quinta-feira, 30 de agosto de 2018

ECONOMIA: Com atuação do Banco Central, dólar recua e fecha a R$ 4,14

OGLOBO.COM.BR
POR JOÃO SORIMA NETO

Durante a sessão, moeda americana bateu na máxima de R$ 4,21

Cotação do dólar nas casas de cambio no centro do Rio - Marcelo Régua / Agência O Globo

SÃO PAULO - Com a crise econômica na Argentina e incertezas do cenário eleitoral no Brasil, o dólar comercial teve uma escalada frente ao real e superou a casa de R$ 4,21 durante o pregão. O ritmo de alta foi interrompido com uma intervenção do Banco Central, que ofertou 30 mil novos contratos de swap cambial, em dois leilões, no valor de US$ 1,5 bilhão. Depois da atuação do BC, o dólar recuou e acabou fechando com valorização de R$ 4,14, alta de 0,63%, abaixo do recorde de alta no Plano Real, de R$ 4,16, registrado em 21 de janeiro de 2016.
Na máxima do dia, a divisa atingiu R$ 4,214, valor próximo ao da maior cotação intraday já registrada no Plano Real, de R$ 4,25, em 24 de setembro de 2015.
Foi a primeira intervenção do Banco Central no câmbio desde 22 de junho com novos contratos de swap cambial, instrumento que protege investidores das oscilações da moeda americana. Com a oferta, a autoridade monetária aumentou sua posição vendida nesses papéis de US$ 67,4 bilhões para US$ 68,9 bilhões.
Além dos 30 mil contratos novos, o Banco Central realizou nesta quinta-feira leilão de até 4,8 mil swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares para concluir a rolagem do vencimento de setembro, no total de US$ 5,255 bilhões.
A autoridade monetária também anunciou que fará dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) amanhã. Serão ofertados até US$ 2,15 bilhões, mas neste lote, mas não se trata de dinheiro novo. O objetivo é rolar os contratos que vencem em setembro para 5 de novembro e 4 de dezembro deste ano.
A piora do ambiente externo, especialmente em países emergentes como Argentina e Turquia, além de uma nova pesquisa eleitoral que não trouxe novidades em relação as anteriores, trouxeram nervosismo aos investidores.
- A crise na Argentina refletiu diretamente no comportamento dos investidores no Brasil, que compraram dólares. Aliado a isso, foi divulgada uma nova pesquisa eleitoral que mostrou pouco fôlego de candidatos considerados pelo mercado como reformistas. E, todo final do mês, acontece a briga entre comprados e vendidos em contratos de câmbio para a formação da Ptax, a taxa média do dólar para a liquidação desses papéis. Tudo isso pressionou a divisa americana - analisou Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H. Commcor.
JUROS FUTUROS SOBEM
Com a alta do dólar, os contratos de juros futuros também se ajustaram para cima. O DI para janeiro de 2020 terminou com taxa de 8,79% (de 8,45% no fechamento de ontem), o DI janeiro/2021 subiu a 9,95% (de 9,59%) e o DI de janeiro de 2025 fechou com taxa de 12,35% (de 12,01%). Mesmo assim, o mercado acredita que o Banco Central não vá alterar a política monetária e a taxa de juros Selic deve ser mantida em 6,5% até o início de 2019, considerando que a inflação ainda está abaixo da meta.
No exterior, o dólar também se valorizou. O dollar index, índice da Bloomberg, que acompanha o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas, subia 0,07% no fechamento do mercado brasileiro. Além dos emergentes, a disputa entre China e Estados também ajudou a fortalecer a divisa no exterior.
"O tom mais beligerante de Trump em relação à China azedou o humor dos mercados. Trump acusou a China de tentar prejudicar o acordo americano com a Coreia do Norte para desnuclearização do país", escreveram os analistas da corretora Coinvalores.
Além da Argentina, a Turquia também foi fonte de problemas. Depois de o banco central local tomar medidas para evitar a desvalorização da lira turca, a moeda voltou a perder valor. A divisa caiu mais de 5% frente ao dólar com informações de que o vice-presidente do BC da Turquia, Erkan Kilimci, pode renunciar.
Na Argentina, a quarta-feira foi um dia crítico, com o presidente Macri pedindo que FMI antecipe o cronograma de empréstimos de 2020 e 2021. O FMI, por sua vez, quer que o governo se comprometa com o plano econômico que está sendo elaborado com a instituição. O dólar bateu a casa dos 39 pesos. O Banco Central argentino elevou hoje a taxa de juros para 60% e aumentou a taxa do compulsório.
Além do exterior, a incerteza eleitoral também se refletiu no mercado. Nova pesquisa eleitoral mostrou que candidatos alinhados com reformas esperadas pelo mercado não decolam na preferência do eleitorado.
- Os candidatos mais alinhados com as reformas não decolam. Isso traz stress para o mercado - diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.
De acordo com relatório da corretora Correparti, também está no radar do mercado o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do registro da candidatura do ex-presidente Lula.
BOLSA EM QUEDA
Na B3, o Ibovespa, principal índice do mercado local de ações, fechou em queda de 2,53% a 76.404 pontos e volume financeiro de R$ 9,7 bilhões. O Ibovespa acompanhou o mau humor dos mercados acionários globais e novas pesquisas eleitorais que colocam candidatos contrários às reformas na dianteira. As bolsas da Ásia, Europa e Estados Unidos fecharam em queda.
As ações de bancos, com maior peso no índice, recuaram. Os papeis preferenciais do Bradesco caíram 4,27% a R$ 28,00, enquanto as preferenciais do Itaú Unibanco perderam 3,93% a R$ 41,70. Já os papéis preferenciais da Petrobras recuaram 2,59% a R$ 18,80.
- Foi um dia muito ruim para os mercados de ações. A Argentina foi um dos focos de problemas, mas a incerteza da eleição e a guerra comercial entre China e EUA também pesaram - disse Luiz Roberto Monteiro, da corretora Renascença.
Ontem o presidente Donald Trump anunciou um alívio para as cotas de importação de aço de Brasil, Argentina e da Coreia do Sul, além da de alumínio da Argentina. Na prática, a medida permite que empresas comprem insumos destes países sem ter que pagar as sobretaxas de 25% para o aço e de 10% para o alumínio, anunciadas pelo presidente em março, mesmo que as cotas estabelecidas para cada país já tenham sido atingidas. As ações ordinárias da CSN ficaram entre as maiores altas do Ibovespa, com alta de 0,70% a R$ 8,66.
A CSN informou aos acionistas que, após a Justiça Federal de São Paulo determinar o bloqueio da distribuição de dividendos, a companhia cancelou a operação e vai "utilizar os recursos para amortizar obrigações contratuais de curto prazo que, com o pagamento dos dividendos, teriam sido alongadas".

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