terça-feira, 13 de março de 2018

ANÁLISE: Com Tillerson demitido, Casa Branca fica com um moderado a menos

OGLOBO.COM.BR
POR HENRIQUE GOMES BATISTA, CORRESPONDENTE

Ex-CEO da Exxon aos poucos se mostrou mais diplomático no governo do que o esperado

Em outubro de 2017, o então secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, se senta ao lado do presidente Donald Trump em reunião da Casa Branca - SAUL LOEB / AFP

WASHINGTON — A demissão de Rex Tillerson do posto de secretário de Estado não foi surpresa: o plano da troca de chanceler havia sido antecipado no fim do ano pelos jornais americanos, e ele estava na geladeira há tempos. Mas indica que o governo de Donald Trump, mais uma vez, abre mão de vozes relativamente moderadas.
Tillerson, ex-todo poderoso da Exxon e apelidado pelos ambientalistas de “T-Rex”, era mais um bilionário vindo do setor empresarial a entrar no governo. Mas, aos poucos, ele mostrou ser mais moderado do que se imaginava, talvez moldado pelo peso da opinião pública em um empresa gigante e com a diplomacia de alguém acostumado a negociar com ditadores da área de petróleo. Com algumas escorregadias, claro, como quando, no começo do ano, chancelou a possibilidade de um golpe militar para resolver a crise venezuelana. Mas ele tinha visão estratégica, pensava em acordos de longo prazo e em criar confianças com parceiros, pontos que não fazem sucesso na Casa Branca atualmente.
A moderação de Tillerson não surtiu muito efeito. Ele nunca conquistou o apoio da diplomacia americana, que foi sucateada como nunca no governo Trump, com cortes de orçamento, debandada de profissionais e diversos cargos importantes vagos. Até mesmo a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley — que fora escolhida por Trump antes do chanceler — tinha mais voz com o presidente. Tillerson divergiu publicamente de Trump, a quem teria chamado de “idiota”, segundo fontes sigilosas da imprensa. A suposta ofensa fez Trump, em um tuíte, desafiá-lo a fazer um teste de QI para ver quem era o mais esperto.
Quando o presidente anunciou que os Estados Unidos estavam saindo do acordo de Paris sobre mudanças climáticas, ele minimizou a decisão do chefe, dizendo que os Estados Unidos continuariam sua agenda de redução de emissão de gases do efeito estufa. Foi alijado do processo de reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e viu Trump assumir o enfrentamento com a Coreia do Norte.
O substituto de Tillerson, Mike Pompeo, também é considerado alguém com relativa experiência executiva e sério. Suas opiniões, como as de quase todo o planeta, são consideradas mais comedidas do que as de Trump, mas bem mais duras do que as de Tillerson. Pompeu, por exemplo, é a favor da saída americana do acordo nuclear com o Irã, firmado em 2015 por Barack Obama. Tillerson era contra.
Resta saber se ele poderá atuar ou se será outro nome desrespeitado por Trump, que viu nas relações externas o palco perfeito para exibir o nativismo populista que encanta sua base, ainda enamorada do presidente e do seu discurso "Estados Unidos primeiro".

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