Por CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Há pelo menos dois meses, dirigentes da Indústria vêm poupando críticas e
reforçando elogios à política do governo Dilma.
Entendem, por exemplo, que providências tomadas no câmbio estão melhorando os
preços dos produtos exportados e ajudando a indústria a competir no mercado
interno. No entanto, em comparação com os praticados no exterior, os preços no
Brasil continuam altos demais. Qualquer brasileiro que volta do exterior pode
dar testemunho disso. E o que as famílias conseguem trazer de lá em confecções e
aparelhos eletrônicos, apenas por uma fração do que pagariam aqui, segue a
enervar os produtores no Brasil. Depois de tudo, a alta do dólar acumulada no
câmbio interno nestes quase quatro meses de 2012 não passa de 0,75%.
Os mesmos dirigentes olham para os juros em queda e ponderam que um dos mais
graves fatores do custo Brasil está sendo puxado para baixo. Mas, para quem
recorre a bancos, essa redução é insignificante. Em dezembro, por exemplo, os
bancos cobravam 17,4% ao ano nos empréstimos de capital de giro e 20,6% ao ano
nas operações de conta garantida. Ao final de março, estavam, respectivamente,
em 16,4% e 20,6%.
Os líderes da indústria apoiaram as novas regras para o setor de veículos -
que, em tese, favorecem inovações - e o segmento de autopeças. Mas, ao mesmo
tempo, sabem que os automóveis brasileiros se mantêm absurdamente mais caros do
que os vendidos no exterior e, em alguns casos, não passaram do nível das
carroças denunciadas pelo presidente Collor há 22 anos.
Os empresários aplaudiram a desoneração das folhas de pagamento para 15
setores como um passo, ainda que insatisfatório, na direção correta. E, no
entanto, as primeiras informações dão conta de que, em média, a desoneração
proporcionou uma redução de custos de somente 2% e 5%, dependendo do setor
analisado.
Os mesmos dirigentes acabam de elogiar a decisão do Senado de terminar com a
guerra dos portos, que até o final deste ano favorecerá a entrada de produtos
importados em detrimento dos fabricados no País. Mas eles sabem que a guerra
fiscal prossegue em outras modalidades Brasil afora.
Tudo isso é pouco para devolver competitividade ao setor produtivo nacional -
e não só à indústria. Os impostos permanecem altos demais, a tarifa da energia
elétrica é a quarta mais cara do mundo e a infraestrutura, ruim ou
inexistente.
A presidente Dilma vem argumentando que as coisas estão sendo feitas dentro
do politicamente viável. Esse fatiamento - tipo salaminho - possivelmente é o
mal maior, porque passa uma temporária sensação de melhora das condições
produtivas. No entanto, é uma melhora proporcionada pelo eterno provisório,
denunciado por esta Coluna em outras edições. São decisões meia-boca que, ao
contrário do que tanto se diz, vêm na direção errada, à medida que adiam
soluções definitivas ou dispensam o que tem de ser feito para garantir o futuro
do setor produtivo nacional.
É nesse sentido que seria melhor que tudo piorasse radicalmente, para que
pudesse gerar o choque necessário para as verdadeiras viradas. Quando enaltecem
essas meias soluções, os dirigentes dos empresários, na verdade, trabalham para
acentuar o processo que eles chamam de desindustrialização do Brasil.
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