Da CONJUR
Eles são advogados altamente competentes. Muito valorizados, porém
"desescritorizados". Operam de onde for mais conveniente: em uma sala emprestada
pelo cliente, em casa, em cibercafés. São muito bem pagos. Chegam a ganhar de
US$ 200 mil a US$ 250 mil por ano. Mas não têm de buscar trabalho ou conquistar
clientes. A Axiom, uma "pequena" firma de advocacia virtual, faz isso por eles.
Essa firma inventou um novo modelo de negócios, um dos mais prósperos e
lucrativos da advocacia nos EUA. E rompeu o domínio das bancas de grande porte
sobre as grandes corporações.
A firma já tem escritórios em diversas partes do mundo. Mas, para dar um
exemplo, o escritório de Washington (DC) só tem um administrador e duas
advogadas na direção. Toda a operação de cada sede da firma, que não tem sócios,
consiste em agenciar advogados experientes, que trabalham por "projetos",
normalmente pela metade do preço que as grandes bancas praticam. Em nenhum
momento o serviço prestado por esses advogados independentes é qualificado
como free-lancing. Mas o que fazem é bem parecido com o velho "frila",
muito conhecido dos jornalistas: o telefone toca e alguém anuncia que há um
projeto novo na pauta. Em termos mais modernos, é uma espécie de advocacia
on-demand (por encomenda).
O modelo de negócios da Axiom já foi copiado por outros empreendedores
jurídicos. Afinal, ela tem como clientes inúmeras empresas entre as listadas na
"Forbes 100". Da lista no website da Axiom (www.axiomlaw.com):
Cisco, IBM, Sun Macrosystems, Citigroup, Amazon, Chevron, Accenture,
Colgate-Palmolive, Dow Jones, Bolsa de Valores de Nova York, eBay, Google,
Yahoo!, Hotéis Hilton, Johnson & Johnson, Levi Strauss, Master Card, Orbitz,
Xerox, NBC Universal, Nokia, Time Warner, UBS, Viacom, Thomson Reuters, New York
Times e muitas outras menos conhecidas do grande público. E também a
General Electric, a Goldman Sachs, a Morgan Stanley,
o Credit Suisse e o Washington Post, segundo declarou em uma
reportagem sobre esse novo modelo de negócios o próprio Washington
Post.
Todos os clientes se declaram felizes com a excelência do trabalho e o baixo
custo, se comparado com as bancas que têm de remunerar regiamente a multidão de
sócios, todos os advogados contratados e todos os funcionários administrativos,
além de arcar com custos fixos e variáveis. Os advogados free-lancing,
mesmo os mais competentes e especializados, custam ao cliente de US$ 150 a US$
275 por hora — bem menos do que os custos de US$ 500 a US$ 700 por hora (em
alguns casos até US$ 1 mil), cobrados pelas bancas. Os advogados são contratados
só para efeito de manter os benefícios oferecidos pelas bancas, como o
seguro-saúde. Mas só são pagos por trabalho executado. Os custos da firma são
pelo menos 50% menores do que os de uma banca estabelecida, diz o advogado Mark
Harris, um de seus fundadores.
O mercado jurídico da firma é essencialmente o corporativo. E ela oferece
três tipos de serviços: projetos, insourcing (advogados são destacados
para trabalhar dentro de uma empresa) e outsourcing (a velha
terceirização). O sistema também beneficia, em todos esses tipos de serviço,
empresas que não têm cacife para contratar sua própria assessoria jurídica. Elas
se tornaram clientes frequentes da firma, chamando-a sempre que há um projeto
jurídico. Mas o sistema também atraiu as assessorias jurídicas das grandes
corporações. Em casos de projetos especiais, sai muito mais em conta contratar
os serviços de meio expediente, expediente integral, remoto, mas sempre
temporário, de um advogado especializado, do que chamar uma grande banca — um
custo 40% a 50% menor para o cliente.
A parte mais complexa da formação de uma firma com esse modelo de negócios é
conseguir advogados "com pedigree", de preferência com um alto nível de
especialização, diz o Wall Street Journal. Esse tipo de firma não vai
viver, durante um bom tempo, de sua boa reputação, porque não tem nenhuma. Vai
viver do currículo ou do nome dos advogados à disposição. Normalmente, os
fundadores dessas firmas vêm de grandes bancas, conhecem bem o mercado e os
colegas bem posicionados na comunidade jurídica.
Os advogados que vão integrar a equipe on-demand também vêm de
grandes bancas, mas não exclusivamente, e de assessorias jurídicas de grandes
corporações. Muitas vezes eles estão cansados do modus operandi da
grande banca, por diversas razões. Mas a principal motivação é a ideia que têm
de que há coisas mais interessantes para fazer na vida do que se dedicar em
tempo integral ao escritório de advocacia.
A advogada que é mãe, que quer dedicar mais tempo aos filhos, é um caso
clássico. Mas há quem tenha projetos nunca realizados, por falta de tempo: o
livro que nunca é escrito, o filme que nunca é produzido, o projeto individual
de vida que nunca é sequer iniciado porque a firma consome seu tempo e suas
energias. Alguns não querem mais ter chefe, mas não estão preparados, nem têm
disposição, para abrir a firma própria. Muitos advogados declararam aos jornais
Washington Post e The Wall Street Journal que fizeram
reportagens sobre o assunto, que ganham o mesmo dinheiro que percebiam na banca,
menos o bônus anual. Mas, têm muito mais tempo para fazer outras coisas.
A dificuldade de conseguir advogados de alto nível no começo transforma-se em
uma dificuldade de selecionar apenas os "craques", em pouco tempo. Hoje, a Axiom
seleciona apenas uma em cada cem inscrições de advogados. A empresa já tem mais
de 900 advogados e escritórios em Nova York (onde foi fundada), San Francisco,
Chicago, Los Angeles, Washington, Boston, Atlanta, Houston, Londres, Hong Kong,
Deli, Cingapura e Belfast. "As grandes bancas não param de fazer os seus
melhores advogados infelizes", declarou Mark Harris aos jornais.
As empresas que usam os serviços da Axiom afirmam que ela não substitui, de
modo algum, os contratos que mantêm com as grandes bancas ou as assessorias
jurídicas. "Essas firmas são muito boas para certos projetos, em que precisamos
de uma assessoria temporária em uma área específica, para a qual não faz sentido
contratar um advogado como empregado da empresa e nem entregar o problema a uma
grande banca", disse o vice-diretor da assessoria jurídica da Accenture, Chad
Jerdee, ao Washington Post. "As empresas sempre vão trabalhar com as
grandes bancas na maioria de suas questões legais", escreve o The Wall
Street Journal.
Segundo o jornal, o diretor da assessoria jurídica da Morgan Stanley deu um
exemplo específico. A empresa teve uma questão jurídica complexa sobre a
legislação de valores mobiliários. A Axiom entregou o trabalho a um advogado que
passou cerca de cinco anos na firma Cravath, Swaine & Moore LLP, que está
entre as da elite de Nova York. "O advogado fez um trabalho fantástico e nós
economizamos mais de 40% do que se recorrêssemos a uma grande banca", contou. O
advogado era Joe Risico, que "deixou a Cravath por causa da vida estressada e
porque queria fazer algo diferente", segundo disse ao jornal.
A sucursal de Washington começou com um advogado em 2009 e agora congrega 30
profissionais independentes. Projeta um crescimento de 100% para o terceiro
trimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. A receita
anual da Axiom cresceu de US$ 1 milhão em 2002 para US$ 80 milhões em 2011.
As firmas criadas no rastro da Axiom são a Paragon, de San Francisco
(Califórnia), a FSB Legal, de Atlanta (Georgia), a Outside GC, de Boston
(Massachusetts), e a Philips & Reiter, de Houston (Texas).
João
Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor
Jurídico nos Estados Unidos.
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