quarta-feira, 22 de abril de 2015

NEGÓCIOS: Petrobras divulga R$ 6,19 bi de perdas com corrupção e tem prejuízo de R$ 21,58 bi em 2014

OGLOBO.COM.BR
POR BRUNO ROSA, HENRIQUE GOMES BATISTA, MARCELLO CORRÊA, RAMONA ORDOÑEZ E RENNAN SETTI

O resultado é praticamente o inverso ao apurado em 2013, quando a estatal teve lucro de R$ 23,6 bilhões

O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, e o diretor financeiro Ivan de Souza Monteiro - Marcelo Carnaval / O Globo
RIO - A Petrobras registrou prejuízo R$ 21,58 bilhões no ano de 2014, impactada por perdas de R$ 44,63 bilhões em função da desvalorização de ativos e de outros R$ 6,194 bilhões relativos a valores desviados no esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato. O resultado é praticamente o inverso ao apurado em 2013, quando a estatal teve lucro de R$ 23,6 bilhões. Acompanhe o tempo real.
De acordo com o balanço auditado divulgado nesta quarta-feira, os pagamentos adicionais indevidos atingiram contratos que, no total, somaram R$ 199,6 bilhões. A baixa contábil provocada por corrupção ficou concentrada no resultado do terceiro trimestre de 2014, "em função da impraticabilidade de se determinar os efeitos específicos em cada período no passado".
O prejuízo foi calculado usando a aplicação de percentual fixo de 3% sobre o valor de contratos — número citado nos depoimentos da Lava-Jato. Para definir o período e montante de gastos adicionais, a Petrobras levantou todas as companhias citadas como membros do cartel e concluiu, com base nos depoimentos, que o período de atuação do esquema de pagamentos indevidos foi de 2004 a abril de 2012
Segundo o balanço, 55% das perdas com corrupção foram detectados na área de Abastecimento, que foi controlada por Paulo Roberto Costa, num total de R$ 3,42 bilhões. Já a área de Exploração e Produção provocou perdas de R$ 1,97 bilhão, equivalente a 32% do total. O restante do gasto com corrupção foi diluído pelas áreas de Distribuição, Internacional e Corporativo.
A petroleira informou ainda que seu balanço considera uma perda de R$ 44,63 bilhões por causa da desvalorização de ativos no período, o chamado "impairment". Deste total, R$ 30,9 bilhões foram provocados pela avaliação dos projetos do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), "tendo em vista a postergação desses projetos por extenso período, motivada por medidas de preservação do caixa e problemas na cadeia de fornecedores oriundos das investigações da Operação Lava-Jato", observou a empresa. O Comperj, sozinho, representou perdas de R$ 21,833 bilhões. Já Abreu e Lima gerou perdas de R$ 9,143 bilhões.
‘PETROBRAS NÃO VAI PARAR’
Durante a coletiva de imprensa, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou que a baixa contábil de R$ 6,2 bilhões referente aos casos de corrupção pode ser modificada, de acordo com os desdobramentos da investigação Lava-Jato:
— Qualquer variação significativa, para mais ou para menos, a companhia virá de público se pronunciar.
Segundo ele a apresentação dos resultados auditados é importante para recuperar a credibilidade da empresa.
— Estamos dando um passo fundamental em direção ao pleno resgate da credibilidade da Petrobras junto aos seus acionistas, fornecedores, ao mercado e à sociedade — destacou o executivo. — A Petrobras não vai parar. Ela não vai entrar em marcha à ré.
Bendine disse ainda que a empresa vai retomar sua capacidade de geração de valor e adiantou que a estatal divulgará mudanças em seu plano de negócios.
— Temos a convicção de que a companhia vai retomar sua capacidade de geração de valor. Nosso maior ativo é o quadro de pessoal. São pessoas engajadas. Estamos revendo ainda o nosso plano de negócios e, sendo aprovados, vamos voltar a publico.
Em janeiro a Petrobras informou, em balanço não auditado, que havia registrado lucro líquido de R$ 3,087 bilhões no terceiro trimestre de 2014. Agora, a empresa indica um prejuízo de R$ 5,339 bilhões no período. Segundo os resultados da estatal, isso ocorre porque, a Petrobras considerou as perdas de R$ 6,194 bilhões com corrupção e ampliou a provisão para recebíveis do setor elétrico (ou seja, elevou o risco de calote) em R$ 1,602 bilhão. Além disso, a companhia fez a "reclassificação de R$ 1.112 milhões do ajuste ao valor de mercado dos estoques, transferido de outras despesas líquidas para custo dos produtos e serviços vendidos".
REDUÇÃO DOS INVESTIMENTOS ATÉ 2016
Para 2015, a empresa prevê investimentos de US$ 29 bilhões, menos que os US$ 35 bilhões do ano passado. Para 2016, o investimentos cairá para US$ 25 bilhões. A estatal prevê ainda uma necessidade de captações de US$ 13 bilhões neste ano. Assim, a companhia deve chegar ao fim do ano com caixa de US$ 20 bilhões.
Para 2016, a Petrobras prevê desinvestimentos de US$ 10 bilhões e uma produção de total de 2,886 milhões de barris. Atualmente, a produção gira na casa dos 2,5 milhões de barris. Para 2016, o investimentos será de US$ 25 bilhões.
Ao comentar as recentes captações anunciadas pela empresa, Bendine negou que a empresa esteja planejando vender ativos do pré-sal. Ele negou ainda que as recentes captações no mercado financeiro prevejam outras contrapartidas, como uma suposta troca de petróleo com a China.
— Ao contrário do que se tem divulgado, as operações anunciadas pela companhia são puramente financeiras. Não existe qualquer outro compromisso em relação a outras contrapartidas que não sejam financeiras — afirmou.
Bendine disse ainda que a Petrobras não vai pagar dividendos aos acionistas referentes a 2014:
— Não haverá pagamento de dividendos. Simplesmente não vamos pagar.
Mario Jorge, gerente executivo, apresenta o balanço da Petrobras sobre os resultados de 2014 - Marcelo Carnaval / O Globo
O balanço desta quarta-feira indicou ainda que o preço internacional do petróleo provocou perdas de R$ 10 bilhões na exploração e produção de petróleo e gás natural. Já a redução na demanda e nas margens do segmento petroquímico, segundo a Petrobras, provocaram perdas de R$ 2,9 bilhões.
Com o aumento do dólar, o índice de alavancagem subiu de 39% para 48% entre 2015 e 2016. A alavancagem é a relação entre o endividamento líquido e a geração de caixa operacional. Assim, a companhia chegou ao fim de 2014 com uma dívida líquida de US$ 106,2 bilhões, maior que os US$ 94,6 bilhões ao fim de 2015.
— O dólar explica em grande parte o aumento do endividamento — disse Mauro Jorge Silva, gerente de desempenho da empresa.
O endividamento total da companhia cresceu 31% em 2014, passando de R$ 267,8 bilhões, em 2013, para R$ 351,0 bilhões no ano passado. A maior alta do endividamento ocorreu em papéis de curto prazo, que passaram de R$ 18,8 bilhões em 2013 para R$ 31,6 bilhões em 2014, uma alta de 68%. A dívida de longo prazo passou de R$ 249 bilhões para R$ 319,5 bilhões no ano passado, alta de 28%.
Apesar dos problemas, o faturamento da Petrobras cresceu 10,6% no ano passado, atingindo R$ 337,26 bilhões. Isso graças ao fato de a companhia ter reajustado os preços dos combustíveis que vende no Brasil acima dos preços internacionais. Ela também ressaltou que houve aumento da demanda por derivados no mercado interno.
As ADRs da Petrobras — suas ações negociadas nos EUA — despencaram cerca de 4% após a divulgação do balanço no "after-market" (após o fechamento da Bolsa), mas agora sobem com força: 3,25%, a US$ 9,23.

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