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Parte do mercado garimpa lucro no tombo de 45% dos papéis da empresa
RIO — Investidores e fundos de investimentos mais agressivos têm feito fortuna nos últimos meses com ações da OGX Petróleo, a exemplo do que ocorreu na euforia dos mercados financeiros em 2009. Só que, desta vez, os ganhos não vieram da valorização das ações da petroleira do grupo EBX, do bilionário Eike Batista, e sim da queda dos papéis. Com operações de venda de ações alugadas (short selling, no termo do mercado), alguns investidores souberam aproveitar o tombo de 45% da OGX na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desde 26 de junho. Naquele dia, a companhia reviu para baixo sua expectativa de produção de petróleo em poços de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, e passou a ser alvo de desconfiança dos analistas do mercado.
Para ganhar dinheiro nessa operação, o investidor aluga uma ação e vende na Bolsa. Quando ela se desvaloriza, o investidor recompra o papel por um preço menor e devolve ao seu proprietário, embolsando a diferença. Por exemplo: um investidor que vendeu 100 mil ações alugadas da OGX em abril recebeu R$ 1,3 milhão por elas. Na segunda-feira passada, após a desvalorização das ações, ele gastou R$ 461 mil para recomprá-las e devolvê-las ao seu dono. O ganho foi de R$ 855 mil.
Segundo dados da Bloomberg News, o número de ações ordinárias (ON, com voto) alugadas da petroleira cresceu de 47 milhões em abril para até 147 milhões de papéis outubro. Isso equivale agora a apostas de R$ 938 milhões na desvalorização das ações da petroleira, frente a R$ 619 milhões em abril.
— Houve um salto de 100 milhões de ações (alugadas). Isso representa 8% das ações em circulação da OGX. É um volume muito grande — avalia Hersz Feman, gestor de renda variável da Yield Capital. — Isso pode pesar no preço das ações, mas ainda acho que a origem do problema é a desconfiança dos investidores com a produção da empresa.
Um dos investidores conhecidos que ganhou dinheiro com a queda das ações da OGX foi o Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. O banco embolsou R$ 40 milhões com a queda dos papéis na Bolsa. Procurado, o banco não comentou a operação. Clientes de corretoras do Deutsche Bank e BTG Pactual também executaram operações do tipo.
Eike perdeu US$ 3 bilhões de sua fortuna neste ano
O resultado disso é que a OGX Petróleo teve uma das maiores perdas de valor de mercado nas Américas, segundo levantamento da consultoria Economatica. Foram US$ 16 bilhões desde o fim do ano passado até o último dia 26. Nesse período, a queda do preço das ações foi de 69,5%. Essas perdas, somadas a de outras companhias ‘X’ — letras com a qual Eike Batista batiza suas companhias — resultou numa queda de US$ 3 bilhões na fortuna do empresário, segundo ranking da Bloomberg News, para US$ 19,5 bilhões. Eike é hoje o 29º mais rico do mundo.
Eike tem reclamado das apostas de investidores contra suas ações na Bolsa. Em entrevista à revista Istoé, ele cobrou a atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Há muita gente interessada em ‘shortear’ as nossas ações. As nossas ações têm muita liquidez, e muita gente que usa isso. Notícias, por exemplo, de demissões de diretores, que fazem parte do dia a dia de uma empresa, são usadas por pessoas interessadas em shortear as nossas ações, e a mídia brasileira é facilmente manipulada. Eu adoraria ver uma CVM mais rígida, indo atrás de quem ganhou dinheiro shorteado. É tão fácil”.
Thor Batista, filho do empresário e atualmente diretor da EBX, comentou em seu twitter: “Um recado para quem está shorteado (está vendido) de OGX. Você está errado! Nunca faça short numa companhia X!”
Fernando Góes, analista da Clear Corretora, concorda que muitos investidores ganharam com a queda das ações da OGX. Outros, claro, também perderam bastante. Mas ele refuta a ideia de que a queda das ações foi provocada por esses investidores.
— OGX é um papel grande, um blue chip. Mesmo se duas casas de juntarem para ‘bater’ na ação ela não cairia dessa forma. Não existe uma distorção tão grande de preço de ativo sem que alguém compre a briga do outro lado, comprando as ações para aproveitar os preços menores — afirma Góes. — O problema é que Eike não entregou o que prometeu. A produção da OGX será até dez vezes menor do que inicialmente esperado.
Santander vê risco de queda de 50% nas ações no pior cenário
Na quinta-feira da semana passada, Eike tentou conter o derretimento da empresa na Bolsa anunciando a intenção de comprar R$ 1 bilhão de ações da companhia. Inicialmente, os investidores gostaram da notícia, que sinaliza a confiança do empresário no futuro da empresa. As ações da OGX chegaram a subir 8,20% na máxima do pregão, mas fecharam no menor nível do dia, com alta de 2,59%, a R$ 4,75. No dia seguinte, ínvestidores voltaram a derrubar o preço da ação alegando que a operação iria diluir suas participações na companhia. Os papéis caíram 5,47%.
Para o Santander, os riscos das ações seguem elevados. Em relatório divulgado ontem, o banco avaliou que, no pior cenário possível, as ações da OGX ainda podem cair 50% neste ano, entre R$ 2 e 2,50, considerando apenas as reservas provadas em Waimea e Waikkiki. Para o banco, contudo, o cenário intermediário embute uma possibilidade de valorização da ação para R$ 9,30, o que significaria um potencial de lucro de 100% pela frente.
A Teórica Investimentos tem comprado ações da OGX nos últimos dias a cotações abaixo de R$ 5. Para Rogério Freitas, sócio da gestora, as ações da petroleira ficaram baratas.
— Entendemos que o papel tem mais a ganhar agora do que perder. Mesmo se a ação cair um pouco, achamos que o preço atual joga mais a favor da recuperação. Probabilidade de subir, e subir muito, está maior do que a de cair — afirma Freitas.
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