quinta-feira, 10 de setembro de 2015

ECONOMIA: Dólar chega a passar de R$ 3,90 após Brasil ser rebaixado; Bovespa surpreende e cai apenas 0,5%

OGLOBO.COM.BR
POR RENNAN SETTI

BC reforça atuação no câmbio; indicador de risco do Brasil dispara mais de 14% e supera o da Rússia







RIO - O dólar comercial opera em forte alta de 1,65% nesta quinta-feira, um dia após a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) ter cortado a nota de crédito do Brasil, fazendo-o perder seu grau de investimento — espécie de selo de bom pagador. A divisa americana está cotada a R$ 3,859 para compra e a R$ 3,861 para venda. Na máxima do dia, porém, a moeda saltou mais de 2,6% e chegou a R$ 3,908. Após a abertura da sessão, o Banco Central anunciou que fará hoje operação que visa a conter a alta da moeda. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), porém, surpreende caindo menos que os mercados europeus. Segundo analistas, comportamento prova de que o Brasil já vinha sendo tratado como país de grau especulativo pelos investidores. O índice de referência Ibovespa cai 0,49%, aos 46.429 pontos.

— Parte do efeito do rebaixamento já vinha sendo incorporado à Bolsa e ao câmbio. Até porque o mercado financeiro já tinha certeza de que haveria rebaixamento, a única surpresa foi o momento. Mas a tendência é, sem dúvida, de piora. A agência Moody's deve seguir o exemplo da S&P nos próximos meses e também rebaixar o Brasil. O governo continua incapaz de se articular para implementar novas medidas sobre o Orçamento. Assim, o dólar certamente ultrapassará os R$ 4 — avaliou Daniel Weeks, economista da gestora Garde Asset.
As ações da Petrobras recuam 2,89% (ON, com voto, a R$ 9,430) e 4,52% (PN, sem voto, a R$ 8,01). Mas os papéis PN chegaram a cair 6,91% no começo do pregão. Antes de a Bolsa brasileira abrir, os Depositary Receipts da Petrobras em Frankfurt — recibos de ações da estatal negociados na Bolsa alemã — também chegaram a despencar 13,9%, de € 4,70 a € 4,05. Em Nova York, o recibo de ação da Petrobras recua 3,95%.
— Realmente, aquela queda forte que os investidores esperavam para hoje na Bolsa, não se concretizou. A Petrobras sente mais que os outros papéis porque ela é muito associada ao risco soberano. A empresa já perdeu seu grau de investimento pela Moody's e agora também pode perder pela S&P. Mas os investidores já tratam a companhia com base nesse cenário, impondo juros maiores aos seus títulos, por exemplo — observou Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos.
O Banco do Brasil cai 5,24% (R$ 16,25), enquanto o Bradesco tem baixa de 3,23% (R$ 22,40). O Itaú Unibanco recua 2,66% (R$ 26,29). Na outra ponta do pregão estão os papéis da Vale, que sobem 3,46% (ON, a R$ 19,72) e 1,88% (PN, a R$ 15,65). A JBS também sobe 2,36%, a R$ 16,45.
BC OFERECE US$ 1,5 BI EM LEILÃO
O BC voltará a fazer hoje a venda de dólares com compromisso de recompra, assim como fez na terça-feira. Será a segunda vez no ano que a autoridade monetária promove os chamados leilão de linha. Hoje, será ofertado US$ 1,5 bilhão em dois leilões, um com vencimento em 4 janeiro e outros, em 4 abril. Nessas datas, os bancos que participarem do leilão deverão devolver o montante emprestado acrescido de uma taxa de juros.
— Esse movimento do BC já era aguardado pois é a única coisa que ele podia fazer mesmo para segurar um pouco o dólar hoje. A operação pelo menos acaba com qualquer temor de que vai faltar dólar no mercado. O BC também sinaliza que pode fazer mais leilões se for necessário — disse Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora.
A nota do Brasil pela S&P foi de “BBB-” para “BB+” menos de dois meses após a agência revisar a perspectiva do Brasil para negativa. Pesou para a decisão a proposta orçamentária do Planalto para 2016. O cenário econômico levou a entidade a colocar o rating em perspectiva negativa, o que aponta a possibilidade de novo rebaixamento nos próximos meses.
Na noite de ontem, em entrevista ao “Jornal da Globo”, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a nota da S&P “é apenas uma avaliação se a gente está olhando com seriedade para isso. Se a sociedade, o Congresso, o governo estão entendendo a seriedade de ter equilíbrio fiscal, é necessário para o Brasil ter a confiança das pessoas”.
Levy afirmou que a população está preparada e vai entender se precisar pagar mais impostos para o país voltar a crescer e criar empregos. Na visão de Levy, está ficando cada vez mais claro para as pessoas que é preciso fazer escolhas que não são fáceis para o país chegar ao equilíbrio fiscal e crescer. O ministro disse que assumiu o cargo com o objetivo de fazer com que Brasil readquirisse o equilíbrio fiscal, “porque é essencial para a gente poder crescer”.
BANCO PREVÊ DÓLAR A R$ 4,40; SEGURO CONTRA CALOTE DÁ SALTO

“Apesar do seu reconhecido talento, capacidade e dedicação, o ministro Levy perdeu uma batalha importante (embora, na nossa avaliação, a fracasso em preservar o grau de investimento não deva ser vista como uma derrota pessoal ou como falta de comprometimento) e o mercado provavelmente começará a levantar a questão sobre se os desafios à consolidação fiscal podem ser superados com a estratégia atual”, escreveu em relatório o economista Alberto Ramos, do banco americano Goldman Sachs em Nova York.
Também em relatório, o estrategista Bernd Berg do banco Société Générale prevê que a desvalorização do real deve se acelerar após Brasil perder o grau de investimento. Após o rebaixamento, o banco passou a prever que o dólar estará valendo R$ 4,40 daqui a dois meses, em vez da projeção anterior de R$ 4.
O risco associado ao Brasil, medido pelo CDS (Credit Default Swap, na sigla em inglês, uma espécie de seguro contra calote), chegou a disparar 14,5% nesta quinta-feira. O contrato com prazo de cinco anos, em dólar, fechara ontem em 374 pontos centesimais e, hoje, atingiu os 428 pontos nos primeiros minutos de negociação. Agora, sobe 7,5%, a 402 pontos.
O CDS de cinco anos da Rússia, que também não possui mais grau de investimento e ainda é alvo de um embargo econômico, está em de 375 pontos.
Os juros futuros, que traduzem a expectativa dos investidores sobre a situação econômica daqui para frente, também reagiu. O contrato de Depósitos Interfinanceiros (DI) para janeiro de 2016 sobe 160 pontos-base, de 14,38% para 14,54%; o com vencimento em janeiro em 2021 salta 330 pontos, de 14,74% para 15,07%.
BOLSAS EUROPEIAS RECUAM E WALL STREET TEM LEVE ALTA
Nos mercados externos, as Bolsas europeias caem após três altas consecutivas enquanto Wall Street registra leve alta em alguns índices. A Bolsa de Londres recua 1,04%, enquanto o pregão de Paris tem baixa de 1,15%; em Frankfurt, a queda é de 0,70%. Nos EUA, o índice S&P 500 avança 0,20%, enquanto o Dow Jones e o Nasdaq operam praticamente estáveis.

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