhados em impedir a
construção de usinas hidrelétricas na Amazônia. E o recado não podia ser mais
claro: o governo não mudará seu projeto de aumento da oferta de energia e
desenvolvimento da região.
Agora, os vetos ao Código aprovado pela Câmara, a MP que o modifica e o
discurso contra a produção predatória blindam a presidente de manifestações mais
hostis durante a Rio+20. Passado o evento, tudo volta a ser como antes no
quartel de Abrantes.
O impasse continua a existir, a maioria que rejeita as posições
ambientalistas é coesa e suprapartidária e o processo de negociação passa
necessariamente por ela.
Se o governo quiser agradar a gregos e troianos vai correr todos os riscos de
uma nova derrota, especialmente no momento em que há outras contrariedades na
base aliada com potencial para ampliar o placar negativo em votações de
interesse do Planalto.
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