segunda-feira, 2 de abril de 2018

MUNDO: Morre Winnie Mandela, ativista anti-apartheid sul-africana

OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO / COM REUTERS

Ex-presidente Nelson Mandela, ela se envolveu em polêmicas que prejudicaram sua reputação

Winnie Madikizela-Mandela, ativista anti-apartheid e ex-mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela - ODD ANDERSEN / AFP

CIDADE DO CABO - Morreu a ativista Winnie Madikizela-Mandela nesta segunda feira na África do Sul, aos 81 anos. Nome proeminente na luta contra o racismo e contra o sistema de segregação racial conhecido como apartheid, ela foi mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, o primeiro negro eleito ao cargo.
Aclamada como a mãe da "nova" África do Sul, o legado de Winnie Madikizela-Mandela como heroína foi desfeito quando ela se revelou como uma ideóloga radical preparada para sacrificar leis e vidas em busca de revolução e reparação. A adoção de métodos severos e a recusa em perdoar contrastavam drasticamente com a reconciliação defendida por seu ex-marido Nelson Mandela enquanto trabalhava por uma democracia estável e plural no lugar de uma sociedade dividida e oprimida pelo apartheid.
A contradição ajudou a arruinar o casamento dos dois, e destruiu a estima recebida de muitos sul-africanos, embora a ativista tenha recebido apoio de nacionalistas negros radicais até o fim.
No auge de sua luta política, ela se envolveu em vários impasses com uma autoridade que veio a prejudicar sua reputação como combatente contra o regime de minoria branca que governou a maior economia da África entre 1948 e 1994.
Durante os 27 anos de prisão de Mandela, Winnie defendeu incansavelmente sua libertação e os direitos dos negros sul-africanos, que enfrentavam anos de detenção, proibições e prisões por autoridades brancas.
Ela se manteve firme e forte durante o período, até caminhar com o punho fechado no ar lado a lado com o ex-marido quando ele saiu da prisão de Victor Vester na Cidade do Cabo em 11 de fevereiro de 1990. Como mario e mulher, foi um momento de coroação que levou, quatro anos depois, ao fim de séculos de dominação branca, quando Mandela se tornou o primeiro presidente negro do país.
CONDENADA POR VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS
No entanto, para Winnie Mandela, o fim do apartheid marcou o começo de uma corrente de conflitos legais e políticos que, junto a histórias sobre um estilo de vida glamuroso, a mantiveram sob holofotes por outros motivos.
Com o surgimento de evidências nos últimos anos do apartheid sobre a brutalidade de seus executores no bairo de Soweto, o time Mandela United Futebol Clube (Mufc) mudou a alcunha dela de "mãe da nação" para "ladra". Culpada pela morte do ativista Stompie Seipei, que foi encontrado perto da casa dela no bairro de Soweto com a garganta cortada, ela foi condenada em 1991 por sequestro e agressão o jovem de 14 anos que era suspeito de delação. Sua sentença de seis anos de prisão foi reduzida a uma multa.
Ela e Nelson Mandela se separaram em 1992, e sua reputação afundou mais ainda quando ele a retirou de seu gabinete em 1995, após acusações de corrupção. O casal de divorciou um ano depois, após o qual ela adotou seu sobrenome Madikizela-Mandela.
Diante da Comissão de Verdade e Reconciliação (TRC, em inglês) criada para investigar atrocidades cometidas por ambos os lados durante o apartheid, Winnie se recusou a expressar remorso por sequestros e assassinados realizados em seu nome. Apenas após pedido do líder da comissão, o arcebispo Desmond Tutu, ela admitiu contra sua vontade que "as coisas deram horrivelmente errado". Em seu relatório final, a comissão determinou que Winnie Madikizela-Mandela era "politica e moralmente responsável por grandes violações de direitos humanos cometidos pelo Mufc".
Quatro anos depois, ela voltou ao tribunal, enfrentando acusações de fraude e roubo em relação a um elaborado esquema de empréstimo bancário.
— Em algum lugar parece que algo deu errado — disse então o magristrado Peet Johnson quando sentenciou Winnie a cinco anos de prisão, contornado depois com um recurso. — Você deveria servir de o exemplo para todos nós.

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