segunda-feira, 29 de junho de 2015

CASO PETROBRAS: Dilma diz que ‘não respeita delator’ e cita doação da UTC a Aécio

OGLOBO.COM.BR
POR ISABEL DE LUCA E CAROLINA MATZENBACHER*

Em Nova York, Dilma nega irregularidades na campanha eleitoral

Dilma participa em Nova York do Encontro Empresarial sobre Oportunidades de Investimento em Infraestrutura no Brasil - Divulgação

NOVA YORK (EUA) — “Eu não respeito delator”, disse a presidente Dilma Rousseff na tarde desta segunda-feira, em sua primeira reação pública ao depoimento do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa. Em breve conversa com a imprensa após encerrar, em Nova York, um seminário sobre oportunidades de investimento em infraestrutura no Brasil, Dilma negou as acusações de repasses irregulares para a sua campanha de reeleição e prometeu tomar providências se voltar a ser citada pelo empreiteiro, mas defendeu que a Justiça investigue as denúncias.
– Não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro porque não houve. Segundo porque, se insinuam, alguns têm interesses políticos – declarou.
ilma citou o tucano Aécio Neves, argumentando que se ela recebeu R$ 7,5 milhões da UTC no segundo turno da campanha presidencial de 2014, o candidato do PSDB também foi agraciado “com uma diferença muito pequena de valores”.
- A minha campanha recebeu dinheiro legal, registrado, de R$ 7 milhões, R$ 7,5 milhões. Na mesma época que eu recebi os recursos, pelo menos uma das vezes, o candidato que concorreu comigo recebeu também, com uma diferença muito pequena de valores - dissse Dilma para depois acrescentar ao ser perguntada se estava falando de Aécio Neves: - Eu estou falando do Aécio Neves, só tinha um candidato que concorreu comigo, não tinham dois.
A presidente lembrou que aprendeu cedo a não gostar de Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira:
– Tem uma coisa que me acompanhou ao longo da vida. Em Minas, na escola, quando você aprende sobre a Inconfidência Mineira, tem um personagem que a gente não gosta porque as professoras nos ensinam a não gostar dele. Ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator. Eu não respeito delator.
Joaquim Silvério dos Reis foi responsável por delatar à Coroa portuguesa a Inconfidência Mineira, movimento pela proclamação da República em Vila Rica, hoje Ouro Preto (MG). Em troca do perdão de dívidas, Reis entregou o plano e o nome dos participantes da conspiração, o que levou à repressão do movimento e à condenação de seus líderes, entre eles Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, condenado à morte.
E recorreu, mais uma vez, à sua experiência durante a ditadura:
– Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em uma delatora; a ditadura fazia isso com as pessoas presas. E eu garanto para vocês que eu resisti bravamente, até em alguns momentos fui mal interpretada, quando eu disse que, em tortura, a gente tem de resistir, porque senão você entrega seus presos. Então, não respeito nenhum. Agora, acho que a Justiça de pegar tudo o que ele disse e investigar. Tudo, sem exceção. A Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal.
Quando a perguntaram se pretende tomar alguma providência, ela foi categórica:
– Se ele falar sobre mim, eu tomo.
Quanto aos seus ministros – Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, foram citados na delação –, a presidente afirmou que vai discutir com cada um privadamente:
– Aí nós vamos avaliar com cada ministro, porque é foro deles.
No depoimento de delação premiada, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono das construtoras UTC e Constran, apontado como chefe do “cartel das empreiteiras”, listou como beneficiários de recursos da empreiteira a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014; a campanha do ex-presidente Lula em 2006; a campanha de Mercadante, ao governo de São Paulo em 2010; e mais cinco senadores e três deputados federais. O Ministério Público Federal e a PF vão investigar se as doações foram legais ou se houve irregularidades.
O empresário diz que boa parte dos recursos, mesmo os declarados, repassados a políticos é compensada por desvios de contratos com a Petrobras. Para investigadores,isso pode ser considerado ilegal, mesmo havendo registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outra interpretação é que, se a denúncia se comprovar, haveria corrupção, pelo fato de o empresário ser obrigado a doar para obter contratos, e ainda lavagem de dinheiro, porque recursos da estatal poderiam ter sido drenados para doações de políticos do governo.
(*Especial para O GLOBO)

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