terça-feira, 3 de março de 2020

ECONOMIA: Dólar fecha a R$ 4,51, novo recorde, mesmo após Fed atuar contra impactos do coronavírus

OGLOBO.COM.BR
Gabriel Martins

Na Bolsa, Ibovespa recua 1%, encerrando os negócios na faixa dos 105 mil pontos

Bolsa de São Paulo: expectativa de anúncio de ação coordenada pelo G-7 para combater efeitos do coronavírus não se confirmou Foto: Miguel Schincariol / AFP

RIO — A decisão do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) de reduzir em 0,5 ponto percentual os juros da economia americana para conter os efeitos econômicos do novo coronavírus levou instabildiade para os mercados. Em uma sessão marcada pela volatilidade, o dólar comercial encerrou os negócios com alta de 0,56%, a R$ 4,51, novo recorde para fechamento.
No mercado acionário, o Ibovespa (índice de referência da Bolsa de São Paulo) caiu 1,02%, aos 105.537 pontos, após ter subido 1,5%, logo após o comunicado do Fed.
Os analistas avaliam que, no primeiro momento, o corte nos juros dos EUA tende a levar temor ao mercado porque os investidores ficam em dúvida sobre a dimensão do impacto do Covid-19 (nome da doença causada pelo novo coronavírus) na economia.
— Agora, o corte do Fed tende a assustar o mercado porque os investidores ficar receosos quanto à dimensão dos impactos do coronavírus na economia. Se os EUA estão agindo, certamente estão preocupados com os impactos econômicos. — disse Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.
Mas, com uma leitura de longo prazo, Padovani avalia que o corte nos juros americanos podem favorecer o comércio global e, consequentemente, países emergentes como o Brasil.
— A médio prazo, se as grandes economias estão atuando agora para enfrentar a desaceleração que está sendo gerada a partir da China, o cenário pode ser avaliado de forma positiva, especialmente para emergentes, como o Brasil. O país acompanha o ciclo global, que é ditado por China, EUA e Europa. Quando eles atuam para fortalecer a economia, países da América Latina podem ser beneficiados no médio prazo.
Mais cedo, no início dos negócios, o mercado ficou um pouco frustrado com o resultado da reunião dos ministros das Finanças dos países membros do G-7 (bloco das nações mais ricas do mundo). As autoridades se limitaram a dizer que estavam prontos para agir com o objetivo de defender suas economias dos impactos do Covid-19.
No Ibovespa, as ações do setor bancário (de maior peso no índice) contribuíram para o recuo. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) do Banco do Brasil registraram desvalorização de 2,93%. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) do Bradesco e do Itaú Unibanco caíram, respectivamente, 1,61% e 1,82%.
Com a ligeira queda de 0,02% na cotação do barril de petróleo tipo Brent, negociado a US$ 51,89 quando o mercado brasileiro fechou, as ações ON e PN da Petrobras perderam, respectivamente, 2,14% e 1,81%
O corte do Fed também afetou Wall Street. O Dow Jones caiu 2,94%. S&P (mais amplo) e Nasdaq (tecnologia) recuaram, respectivamente, 2,81% e 2,99%. Em Nova York, os investidores também repercutiam os possíveis impactos do coronavírus que levaram o Fed a atuar.
A Europa foi na contramão e fechou em alta. Em Paris (CAC) e Frankfurt (DAX), os índices subiram, respectivamente, 1,12% e 1,08%. Em Londres, a valorização foi de 0,95%.
O índice FTSE MIB de Milão, centro econômico da Itália e epicentro dos casos de Covid-19 no país, fechou com valorização 0,43%.
Ação brasileira
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC brasileiro indicou que o corte na taxa básica de juros (Selic) tinha chegado ao fim. Entretanto, com a entrada no radar do mercado do coronavírus, uma possível forte desaceleração chinesa e a atividade econômica brasileira não decolando, especialistas passam a ver como improvável a manutenção dos juros no Brasil.
— O cenário mudou completamente desde a última reunião do Copom. Agora, a projeção é que já na próxima reunião de março os juros brasileiros passam por um novo corte. O Brasil tem espaço negativo para gastar e impulsionar a economia, as projeções para inflação estão abaixo da meta, então o corte de juros se torna necessário — avalia Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs. — Para a reunião de março, a projeção é de um corte de 0,25 ponto percentual.
Para o fim deste ano, o Goldman espera que a Selic esteja em 3,75%. Além disso, o banco reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2020. Agora, estima que a economia cresça 1,5%. Anteriormente, a projeção era de 2,2%.
As revisões ocorreu após os analistas do banco terem considerado um forte declínio no PIB do primeiro trimestre da China, interrompendo a cadeia de suprimentos em nível global. O Brasil é afetado porque é um grande exportador, tendo em Pequim um dos principais compradores de seus produtos.
Ramos avalia que, dependendo da disseminação do coronavírus e quanto tempo ele levará para ser contido, os efeitos na economia global ainda podem ser mais acentuados:
— Há muita incerteza por conta do vírus. Em uma leitura de longo prazo, ainda poderemos observar um cenário pior. Se a economia global entrar em dois trimestres seguidos de queda, a indicação será de uma recessão global. Dependendo de como o impacto na economia for acontecendo, o cenário que estamos observando nesses dias ainda não é o pior possível.
Gersan Zurita, vice-presidente sênior da agência Moody's, também acredita que o BC brasileiro reduza juros, na esteira da medida do Fed.
— A decisão do Fed pode movimentar os Bancos Centrais de países emergentes, incluindo o Brasil, e também de países mais ricos, que pratiquem juros mais elevados, a atuar via estímulo monetário, cortando as taxas. No Brasil, por conta do Orçamento, fica difícil haver estímulos fiscais. Então a saída acaba sendo corte nos juros.
A Moody's ainda não revisou a projeção de PIB do Brasil para este ano.
De forma mais prática, o coronavírus na China afeta a oferta, uma vez que fábricas estão fechadas ou com funcionários em férias coletivas. Os cortes de juros, por sua vez, afetam a demanda, deixando empréstimos mais baratos, por exemplo.
Zurita, da Moody's, avalia que os cortes de juros são importantes para que as cadeias industriais que ainda estão em produção mantenham suas operações.
— Por exemplo, empresas brasileiras que precisam de insumos chineses, mas não podem fazer essas compras por canais tradicionais por conta do coronavírus. Assim, será necessário adotar outra logística, provavelmente mais cara, para manter as compras. Com os juros mais baixos, esse encarecimento de transporte tende a ser mitigado na ponta por causa de empréstimos mais baratos.
O vice-presidente sênior da Moody's acredita que países onde o ajuste monetário não seja possível, os estímulos podem vir por meio de medidas fiscais:
— Na Alemanha, por exemplo, que está sob o guarda-chuva do Banco Central Europeu, a decisão de cortar juros é um pouco mais complicada. Assim, o país tem condições de combater o impacto da doença na economia por meio de estímulos fiscais, como a desoneração da folha de pagamento, no curto prazo, e a adoção de pacotes de infraestrutura, para longo prazo.

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