sexta-feira, 18 de outubro de 2019

POLÍTICA: Líder do PSL acusa Bolsonaro de 'comprar' com cargos eleição de Eduardo como líder

OGLOBO.COM.BR
Bruno Góes e Naira Trindade

Em entrevista ao GLOBO, Delegado Waldir fala sobre a guerra interna no partido e que vai pedir a cassação do mandato de seis deputados

O lider do PSL na Câmara, o deputado Delegado Waldir (PSL-GO) Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

BRASÍLIA - O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), disse nesta sexta-feira, em entrevista ao GLOBO, que o presidente Jair Bolsonaro tentou comprar com cargos votos na disputa interna do partido para eleger Eduardo Bolsonaro para o seu lugar. Ele disse também que a legenda vai pedir a cassação do mandato de seis deputados federais do partido que estão no grupo dos bolsonaristas.
Segundo Delegado Waldir, existem grupos de milícias virtuais "contratados que foram levados para dentro do Palácio do Planalto" e que, no momento, ele é a "pessoa mais odiada por esses grupos de direita".
Em um áudio vazado para a imprensa, o senhor chamou o presidente Jair Bolsonaro de ‘vagabundo’...
Eu não menti.
Mas por que o senhor chama o presidente de vagabundo?
Eu sou um dos quatro votos que ele teve quando disputou a presidência da Câmara. O filho dele estava surfando e eu estava votando nele. Desde aquela época, ele já construía a candidatura à Presidência, e eu estava ao lado dele. Depois, ano passado, quando ele foi para o PSL, eu fui um dos oito parlamentares que foram com ele. Eu abri mão de R$ 2,5 milhões que teria no PR para acompanhá-lo. Fui eu que segurei todas as pautas econômicas que iam explodir no início do governo dele. Era final do governo Temer e eu, sozinho em plenário, como líder que estava naquele momento, segurei as pautas-bomba. Andei em 246 municípios de Goiás no sol, arriscando a minha vida em cima de um carro de som, pedindo votos e gritando o nome dele.
O que é a chave do cofre citada pelo senhor?
A chave do cofre é o fundo partidário. Nós temos eleições o ano que vem, e o presidente da República quer tomar a chave do partido. Não foi esse o combinado. Ele combinou com o presidente Bivar que queria apenas o partido para se candidatar a presidente. Luciano Bivar fez isso, e agora ele (Bolsonaro) quer tomar o partido, o controle de todos os diretórios do país e controlar todos os recursos financeiros da campanha eleitoral que vai acontecer no ano que vem.
Mas hoje o controle dos diretórios já está na mão do Bivar?
Sim, mas o presidente Jair Bolsonaro pediu o controle integral, e que o presidente Bivar fique apenas como presidente honorífico.
O senhor tem mais áudios para “implodir” o presidente Bolsonaro?
Não, não tenho nenhum áudio do presidente. O áudio que eu falei foi sobre o diálogo que o Brasil todo ouviu, em que ele tenta comprar a eleição do filho dele para líder do PSL na Câmara, dizendo que os partidos têm muitos cargos, com fundo partidário, e que ele precisa do controle de tudo isso. É um áudio bombástico.
O senhor acusa o presidente de comprar votos. Pensa em entrar com alguma medida na Câmara?
Isso quem tem que decidir é o Parlamento e os partidos, se entenderem que é motivo para pedir um impeachment. A gravação é clara. E mais: ontem (quinta-feira), os ministros da Educação, Abraham Weintraub, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, estavam ligando para parlamentares, pedindo para colocar Eduardo como líder do PSL. É justo isso?
Por que o senhor acha que o presidente mudou a conduta em relação ao senhor?
Não estou numa briga pessoal. Estávamos extremamente pacíficos e quietos, mas em razão da conduta do presidente de agredir Luciano Bivar e em seguida mandar a Polícia Federal avançar em uma investigação que já caminhava há oito meses. Busca e apreensão se faz no início da investigação. Não precisa ensinar ninguém a fazer investigação. Não se faz oito meses depois da investigação iniciada. É um grande circo. Está usando o governo para tentar perseguir pessoas próximas a si. Não podemos esquecer também que ele chutou Bebianno (Gustavo, ministro-demitido), Santos Cruz (ministro demitido) e Magno Malta (senador cotado para ministro e escanteado). Muitas pessoas que estavam com ele levaram chute no traseiro.
Como fica a situação dos 5 deputados suspensos? Não podem assinar listas para mudar a liderança...
Não, não podem. Nós vamos pedir também, representando no Conselho de Ética, a cassação do mandato desses cinco parlamentares. Além de pedir a cassação do mandato também do deputado que fez a gravação. (O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) assumiu a autoria da gravação) . Ele não atacou o Delegado Waldir. Ele atacou o parlamento.
Então, seis parlamentares vão parar no Conselho de Ética da Câmara?
Cinco numa ação e um em outra ação. São condutas diferentes, mas de quebra do decoro parlamentar. Ele (Daniel Silveira) ofende todo o Parlamento. Todos os 512 deputados. Ele não ofende o Delegado Waldir. Ofende todo o parlamento, quando grava os colegas em reunião privada. Ele está pensando que, por ser policial militar, por ser P2 (policial infiltrado), que ele pode tudo? Ele não pode rasgar a Constituição, não pode rasgar o Conselho de Ética da Câmara. Pediremos a punição dele sim.
Por que os cinco não foram expulsos imediatamente e por que o pedido de cassação vai ser feito lá na Câmara?
Porque nós não vamos dar o que eles mais querem neste momento (a expulsão). Nós iremos aplicar a lei. O regimento da Câmara. O estatuto do Conselho de Ética do partido, que prevê regras. Queremos dar garantias para ampla defesa, do contraditório, e usar os meios legais que nós tivermos, sem nenhuma pressa. Cada um é responsável pela sua conduta. Cada um praticou atos passíveis de punição. Não tem perseguição. Cada um será punido por aquilo que falou, por aquilo que escreveu e pelos ataques que fez nas redes sociais. Cada um responde por sua conduta.
Como funcionam essas milícias virtuais?
Existem grupos contratados que foram levados para dentro do Palácio do Planalto, existem pontos comandados do Rio de Janeiro. Eu mesmo estou sendo vítima dessas milícias. Esses grupos são contratados para destruir a honra e a moral das pessoas. Neste momento, sou a pessoa mais odiada por esses grupos de direita.
Quem faz parte desse grupo?
Não sei.
O senhor pretende tomar alguma medida contra essas milícias?
Vamos avançar na CPMI das Fake News. Espero que a Polícia Federal seja independente e o doutor Sérgio Moro seja independente e abra investigação. Eu vou pedir investigação ao ministro da Justiça e eu ao presidente da Câmara. Vou abrir minhas redes sociais para descobrirem quem são esses agressores que estão atacando a imagem das pessoas.
O senhor vê participação dos filhos do presidente nesses ataques das redes sociais?
O Carlos foi o coordenador da campanha presidencial das redes sociais. E o governo estava apavorado com a CPMI das Fake News, porque poderia atingir o filho do presidente.
O senhor vê o Carlos como responsável?
Não posso falar isso.
Neste ponto, a ligação cai e os repórteres pedem para fazer uma ligação normal, já que a ligação inicial era por meio do WhatsApp.
Vai estar sendo gravada, né, com certeza alguém vai estar escutando nós do outro lado, porque meu telefone está grampeado e tem um corno escutando a nossa conversa nesse momento.
O senhor associa esse grampo ao governo Bolsonaro?
Não sei quem, mas neste momento tem alguém escutando o que estamos falando.
Ficou decidido na reunião de hoje destituir Flavio e Eduardo Bolsonaro dos diretórios?
Na verdade, na reunião de hoje saiu a decisão de que os parlamentares de São Paulo e Rio irão se reunir e irão propor soluções às perseguições e má gestões que estão acontecendo neste momento no diretório. Gravíssimo momento. Então é muito estranho pedir transparência, quando você não investiga o seu próprio quintal.
O senhor teme que a Polícia Federal bata na sua porta?
Eu não devo nada. Vão bater lá para fazer o quê? Procurar o quê? Não sou investigado em nada. Se eles quiserem plantar alguma coisa, eu não duvido. Mas a Polícia Federal, com homens de bem, mesmo com vazamento da operação do Bivar para o presidente da República, eu acredito ainda na Polícia Federal e no doutor Sergio Moro (ministro da Justiça).
Como é possível uma reconciliação entre Bolsonaro e o PSL? Apenas com um gesto do presidente?
Só um gesto dele. Eu não fiz nada. Eu não agredi ninguém.
Acha possível?
Você precisa perguntar ao presidente, não para mim.
Quem assumirá os diretórios de SP e Rio?
Será dialogado.
Em algum momento, antes da divulgação, vocês desconfiaram que o Daniel Silveira estaria fazendo jogo duplo?
Com certeza. Ele estava passando para deputados nossos prints do grupo de lá. Ele estava agindo dos dois lados. A gente já sabia que ele estava fazendo isso.
Que tipo de informação havia nesses prints?
Nós não vamos fazer o que ele fez. Não vamos vazar esses prints que ele passou.
Havia conversas com o presidente da República?
Com certeza. Ele gravou inclusive o presidente da República.
Ele trouxe informações do outro lado para o grupo do Bivar?
Trouxe sim, prints inclusive.
O presidente Jair Bolsonaro sabe que ele fez isso?
Não sei se ele contou ao presidente que ele foi gravado. Eu teria muitas coisas mais graves sobre ele, sobre a conduta dele. Mas não vou passar.
O Fernando Francischini disse que tinha duas propostas de conciliação, como entregar a secretaria-geral do PSL a Bolsonaro. É possível?
O presidente Bivar não aceita. Ele não abre mão da fidelidade do Fernando Francischini e da esposa dele. Não abrimos mão. Acredito que essa conversa não vá adiante. Ela foi descartada pelo presidente Bivar.
Como anda a proposta de fusão com o DEM?
Zero.
Há assédio?
Aí é preciso perguntar ao Bivar ou Rueda.
Mas para o senhor seria ruim?
Para mim, seria indiferente, porque quem define é a executiva, o partido, a política do partido.
Mas o senhor é oposição ao DEM em Goiás.
Eu sou opositor ao governador de Goiás (Ronaldo Caiado), que tentou passar o rodo e tentou tomar o diretório estadual (do PSL). Ele traiu também na eleição estadual. Não sou inimigo do Rodrigo Maia e dos demais parlamentares do DEM. Tenho excelente relacionamento com os deputados do DEM em Goiás.
Quais são os próximos passos para que o partido exista?
A cada ação há uma reação. E o processo de ataque comandado pelo presidente Jair Bolsonaro continua. O Vitor Hugo, enquanto nós estávamos na reunião, ligou para um dos parlamentares pedindo voto para colocar na lista dele. Então os ataques não param. Eles não cessaram a guerra. E uma das condições imediatas é o respeito ao partido, ao líder do partido. Enquanto eles mantiverem listas, não tem diálogo.
A tendência então é o ambiente ficar ainda mais conflagrado. A onde essa guerra pode parar?
Na verdade, é uma decisão de quem está do lado de lá. Nós não vamos convocar uma guerra. Nós não provocamos nenhuma situação dessa, não criamos nada disso. Essa é uma crise criada pelo presidente da República.
O senhor está decepcionado com o presidente?
Sim. Tenho razão ou não?
É preciso pedir desculpas em público?
É necessário pedir desculpas, é necessário ser humilde, é necessário não atacar as pessoas, é necessário continuar o combate à corrupção. É necessário não passar a mão na cabeça de ninguém, nem que seja um filho meu. É necessário muitas ações.

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