sexta-feira, 22 de abril de 2016

IMPEACHMENT: Dilma não cita golpe, mas usa final do discurso na ONU para falar de 'grave momento' no Brasil

OGLOBO.COM.BR
POR HENRIQUE GOMES BATISTA, CORRESPONDENTE

Viagem da presidente representa uma tentativa do governo brasileiro de emplacar uma agenda positiva em meio à crise política do país

NOVA YORK - A presidente Dilma Rousseff usou parte do seu discurso na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), no qual apresentou as medidas tomadas pelo governo brasileiro no acordo climático, para citar o "grave momento que vive o Brasil". A presidente discursou por pouco mais de oito minutos. Sua fala sobre a situação política do Brasil durou menos de um minuto. Ela não usou, em seu discurso, a palavra "golpe" ou "impeachment". E o público presente na ONU reagiu com normalidade, aplaudindo a presidente apenas no final de sua fala. ( VEJA O PONTO A PONTO DO DISCURSO)
- A despeito disso quero dizer que o Brasil é um grande país, que soube superar o autoritarismo e construiu uma pujante democracia. O nosso povo é trabalhador e com grande apreço pela liberdade, e saberá impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade - disse Dilma.
Na entrevista que dará a seis veículos de imprensa internacional, logo mais à tarde, a presidente deve explorar com mais detalhes o discurso de que foi vítima de um golpe.
Antes de citar o momento político, Dilma disse em seu discurso que tem orgulho de seu governo, que vai lutar para que o acordo climático seja implementado o mais rápido possível e que assinar este acordo é a parte mais fácil, que a sua implementação exigirá esforços.
A presidente Dilma Rousseff durante seu discurso na sede da ONU - Mark Lennihan / AP

Ela repetiu as metas de redução de emissões e de queda de desmatamento na Amazônia. A presidente disse na ONU que o país vai ampliar o uso de energia renovável e que os impactos negativos das mudanças climática afetam mais aos pobres. Ao fim do discurso, Dilma voltou à Assembléia da ONU, onde foi assinar o acordo climático.
Os deputados da oposição encaminhados pela Câmara dos Deputados a Nova York aprovaram as palavras de Dilma Rousseff. José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Luiz Lauro (PSB-SP), cuja missão era contrapor para a mídia e as autoridades estrangeiras a visão de ‘golpe’ que Dilma supostamente defenderia no evento, disseram que o discurso da chefe de Estado não comprometeu a imagem do país. Um efeito também, segundo eles, da intimidação de sua viagem aos EUA, ideia do próprio presidente da Casa, Eduardo Cunha.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), elogiou o “bom senso” da presidente ao não usar a palavra “golpe” para tratar do tema de impeachment na tribuna da ONU. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por sua vez, divulgou nota em dois idiomas – português e inglês – para negar que o processo seja um “golpe”. Já o senador petista Jorge Viana (AC) afirmou que Dilma agiu como “grande estadista”.
APOIO INTERNACIONAL
Ela foi recebida em Nova York, na noite de quinta-feira, com flores por um grupo de 50 pessoas, à porta da residência oficial do embaixador Antonio Patriota, em uma manifestação contra o impeachment.
Dilma sentou-se ao lado do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e à frente do embaixador Antonio Patriota. Deputados da oposição também viajaram aos Estados Unidos.
Além de sustentar a versão do 'golpe' no ambiente internacional, a viagem e o discurso de Dilma ao encontro da ONU sobre o clima representam uma tentativa do governo brasileiro de emplacar uma agenda positiva em meio à crise política do país. A presidente decidiu participar da reunião pouco mais de 24h antes de embarcar. Receosa em deixar o Brasil, Dilma confirmou sua ida a Nova York a partir da avaliação de que os veículos de imprensa de fora têm dado mais espaço para a defesa da presidente.
Dilma Rousseff deverá exaltar as propostas dos negociadores brasileiros na COP 21, em dezembro passado, decisivas no acordo fechado por 195 países em Paris, no qual o mundo concordou em caminhar para uma economia de baixo carbono.
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, se prepara para discursar no encontro do clima na ONU - Mary Altaffer / AP

O discurso de Dilma foi o sexto depois da apresentação inicial do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. Depois dele, foi a vez do presidente francês François Hollande discursar. Seguiram a ordem o secretário-geral da Assembleia da ONU, o presidente do Peru, Alan García; do Congo, Denis Sassou Nguesso; da Bolívia, Evo Morales, e, enfim, a presidente do Brasil.
ACORDO RECORDE
A ONU informou que hoje, dia da Terra, será o recorde de países assinando, em um mesmo dia, um acordo da organização. No total, 165 nações vão chancelar o acordo de Paris sobre mudanças climáticas. O recorde anterior foi registrado em 1982, quando 119 nações assinaram no mesmo dia um acordo sobre o mar. Os demais países, dos 193 que fazem parte da ONU, terão até 17 de abril de 2017 para assinar o documento. O acordo de Paris entrará em vigor quando o documento for ratificado por países que representem até 55% das emissões de gases causadores do efeito estufa. Nove chefes de estado devem discursar no evento da ONU nesta sexta-feira em Nova York, incluindo Dilma Rousseff.
 cerimônia para a assinatura do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas começou com a apresentação musical, um trecho de "Quatro Estações", de Vivaldi, e de um jovem alertando para os riscos das mudanças climáticas. Depois, em seu dicurso, Ban Ki-Moon, secretário geral da ONU, comemorou o recorde de países assinando um acordo em um mesmo dia. Ele disse que quando assumiu o cargo tinha priorizado a questão do meio ambiente e que está feliz pelo acordo obtido em dezembro em Paris. Ele pediu para que os países convertam os acordos de Paris em ações.
— Acabou a época de consumo sem consequencias. Tempos que reforçar nossos esforços para "descarbonizar" nossas economias. - disse o secretário. - As medidas para o clima não é um carga, mas nos oferece muitos benefícios, pode nos ajudar a reduzir a pobreza e gerar emprego verde — disse.
O presidente da França, François Hollande, afirmou, em seu discurso de abertura da cerimônia da ONU para assinatura do acordo sobre Mudanças Climáticas, lembrou que até o último minuto da conferência do Clima de Paris havia dúvidas da obtenção de um acordo, mas que os países conseguiram superar suas dificuldades e chegaram a um consenso importante. Ele afirmou que a humanidade pode estar orgulhosa do acordo alcançado e citou que o contexto do acordo de Paris era "dramático" dias após os fortes atentados terroristas na capital francesa, sendo um "marco simbólico" para o resto do mundo.
— Os meses antes da assinatura do clima foram os mais quentes da história, foram registradas mais catástrofes em diversos países - disse o presidente francês, citando alguns problemas ambientais ocorridos no mundo nos últimos tempos.

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