segunda-feira, 26 de novembro de 2018

ECONOMIA: Dólar sobe pelo quinto dia consecutivo e fecha a R$ 3,91

OGLOBO.COM.BR
João Sorima Neto, Gabriel Martins 

Bovespa inverte sinal e fecha em queda de 0,79% na contramão do mercado externo

Pacotes de nota de US$ 100. Foto: Scott Eells / Bloomberg

RIO e SÃO PAULO — Pelo quinto pregão consecutivo, o dólar comercial fechou em alta frente ao real. A moeda americana subiu 2,4% e encerrou negociada a R$ 3,913. É o maior patamar de fechamento desde os R$ 3,93 verificados do último dia 2 de outubro. Foi a maior alta percentual desde 14 de junho, quando a divisa havia subido 2,64%.Analistas de câmbio ouvidos pelo GLOBO avaliam que, passada a eleição presidencial, quando o dólar recuou de R$ 4,20 para R$ 3,70, a moeda americana passou a ser pressionada por fatores externos, como a queda no preço do petróleo e do minério de ferro, e as disputas comerciais entre Estados e China.
Algumas empresas multinacionais já começam a fazer posições no mercado futuro de câmbio para remeter lucros e dividendos ao exterior no final do ano, o que também faz a divisa subir. Em cinco sessões, o dólar já acumulou valorização de 4,75%.
Na B3, o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, que vinha em alta a maior parte do dia, inverteu o sinal e fechou em queda de 0,79% aos 85.546 pontos. As ações de bancos, que estavam em alta, inverteram a tendência e levaram ao índice ao campo negativo.
— Os bancos passaram a cair e puxaram o índice, que vinha em alta. Hoje, o dia foi mais tranquilo nos pregões lá fora e as Bolsas americanas estão com altas superiores a 1% - avalia Ari Santos, operador da corretora H. Commcor.
As ações da Petrobras operaram de forma mista. As ações ordinárias da estatal fecharam com alta de 0,74% a R$ 26,89, enquanto as preferenciais caíram 1,10% a R$ 24,10. Já os papéis de bancos, que têm peso importante no índice, caíram mais de 1%. As ações preferenciais do Itaú Unibanco recuaram 1,33% a R$ 34,11, enquanto as PN do Bradesco se desvalorizaram 1,87% a R$ 35,85. 
No exterior, o dollar spot, índice da Bloomberg que monitora o comportamento da moeda americana frente a uma cesta de moedas, subia 0,13% no fechamento dos negócios no Brasil. A agenda externa ainda está bastante intensa nesta e na próxima semana, especialmente nos Estados Unidos, com os investidores procurando pistas sobre a trajetória de juros do Fed. O banco central dos EUA divulgará na quinta-feira a ata de sua última decisão de política monetária, em que manteve os juros..
Também há expectativa em torno da reunião entre os presidentes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping, na cúpula do G-20 no final desta semana, com expectativa de que possa ser costurado um acordo que dê fim à guerra comercial dos dois países. O clima comercial entre os dois países ainda se mantém tenso e o mercado opera com cautela.
— Este também é um período em que muitas empresas que precisam remeter lucro e dividendos em dólares para o exterior, em dezembro, compram contratos futuros de câmbio, o que acaba pressionando ainda mais a moeda americana - disse Ricardo Gomes da Silva, diretor da Correparti, corretora de câmbio.
DÓLAR SE MANTÉM PRESSIONADO
Especialistas em câmbio veem como remota a possibilidade de o dólar chegar a R$ 3,70 no final do ano, como prevê o boletim Focus do Banco Central. Os analistas consultados pelo Banco Central (BC) para o Focus mantiveram a previsão do câmbio de R$ 3,70 para o fim do ano pela terceira semana consecutiva.
Mesmo com a vitória do candidato à presidência mais alinhado às ideias do mercado financeiro, o cenário externo conturbado, com novos capítulos da guerra comercial entre EUA e China pressiona a divisa, queda de petróleo (caindo mais 3% hoje), continua pressionando o câmbio. A estimativa dos especialistas ouvidos pelo GLOBO é que a divisa feche 2018 entre R$ 3,80 e R$ 3,85.
— Passada a eleição, voltamos a encarar o Brasil real, com problemas fiscais nos Estados, dificuldades que o novo governo terá para aprovar medidas no Congresso - disse Gomes da Silva, da Correparti.
Os analistas também apontam a queda no preço do petróleo como fator de pressão sobre a moeda. A desvalorização no preço da commoditie afeta divisas de países ligados ao petróleo, como Brasil, Rúsia e África do Sul. Nesta segunda, é o minério de ferro que apresenta desvalorização de quase 6%, também afetando o câmbio.
— Em outubro, o barril do petróleo WTI estava sendo negociado a US$ 75,3. Agora, está próximo de US$ 50. Estamos numa fase bipolar do mercado - diz o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira.
O diretor de câmbio da FB Capital, Fernando Bergallo, observa que o mercado precificou a vitória de Bolsonaro antes do final da eleição, o que trouxe o câmbio de R$ 4,20 para R$ 3,70, com uma queda de aproximadamente 8%, a maior baixa em dois anos. Agora, o cenário externo está se sobrepondo e Bergallo avalia que dificilmente o dólar deve terminar o mano abaixo de R$ 3,75.
— Passada a eleição, o dólar só será influenciado diretamente por medidas tomadas pelo novo governo. Por enquanto, estamos sendo influenciados pelos fatos externos. Também há um movimento de saída de capitail estrangeiro da Bolsa. Em novembro, a saída acumulada é de R$ 3,5 bilhões, oque também contribui para a valorização do dólar frente ao real - diz Bergallo.
Cleber Alessie, operador de câmbio da H. Commcor, avalia que dificilmente o dólar voltará para R$ 3,70 no curto prazo, se não houver um fato positivo no mercado doméstico.
— Se o Congresso aprovar a independência do Banco Central, por exemplo, podemos ter algum impacto no câmbio. Se nada acontecer, o câmbio fica à mercê do exterior, já que estamos sem nenhuma blindagem - diz Alessie. 
Parte da alta da divisa americana também pode ser explicada pelo reforço que grandes "players" mercado de câmbio local fazem em suas posições compradas na moeda americana.
— Há a percepção que o governo do presidente eleito terá dificuldades para implementar as reformas, o que leva à tomda de psoções compradas no mercado futuro - diz Gomes da Silva, da Correparti.
ALGUMAS BOAS NOTÍCIAS
Neste domingo, líderes da União Europeia (UE) aprovaram o acordo sobre a saída do Reino Unido do grupo no ano que vem. Esta sinalização causou certo alívio nos investidores. Ainda na Europa, a coalizão governista da Itália pode reduzir a meta de déficit do orçamento do próximo ano para 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para evitar um processo disciplinar da Comissão Europeia.
- São poucas as boas notícias. O cenário externo ainda traz muita incerteza e insegurança - afirma Gomes da Silva.

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