terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

COMENTÁRIO: A violência na Bahia

Por SAMUEL CELESTINO

O governo do estado passou a se preocupar mais intensamente com a crescente violência na Bahia quando ficou claro que passamos a ser um das unidades com maior índice de criminalidade no País, incluindo Rio e São Paulo, que começaram a contabilizar percentuais menores. A grande Recife também anotou, de igual modo, queda vigorosa nos seus percentuais. A liderança permaneceu com a pequena Alagoas que, de há muito, é um dos estados mais violentos da Federação, se não for o mais.Tanto na Capital, como em toda a região metropolitana e, de forma acentuada no interior, com roubos e assaltos a bancos, os números passaram a preocupar à população. E ao governo. Salvador exibiu índices que nunca fizeram parte das suas tradições, sepultando o carinhoso rótulo de “A boa terra,” uma referência à tranqüilidade que ofertava a seus visitantes. Coisa do passado.
Para tentar estancar o processo, Jaques Wagner demitiu dois secretários de Segurança e dois comandantes da Polícia Militar, mas, neste último caso, um foi expurgado por corrupção flagrada e, o segundo, por tempo na corporação. Foi para a reserva. No último ano, o terceiro secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, elaborou projetos para pacificar favelas comandadas pelo crime organizado e para combater com eficácia a violência. Em entrevista, Barbosa anunciou os primeiros resultados positivos da ação da SSP. Todo esse esforço, no entanto, desmoronou com o amotinamento de parte das tropas da PM.
Agora, não há outra saída para o governo senão começar tudo de novo e, mais ainda, se relacionar com os sublevados da Polícia Militar, já que se estabeleceu um distancionamento de um lado e outro. Os amotinados projetaram sobre a PM uma imagem negativa e sobre a administração estadual o ônus da derrota por eles sofrida. O que o estado concedeu para o retorno à normalidade poderia ser conquistado perfeitamente na mesa de negociações. No entanto, liderados por profissionais de pouco conceito, começaram o motim sem que provocassem, antes, um processo de acordo negociado. O governo não recuou.
Surge, neste ponto acima, um questionamento que pode se transformar num entrave: a ausência de confiança que abala, por ora, governo e PM. Está, também, presente na população de modo geral. Esta perda de confiança é, portanto, geral. Se atinge policiais militares e o governo, há sinais claros de que pode chegar,em ano eleitoral, ao Partido dos Trabalhadores, como temem os integrantes da legenda. Aqueles que têm os pés no chão, que conhecem os meandros da política e não os que passeiam pelas nuvens construindo mentiras para transformá-las em entrevistas.
O que se passou na Bahia foi acompanhado pela mídia nacional. O Estado de S.Paulo, por exemplo, anotou que a “greve que a Polícia Militar da Bahia vinha promovendo desde o dia 31 não ajudou a diminuir os homicídios na Região Metropolitana de Salvador.” Expôs dados da Secretaria de Segurança Pública, e noticiou que, na madrugada de domingo ultimo, houve 13 assassinatos na região – 9 na capital. Os números são idênticos aos da sexta-feira e seguem a média dos últimos cinco dias na região, de 12,8 casos. “Desde o início da greve, foram 178 assassinatos na região, média de 14,8 homicídios diários, mais que do que dobro da registrada no período imediatamente anterior ao início da greve, de 6,7 casos por dia.” O jornal afirma que os crimes cometidos fazem de fevereiro, ainda na metade, “o mais violento na região desde que começou a ser aplicada, pela SSP, a atual metodologia de estatísticas, em 2009. No ano passado, durante todo o mês, foram registrados 171 homicídios na região, ante 172 em 2010 e 144 em 2009.”
Desconfia-se, no entanto, que os crimes do período do levante podem ter sido cometidos pela atuação de grupos de extermínio, com a participação de policiais e de ex-policiais militares. Esse tipo de delito, que vem sendo combatido sistematicamente no Rio de Janeiro (e é uma das razões da diminuição da criminalidade naquele estado) normalmente se registra na periferia da cidade. São crimes de mando, sob contrato de comerciantes que se sentem vulneráveis aos assaltos, que são conseqüência da ausência ou do policiamento insatisfatório.
No pós-motim, o governo do Estado tem diante dele o desafio do Carnaval (que não deverá, espera-se, ter maiores problemas em relação à segurança, repetindo anos anteriores), mas o pior será depois. Cumprirá ao governo rever onde errou, onde houve falhas e reiniciar, literalmente reiniciar, o combate à violência na Bahia. Espera-se que a Polícia Militar baiana, com a tradição de um século de fundada, tenha dela consciência para cumprir com os seus deveres. O governo tem a obrigação, ainda, de refletir sobre os vencimentos dos policiais. Se o que pode oferecer durante o motim foi a proposta afinal aceita, é preciso que projete para orçamentos futuros melhores condições para o seu corpo policial, militar e civil. Sem ceder, porém, no item que se refere à disciplina e ao respeito à hierarquia, base de todas as forças que utilizam armamentos de propriedade do estado para proteger a cidadania.

*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta terça-feira (14)

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