quarta-feira, 11 de março de 2020

ECONOMIA: Ibovespa perde 7,64% após OMS declarar pandemia de coronavírus; dólar sobe a R$ 4,72

OGLOBO.COM.BR
Gabriel Martins, João Sorima Neto e Manoel Ventura

Bolsa acionou circuit breaker pela segunda vez em três dias, mecanismo que interrompe negociações, após índice cair mais de 10%

Índices acionários globais despencaram após OMS decretar pandemia de coronavíris Foto: Andrew Kelly / Reuters

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO — Em mais um dia de perdas expressivas nos mercados globais depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia do coronavírus, a Bolsa de Valores de São Paulo encerrou o pregão com desvalorização de 7,64% aos 85.171 pontos.
É o menor nível de pontuação desde 26 de dezembro de 2018, quando o Ibovespa fechou a 85.136 pontos. Pela segunda vez em três dias, foi acionado o circuit breaker, mecanismo que interrompe as negociações quando o índice cai mais de 10%. A Bolsa caiu 12% na segunda e subiu 7% ontem. Na semana, acumula perda de 13,08%.
Por volta de 15h14, o índice perdia 10,11% aos 82.887 pontos, e o pregão foi paralisado por 30 minutos. Na volta, o Ibovespa ampliou as perdas e chegou a cair 12%. Mas, segundo operadores consultados pelo GLOBO, um fluxo positivo no final da sessão para compra de ações, que ficaram baratas, acabou reduzindo a queda no encerramento do dia.
Declarações do presidente americano Donald Trump de que medidas econômicas e para a área de saúde serão anunciadas nesta noite também ajudaram a reduzir a desvalorização do índice.
O circuit breaker já havia sido acionado na segunda-feira, pela primeira vez desde 2017, quando a queda do Ibovespa atingiu 10,02%. Naquele dia, o Ibovespa fechou com baixa de 12,17%.
O dólar comercial chegou a ser negociado a R$ 4,756 na venda, nova máxima histórica durante o pregão, mas encerrou a sessão cotado a R$ 4,721, alta de 1,65%.
O índice afundou depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou, às 13h29 no horário de Brasília, pandemia mundial de coronavírus. A entidade vinha resistindo a caracterizar a disseminação da Covid-19 dessa forma há semanas, embora a nova doença tenha atingido mais de 110 países. O número de casos confirmados no Brasil subiu para 37, com dois novos casos no Rio. O número de casos suspeitos no país é de 876.
Também pesaram no humor dos investidores as frustrações com o pacote de estímulos nos EUA e a revisão para baixo do crescimento do PIB brasileiro pelo governo. O risco-país medido pelo Credit Default Swap (CDS), uma espécie de seguro contra caolte, subiu para 220 pontos, alta de 22,75% frente ao fechamento de terça, de 179 pontos.
- A declaração de pandemia feita pela OMS ampliou a incerteza sobre os impactos do vírus na economia global, que já era grande. A cada dia surgem mais informações negativas. A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, afirmou que 70% da população alemã terá coronavírus. No Brasil, espera-se um crescimento de casos em duas ou três semanas - disse Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Management.
As principais ações do índice apresentaram fortes perdas no final do dia: as ordinárias da Petrobras (ON, com direito a voto) recuaram 10,84% a R$ 16,37, enquanto a preferenciais (sem direito a voto) tiveram baixa de 9,74% a R$ 15,85. A Petrobras perdeu R$ 24,3 bilhões em valor de mercado nesta quarta. Na semana, a perda é de R$ 96,3 bilhões.
O valor do barril do petróleo tipo Brent recuou 4% a US$ 35,75. As cotações do petróleo tinham subido na terça-feira após o tombo recorde do início da semana, mas voltam a recuar nesta quarta-feira.
Vale ON perdeu 9,08% a R$ 40,74. A companhia perdeu R$ 21,5 bilhões em valor de mercado hoje e, na semana, perde R$ 20,4 bilhões.
Os papéis preferenciais do Bradesco perderam 8,09% a R$ 24,99 e os PN do Itaú desvalorizaram 8,14% a R$ 26,17
Apenas as ações ordinárias da TIM e as preferenciais da Vivo tiveram alta, respectivamente de 1,23% a R$ 15,70 e 0,48% a R$ 54,32. As duas empresas podem se unir para comprar a rede móvel da Oi.
As preferenciais da Gol perderam 14,57% a R$ 15,65 e as PN da Azul recuaram 16,39% a R$ 30,25. Os dois papéis ficaram entre as maiores baixas do Ibovespa.
Pela manhã, a expectativa frustrada de que os Estados Unidos iriam anunciar um pacote de estímulos à economia, para mitigar os efeitos do coronavírus - o que acabou não ocorrendo - levou as Bolsas americanas a abrirem em quedas superiores a 3%.
Com a informação de pandemia global, os índices americanos ampliaram a queda: o Dow Jones recuou 5,86%; o S&Pcaiu 4,89% e o Nasdaq perdeu 4,70%.
As bolsas europeias fecharam em baixa diante da frustação com o anúncio das medidas fiscais nos EUA. Nem a redução de 0,5 ponto percentual na taxa de juros (de 0,75% para 0,25% ao ano) feita pelo Banco da Inglaterra animou os investidores. Frakfurt caiu 0,35%, Londres perdeu 1,40% e Paris recuou 0,57%.
Para Fabrizio Velloni, sócio da Frente corretora de câmbio, a decretação de pandemia certamente forçará o Banco Central a voltar a fazer intervenções no mercado de câmbio, com venda de dólares no mercado à vista.
— O Banco Central fez um teste nesta quarta vendendo contratos de swap cambial em lugar de dólares no mercado à vista. Mas notícias como a pandemia do coronavírus, a revisão do PIB brasileiro para baixo e a frustração com o pacote de medidas nos EUA ampliaram as incertezas. Na minha avaliação, o BC terá que fazer novas intervenções no mercado à vista - disse Velloni.
Após vender dólares no mercado à vista nos últimos dias, o Banco Central voltou a atuar nesta quarta-feira por meio dos contratos de swap tradicional, que é um instrumento financeiro que equivale à venda de dólares. Foram vendidos 20 mil contratos, totalizando US$ 1 bilhão.
No cenário doméstico, o governo brasileiro reviu suas projeções para o crescimento da economia este ano e, agora, estima uma alta de 2,1%. Até janeiro, a previsão era de 2,4%. Mas muitos analistas do mercado já estimam um resultado ainda pior.
O banco UBS cortou sua projeção para o PIB brasileiro este ano de 2,1% para 1,3%, citando os impactos do surto do coronavírus e da queda no preço do petróleo.
Petróleo novamente sob pressão
O petróleo está sob pressão desde que Rússia e Arábia Saudita iniciaram, no último fim de semana, uma "guerra de preços". A Arábia Saudita pressionou a Rússia para reduzir produção e assim, segurar os preços do petróleo em meio à queda da demanda global por causa do coronavírus. A Rússia recusou e os sauditas revidaram ampliando produção e reduzindo preços.
— O cenário segue muito incerto. A Bolsa cai 12% num dia, sobe 7% no outro. O mercado vai continuar volátil porque ele depende de uma estabilização dos casos de coronavírus em escala global e também de medidas concretas de governos e bancos centrais para aliviar os impactos do vírus na economia — avalia Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais.
Falta de estímulos
Os investidores ficaram frustrados com a falta de um pacote mais completo de medidas fiscais nos Estados Unidos. Nesta quarta, o vice-presidente Mike Pence fez uma promessa de desonerar (cortar impostos) da folha de pagamento, sem dar mais detalhes sobre um pacote fiscal mais robusto.
O governo americano estuda adiar a data limite para o pagamento de impostos a determinados contribuintes e pequenas empresas. A medida poderia prover US$ 200 bilhões em liquidez à economia americana.
Por outro lado, o Reino Unido anunciou hoje um pacote de estímulos à economia britânica e uma redução nos juros básicos do país. Após a divulgação das medidas do Reino Unido, as Bolsas europeias começaram a subir e operam em alta em torno de 1%, mas perderam fôlego no final do pregão.
Na Ásia, os mercados fecharam em queda. A Bolsa de Tóquio recuou 2,27% e a de Xangai recuou 0,94%.
— Hoje, fica mais claro entender os impactos do que tanto se fala a respeito de estímulos. Os EUA anunciaram um pacote robusto na véspera, mas nada ainda foi concretizado, o que faz os índices americanos caírem. Já na Europa, com o pacote de 25 bilhões de euros para conter os danos econômicos do coronavírus, o cenário é de relativa estabilidade — destaca Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

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