segunda-feira, 26 de março de 2018

SEGURANÇA: Ação de advogados em cadeias está na mira de intervenção federal

OGLOBO.COM.BR
POR CHICO OTAVIO E DANIEL BIASETTO

Foco é desarticular ligação de criminosos presos com quadrilhas que atuam em favelas


Com base em investigações da Polícia Civil, que tiveram interceptação de ligações telefônicas dentro de celas e revelaram que chefões do narcotráfico usam advogados para se comunicar com as ruas, o sistema prisional do estado passará por um pente fino. O entra e sai de representantes legais dos detentos está no foco da intervenção.
O caso mais conhecido e recente foi o da advogada Beatriz da Silva Costa de Souza, presa em outubro de 2017, acusada de usar as prerrogativas profissionais para transmitir informações dos clientes, como os traficantes Marcinho VP e My Thor, que estão em presídios federais, a criminosos que ainda dominam favelas do estado.
Como O GLOBO revelou em reportagem publicada domingo, uma rede criminosa com autoridades, agentes penitenciários, advogados e presos controla o pagamento de propina dentro do sistema penitenciário com o objetivo de criar facilidades na cadeia. Em entrevista para o jornal, o novo secretário de Administração Penitenciária, o delegado da Polícia Civil David Anthony, que chegou ao cargo já na gestão do interventor federal, general Walter Braga Netto, disse ter carta branca e que dará início a uma série de vistorias nas quase 50 unidades prisionais do Rio.
— Nós vamos continuar a dizer a que viemos, vamos continuar dando o recado. Não haverá um lugar aqui no estado em que deixaremos de entrar. Vamos entrar pesado e surpreender muita gente — afirmou o secretário.
A repressão aos “pombos-correio” é considerada fundamental para desarticular a ligação entre os criminosos presos e suas respectivas quadrilhas de tráfico que atuam no estado. Para mandar recados ou repassar recursos, os detentos evitam usar parentes para não expor a família, preferindo recorrer a advogados. Uma das linhas de investigação, a cargo do Ministério Público estadual, onde correm outros inquéritos sobre irregularidades nos presídios estaduais, cujo conteúdo foi revelado pelo jornal, apura o envolvimento destes profissionais com a rede de influência de traficantes.
— A sociedade respeita e deve respeitar o profissional do direito, mas há defensores de bandidos que deixam de lado seus princípios morais e éticos e agem como elo entre os membros da quadrilha encarcerada e o mundo externo — reconhece o inspetor penitenciário Wilson Camilo, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciário do Estado do Rio. — Tanto em Bangu 3-B quanto em Bangu 4, há casos de presos com três a quatro visitas de advogados no mesmo dia. Isso não é normal. Quando Beira-Mar estava preso no Rio, em Bangu 1, ele recebia em média cinco visitas de advogados.
Presa pela primeira vez em 2010, quando veículos foram incendiados em todo o Rio, Beatriz foi acusada de lavagem de dinheiro e de ser informante de criminosos. O juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 1ª Vara Criminal de Bangu, na Zona Oeste, decretou a prisão dela e dos advogados Flávia Pinheiro Fróes e Luiz Fernando da Costa pelo mesmo crime. Ele afirmou que os acusados, em entrevistas sigilosas, recebiam ordens verbais e por “bilhetes e outros escritos”. Os três foram soltos por liminar. Flávia e Luiz ainda respondem em liberdade.
Em janeiro de 2004, Paulo Roberto Pedrini Cuzzuol, 55 anos, um dos advogados de Fernandinho Beira-Mar, foI preso com US$ 320 mil do traficante, segundo a Polícia Federal. Os dólares, segundo a investigação, seriam entregues ao traficante Sandro Mendonça do Nascimento, o Promotor, no Paraguai, para a compra de drogas, armas e munições. Ele também teria a contabilidade da quadrilha. O advogado defendeu ainda Elias Maluco, e Marcinho VP.

ÚLTIMAS DE RIO

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |