quinta-feira, 17 de outubro de 2019

POLÍTICA: Líder do PSL na Câmara diz que vai implodir Bolsonaro, mostra áudio do deputado

FOLHA.COM
Talita FernandesCatia Seabra
BRASÍLIA e RIO DE JANEIRO

Declaração foi dada em meio a briga entre a ala do PSL ligada ao presidente e a ala ligada a Bivar

Em meio ao racha do PSL, o deputado Delegado Waldir (GO), líder do partido na Câmara, foi gravado dizendo que vai implodir o governo de Jair Bolsonaro (PSL).
"Vou fazer o seguinte, eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo", disse o deputado.
A Folha teve acesso ao áudio, revelado pelo site R7. A conversa foi gravada no gabinete do deputado nesta quarta-feira (16).
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) admitiu ter gravado a conversa. Segundo Silveira, "Bolsonaro ficou surpreso e não esperava que houvesse um grupo tão coeso articulado com o centrão".
Silveira disse ainda que não divulgou a conversa, cuja gravação fora encaminhada por ele a outros deputados ligados ao presidente, incluindo seu filho e também deputado Eduardo Bolsonaro.
"A gente tem que preservar o presidente", disse Silveira, defensor da permanência de Bolsonaro no PSL desde que o partido seja alinhado ao presidente da República.
O áudio, de duração de nove minutos, traz uma série de reclamações dos deputados sobre a interferência do presidente na liderança do partido. 
O deputado Felipe Francischini (PR) reclamou que Bolsonaro agora quer tomar a liderança de um partido que ele só fala mal. 
"Ele começou a fazer a putaria toda falando que todo mundo é corrupto. Daí ele agora quer tomar a liderança do partido que ele só fala mal?", afirmou.
Vários deles se queixam da reunião no Palácio do Planalto, em que o presidente teria pressionado os deputados a assinarem uma lista para destituir o Delegado Waldir da liderança. 
A deputada Professora Dayane Pimentel (BA) diz que não foi ao encontro porque sabia que isso aconteceria. "Eu não fui por isso."
Um outro parlamentar comenta o fato de que o presidente foi gravado no Planalto e chama ele de burro. 
"Pior que o presidente foi gravado. É burro. Foi gravado. Como é que o presidente é gravado?", diz.
O grupo de deputados do PSL também demonstra insatisfação com o tratamento do Planalto.
"Eu nunca fui tão assediado como agora, tá? O Palácio nunca ligou tanto para mim, desde a minha posse", diz um deles. 
Um integrante da bancada diz que os deputados do PSL foram tratados como "cachorro" desde que Bolsonaro foi eleito.
"O que a gente está passando? A gente foi tratado que nem cachorro desde que ele ganhou a eleição. Nunca atendeu a gente em porra nenhuma."
DERROTAS DE BOLSONARO
Nesta quinta-feira, o presidente Bolsonaro sofreu duas importantes derrotas, em meio à crise deflagrada entre ele e o presidente nacional do PSL, o deputado Luciano Bivar (PE).
A primeira derrota foi a permanência do Delegado Waldir (GO) como líder do PSL na Câmara. Um dia antes, com a ajuda de Bolsonaro, aliados do Palácio do Planalto tentaram destituir Waldir do cargo e substituí-lo pelo deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente Bolsonaro. 
Antes de confirmar a permanência de Waldir, a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados conferiu as assinaturas das três listas protocoladas na noite de quarta-feira (16), duas delas apresentadas pela ala bolsonarista do PSL. Segundo deputados, o presidente atuou pessoalmente para influir no processo.
Em outro capítulo da guerra aberta no PSL, Bivar destituiu Eduardo e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, dos comandos da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Outra aliada de Bolsonaro, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) também foi removida da presidência do PSL do Distrito Federal.
Num contragolpe, contrariado com o fato de a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) ter assinado a lista de apoio à manutenção de Delegado Waldir como líder do partido, Bolsonaro decidiu retirar a parlamentar da liderança do governo no Congresso. Ela deve ser substituída pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO), que é vice-líder. 
Nas redes sociais, Fabio Wanjgarten, secretário especial de Comunicação Social da Presidência, publicou um tuíte, sem mencionar a crise do PSL, destacando a "força popular" de Bolsonaro.
"Não é exagero falar que muitos só estão onde estão por causa do presidente. Jamais teriam saído da irrelevância sem a força popular dele. Dizer que nunca foram ajudados é negar a própria origem. Lealdade e gratidão podem ser esquecidas quando convém, mas não pelo povo", escreveu.

Em abril, o presidente Jair Bolsonaro e o deputado Delegado Waldir (PSL-GO) - Pedro Ladeira/Folhapress

O esquema de candidaturas laranjas do PSL, caso revelado pela Folha em uma série de publicações desde o início do ano, deu início a atual crise na legenda e tem sido um dos elementos de desgaste entre o grupo de Bivar e o de Bolsonaro, que ameaça deixar o partido
O escândalo dos laranjas já derrubou o ministro Gustavo Bebianno, provocou o indiciamento e a denúncia do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e levou a uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal a endereços ligados a Bivar em Pernambuco.
Na semana passada, diante disso, Bolsonaro requereu a Bivar a realização de uma auditoria externa nas contas da legenda. A ideia tem sido a de usar eventuais irregularidades nos documentos como justa causa para uma desfiliação de deputados da sigla, o que evitaria perda de mandato. O episódio, no entanto, criou uma disputa interna na sigla, com a ameaça inclusive de expulsões.
A aliados Bolsonaro tem dito que só oficializará a saída do PSL caso consiga viabilizar a migração segura de cerca de 20 deputados do PSL (de uma bancada de 53) a outra sigla.
Nos bastidores, esses parlamentares já aceitam abrir mão do fundo partidário do PSL em troca de uma desfiliação sem a perda do mandato. A previsão é de que o PSL receba R$ 110 milhões de recursos públicos em 2019, a maior fatia entre todas as legendas.
A lei permite, em algumas situações, que o parlamentar mude de partido sem risco de perder o mandato —entre elas mudança substancial e desvio reiterado do programa partidário e grave discriminação política pessoal.

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