quinta-feira, 3 de setembro de 2015

COMENTÁRIO: Preço do dólar é consequência do clima geral da economia

POR MÍRIAM LEITÃO - OGLOBO.COM.BR

O dólar sobe como consequência do clima geral, de incertezas. O problema não está no mercado de câmbio. O risco do Brasil cresceu. Há insegurança sobre os rumos da economia, com as divergências dentro do governo. A fragilidade fiscal está mais explícita. Os fatos mostram que o ministro Joaquim Levy precisa ser prestigiado.
A alta da moeda americana tem efeitos concretos. Os produtos importados ficam mais caros e afetam a inflação. O único ponto positivo do PIB do segundo trimestre, as exportações também sofrem. Havia a esperança do governo que a recuperação viesse do comércio exterior. Mas, com o câmbio volátil, os contratos de vendas são postergados. Os exportadores esperam para ver até onde vai a cotação.
O Banco Central manteve os juros em 14,25%. Mas o mercado futuro vê o cenário deteriorado e negocia a taxa em torno de 15%. A insegurança em relação ao país também está refletida no seguro contra o risco do país. O CDS brasileiro, na máxima desde 2009, ultrapassou o da Rússia.
Qualquer instituição que tenha comprado papéis da dívida brasileira e precisa do CDS para se defender dos riscos locais, está gastando mais do que se estivesse aplicando no país presidido por Vladimir Puttin, que não tem nada de democrata. É muito ruim estar pior que a Rússia, um país em guerra, com pouca liberdade, em recessão e com inflação perto de 15%.
A proposta de Orçamento deficitário de 2016 diminuiu a confiança no país. Mostrou que o problema das contas não foi solucionado e que Levy está enfraquecido. Entregar uma peça orçamentária com rombo é contra tudo o que ele sempre defendeu; os relatos de dentro do governo contam que ele foi contra. O ministro do Planejamento Nelson Barbosa, que entrevistei nesta quinta-feira, negou o problema. Disse que o Orçamento deficitário foi feito por toda a equipe.
Levy foi para o governo, no começo desse mandato, com a intenção de melhorar os indicadores fiscais e dar realismo aos dados do governo, após o déficit primário de 2014. A arrecadação, é verdade, está em queda por causa da recessão. Mas a impressão é que o governo não faz o suficiente para equilibrar suas contas.
Outro evento que agravou o evento nos últimos dias foi a sugestão de recriar a CPMF. O governo recuou após a reação dos contribuintes. Mas não desistiu. Essa ideia mostra um governo perdido, que não sabe como resolver o problema das contas.
Explícita, a fragilidade fiscal do país cria especulação sobre os cenários possíveis. Enquanto não houver clareza, o dólar e outros ativos continuarão a ser afetados. É a consequência.

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