terça-feira, 22 de março de 2016

CASO PETROBRAS: Marcelo Odebrecht mandou apagar software de propina, diz delegado

FOLHA.COM
JULIANA COISSI, DE CURITIBA

Paulo Lisboa - 1º.set.2015/Efe 
Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht

A expressão "higienizar apetrechos" encontrada no celular de Marcelo Odebrecht – preso em uma das fases da Operação Lava Jato – é um indicativo, segundo a Polícia Federal, de que o então diretor-presidente da empreiteira ordenava aos subordinados que fosse apagado o software desenvolvido especialmente para o "departamento de propina" da empresa.
A afirmação é do delegado Márcio Adriano Anselmo, um dos integrantes da Operação Lava Jato, e foi dada após a entrevista coletiva sobre a 26ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (22).
O chamado setor de operações estruturais no interior da Odebrecht, que efetuava pagamentos dentro do país e também no exterior, com funcionários próprios e hierarquia estruturada, comunicação própria e pagamentos vultosos feitos em espécie, é o alvo da nova etapa.
Somente em duas contas ligadas a esse setor paralelo estima-se R$ 91 milhões em pagamentos suspeitos de serem ilícitos.
Os pagamentos de propinas pela Odebrecht envolvem obras ligadas ao governo federal e a governos estaduais, como a Arena Corinthians, em São Paulo, o aeroporto de Goiânia, as obras do Trensurb (trem metropolitano de Porto Alegre) e o Canal do Sertão, para combate da estiagem no Nordeste.
Segundo o delegado Anselmo, o software da propina foi destruído em julho do ano passado. Apesar de a prisão de Odebrecht ter ocorrido no segundo semestre, diz o delegado, as mensagens no celular são anteriores a julho, e poderiam, portanto, indicar uma ordem direta de destruir o sistema.
De acordo com os procuradores da Lava Jato, o esquema continuou mesmo depois de Marcelo Odebrecht ter sido preso, em junho do ano passado.
A principal chave da PF e do Ministério Público Federal para se chegar ao conhecimento de que havia um software detalhado desse setor de propinas foi a apreensão de documentos na casa de Maria Lúcia Tavares, funcionária da Odebrecht em Salvador.
Como a Folha revelou, ela fechou acordo de delação premiada e passou a colaborar com as autoridades. Tavares é, até o momento, a única pessoa relacionada à Odebrecht que aceitou a delação, segundo a procuradora Laura Tesler, da força-tarefa da Lava Jato.
Apesar de o software ter sido destruído, Tavares imprimiu parte das telas do programa que apontam para a propina, como um balanço final, e guardou os papéis impressos em sua casa. Foi possível reunir a contabilidade detalhada somente dos anos de 2014 e 2015, mas a PF estima que o setor paralelo irregular funcionou dentro da Odebrecht por cerca de seis anos.
PROPINA NO BRASIL
A informação inédita revelada nesta fase da Lava Jato, segundo o procurador Carlos Fernando Lima, é que os pagamentos ilícitos ocorriam também no Brasil. "Essa é uma novidade, porque nós tínhamos já caracterizados o pagamento de propina da Odebrecht no exterior [por meio de contas offshores] e agora as investigações mostram pagamento de propinas no Brasil".
A Procuradoria apontou ainda para a sofisticação e agilidade do setor, ao conseguir reunir em espécie altos valores e efetuar esses pagamentos geralmente em flats e hotéis.
"Esse setor tinha funcionários exclusivamente para essa prática ilícita e, usando codinomes e sistema específico entre eles de comunicação, faziam pagamentos de quantidades expressivas. Levantavam R$ 9 milhões de um dia para outro, isso em espécie", afirmou a procuradora.
Os investigadores não revelaram o valor total que pode ter saído das contas deste setor paralelo para pagar propina, mas em duas das contas, que nas tabelas são chamadas de Carioquinha e Paulistinha, os valores somam R$ 90 milhões. O esquema envolveu de 25 a 30 pessoas que receberam o dinheiro ilícito, e os pagamentos foram feitos centenas de vezes.
Marcelo Odebrecht exerceu papel central no funcionamento do setor paralelo da empreiteira, segundo o Ministério Público Federal. Nas planilhas que ordenam pagamentos, há as iniciais MBO, em referência ao nome completo de Marcelo Bahia Odebrecht, e DP, que, para os investigadores, seria o termo diretor-presidente.
Mesmo depois de ele e outros executivos terem sido presos, no ano passado, troca de e-mail de novembro de 2015 mostra que os pagamentos ilícitos ainda eram articulados pelos funcionários envolvidos no esquema.
"O senhor Marcelo Odebrecht não só tinha conhecimento como comandava toda essa sistemática de pagamento de propina, inclusive tendo a participação de funcionários que foram, quando da sua prisão, levados para o exterior não apenas para prejuízo das investigações [da Lava Jato], mas para viabilizar a continuidade desse sistema ilícito", disse a procuradora Laura.
Em nota, a Odebrecht confirmou que foram cumpridos mandados de prisão, de condução coercitiva e de busca e apreensão em escritórios do grupo e na casa de executivos. "A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários".
A reportagem questionou o delegado Márcio Anselmo, do grupo de investigações da PF, a respeito das declarações do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, de que trocaria toda a equipe da Polícia Federal ao menor "cheiro" de vazamento de informações da Lava Jato. Ele informou que não comentaria as declarações. "Nosso trabalho continua".
DESDOBRAMENTO
Desdobramento da 23ª fase, chamada "Acarajé", a nova etapa da Lava Jato recebeu o nome de "Xepa". Estão sendo cumpridos ao todo 110 ordens judiciais, sendo 67 de busca e apreensão, 28 de condução coercitiva, 11 de prisão temporária e 4 de prisão preventiva.
Na 23ª fase, chamada "Acarajé", o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, foram presos –o casal trabalhou nas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014.
A ação desta terça envolve 380 policiais federais e é realizada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco.
Os alvos de condução coercitiva prestarão depoimentos nas cidades em que se encontram. Os suspeitos presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Os investigados responderão pelos crimes de lavagem de capitais, corrupção, organização criminosa e evasão de divisas.

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