sexta-feira, 29 de abril de 2011

ARTIGO: Certidão de nascimento de Obama expõe herança de ódio racial nos EUA

Do UOL

Por Luiz Felipe de Alencastro

A publicação pela Casa Branca do certificado completo de nascimento de Barack Obama parece uma atitude desproporcional. Como duvidar, nesta altura dos acontecimentos, da autenticidade de documentos verificados e comprovados na sua carreira de professor universitário e nos registros dos mandatos eleitorais que ocupou desde 1997 até agora, no Senado de Illinois, no Senado Federal e, finalmente, na presidência do país?
No entanto, há muita gente nos Estados Unidos acreditando que seu presidente apresentou documentos falsos e que, na realidade, ele nasceu no Quênia, terra de seu pai. Uma sondagem do jornal "The New York Times" realizada três semanas atrás mostrou que 25% dos americanos e 45% dos eleitores do partido republicano acreditam que Obama nasceu no estrangeiro.
Como se sabe, esta balela, espalhada desde a campanha presidencial de 2008, foi de novo propagada recentemente pelo milionário Donald Trump, alegadamente candidato à eleição presidencial do ano que vem. Tais foram os motivos que levaram a Casa Branca a publicar o original do atestado do nascimento de Obama no Hawai.
É certo que o núcleo duro dos “birthers” - os americanos que questionam a nacionalidade de Obama - vai continuar duvidando. Na internet já correm afirmações sustentando que a certidão apresentada é forjada (veja-se por exemplo o site
www.birthers.org). Apresentando o documento, o próprio presidente sublinhou que falava a contragosto "destas besteiras" espalhadas por "camelôs de festa forense", admitindo ainda que, a despeito da certidão publicada, haveria sempre "um segmento da população" duvidando de sua certidão de nascimento.
Segundo os jornalistas de Washington, esta foi uma das únicas vezes em que Obama, conhecido por sua calma, pareceu irritado ao falar em público. Na realidade, como a maioria dos observadores políticos, Obama sabe que a campanha dos "birthers", através do questionamento de sua nacionalidade, procura deslegitimar e, eventualmente, invalidar sua eleição à presidência.
Como escreveu David Remnick na revista "The New Yorker", dois anos depois das eleições, há ainda gente nos Estados Unidos que não se conforma que um negro esteja presidindo o país. E Remnick completa: o que Donald Trump fez foi um ato consciente de incitação ao ódio racial ( "a conscious form of race-baiting").
Mas é possível refletir numa perspectiva mais longa, mais enraizada na história dramática e gloriosa dos Estados Unidos: 150 anos depois do início da Guerra da Secessão que ensanguentou o país e eliminou a escravidão no Sul, um segmento expressivo do eleitorado americano ainda dá livre curso a manifestações explícitas de ódio racial.

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