terça-feira, 10 de março de 2020

INVESTIGAÇÃO: CPI identifica computador do Senado como provedor de página de fake news

OGLOBO.COM.BR
Amanda Almeida e Bruno Góes

Dados enviados pelo Instagram à comissão registram 95 acessos ao perfil ‘snapnaro’, usado para agressões virtuais contra ex-aliados

CPI da Fake News recebe o primeiro ex-aliado de Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

BRASÍLIA — Apontada como uma das contas no Instagram usadas para disseminação de fake news e ataques a adversários do presidente Jair Bolsonaro, a página “snapnaro” foi editada por seu administrador na rede de computadores do Senado entre fevereiro e maio de 2019. É o que revelam dados encaminhados pela rede social à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News no Congresso e obtidos pelo GLOBO.
A “snapnaro” foi citada no depoimento da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder de governo Bolsonaro no Congresso, ao colegiado em 4 de dezembro de 2019. No mesmo dia, poucas horas depois do fim da oitiva da parlamentar, a conta foi apagada. A página havia sido criada em maio de 2017. Segundo documento enviado pelo Facebook, dona do Instagram, o autor se chama Arthur da Motta. A empresa não informou o CPF do usuário.
Posts do perfil snapnaro do Instagran, apontado como participante de uma rede de ataques a adversários de Bolsonaro e de disseminação de fake news Foto: Reprodução

Foram feitos 95 acessos pela rede do Senado durante os quatro meses citados. Nas publicações apagadas, o perfil divulgava notícias de blogs elogiosos a Bolsonaro e atacava parlamentares que romperam com o presidente. O vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) já interagiram com a conta e repercutiram suas publicações.
Conversas privadas
A lista enviada à CPMI — que traz outros milhares de acessos ao perfil, inclusive em outras cidades, como São Paulo, São Luís (MA), Saquarema (RJ) e Alegre (ES) — não detalha o que o usuário fez ao entrar na conta. Segundo Joice Hasselmann, a página integrava o “SECRETO2 G.O”, um grupo privado de conversas no Instagram do qual participavam outras cinco contas. A deputada acrescentou que todas as páginas foram usadas para difamar adversários de Bolsonaro. Ela própria, depois de romper com o presidente e ser retirada da liderança do governo, virou alvo do grupo. A parlamentar entregou aos colegas cópias de conversas e laudos que atestariam sua autenticidade.
Segundo Joice Hasselmann, além da “snapnaro”, faziam parte do grupo a “presidentebolsonarobr”, a “bolso_feios”, a “bolsolindas”, a “carlosopressor” e a “bolsoneas”. Na semana passada, outro documento encaminhado pelo Facebook à CPMI revelou que o perfil “bolso_feios” foi criado com um e-mail usado por Carlos Eduardo Guimarães, funcionário do gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A conta foi acessada pela rede de computadores da Câmara. A página saiu do ar na semana retrasada.
Em uma das conversas entregues pela deputada à CPMI, que teria ocorrido em meio ao racha do PSL em outubro do ano passado, o usuário “snapnaro” diz que é preciso “pegar pesado com os traidores”. A página “bolso_feios” responde: “Amanhã é o Julian”. A referência é ao deputado Julian Lemos (PSL-PB). A conta “snapnaro” escreve, então: “canalhas”.
A oposição e o centrão recolhem assinaturas para prorrogar a CPMI por mais 180 dias. O prazo final para a comissão é 13 de abril. Para prorrogar, são necessárias 27 assinaturas no Senado e 171 na Câmara, o que corresponde a um terço dos parlamentares de cada Casa. Segundo parlamentares, no Senado, já há número suficiente para pedir a continuidade do colegiado. Na Câmara, o movimento será intensificado esta semana.

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