quinta-feira, 6 de novembro de 2014

COMENTÁRIO: Uma nova oposição

Por Samuel Celestino - BAHIA NOTÍCIAS

Se não for mera ressaca pós-eleitoral, um clima de mudança terá tomado conta do País, diante da ascensão de uma oposição que antes não se observava no Congresso Nacional. Desde os primeiros dias que sequenciaram a eleição presidencial percebe-se um processo de ebulição oposicionista, consequência da campanha. O PMDB, aliado do PT, saiu do pleito baleado, tecendo severas críticas ao petismo em respostas às derrotas que sofreu em eleições governamentais em, pelo menos, três estados. O PT não o apoiou. Pelo contrário, preferiu o adversário. Estava exclusivamente focado para a eleição de Dilma, não nos interesses peemedebistas.
A ressaca do acontecido transpareceu logo nos primeiros dias pós-eleição, especialmente na Câmara dos Deputados. Por ora, há uma tendência de o PMDB se afastar aos poucos do PT, deixando-o em dificuldades porque, sozinho ou com partidos minúsculos o apoiando, não terá condições de dar sustentabilidade ao novo mandato presidencial. Transparece e aumenta a perspectiva de o PMDB realizar uma atuação no Congresso agindo ora como oposição, ora como governo, o que estabelecerá uma situação de incerteza para Dilma Rousseff.
A oposição que emergiu das urnas com o pequeno distanciamento de Dilma para Aécio deu à oposição um alento que a ela faltava e à bancada governista um interrogação que poderá ser traduzida como a falta de certeza no apoio parlamentar. Isto ficou, aliás, claro na recepção a Aécio Neves, no seu retorno ao Senado na terça-feira. Foi de festa, como poucas vezes um oposicionista foi recebido depois de ser derrotado pelas urnas.
Aécio passou de derrotado à condição de principal líder de oposição no País e logo na sua chegada. No discurso que fez, deixou claro que comandará “o exército da oposição”. A chegada do candidato derrotado foi importante para o PMDB. Quanto mais a oposição se valorizar o PMDB ficará aumentará o seu preço, embora exista, também, neste cenário de agora, outro fato novo: o PMDB passou a entender que é mais importante agir dentro da Câmara e do Senado do que com cargos no governo, que o deixa amarrado ao Palácio do Planalto. Como o velho ditado ensina que “o vício do cachimbo põe a boca torta”, nunca se sabe o que virá a acontecer, a não ser na prática legislativa.
Assim como o petismo, o governo Dilma e o PMDB vivem assustados com as consequências do escândalo da Petrobras que, no início do novo mandato presidencial, será uma sombra que acompanhará o governo petista. Um transtorno para a presidente. Ademais, como tal escândalo que municiava os partidos governistas e as campanhas como dinheiro da estatal, agora a grande fonte da petroleira secou e será difícil encontrar outra com tal capacidade de tirar dinheiro sujo, misturado com óleo, da camada do pré-sal.
Na sua chegada, Aécio disse verdades interessantes: “Vou ser oposição sem adjetivos. Se quiserem dialogar, apresentem propostas que interessem aos brasileiros”. E mais: “Somos hoje um grande exército a favor do Brasil e prontos para fazer a oposição que a opinião pública determinou que fizéssemos”. Vê-se, então, que o momento político brasileiro, como está na primeira oração deste comentário, a hora parece ser mesmo de mudança porque nas derrotas anteriores sofridas pelo PSDB, finda a eleição todos se recolhiam cabisbaixo. Não é o caso que ora se verifica. Há uma oposição decidida a agir como é normal numa democracia.
De outro modo, iniciaram movimentos populares em ruas das capitais, mas completamente divorciados dos interesses do País. Grita pedido o impeachment de Dilma, algo sem sentido, assim como o absurdo dos absurdos que vem de uma direita extremada, senão desenterrada de velhos sarcófagos a exigir o retorno das forças armadas ao comando da República. Coisa de doido.
Tudo é resultado de um momento que não contempla a realidade que se quer. Mas é fato que há uma ebulição o que significa que o Brasil, ao final da campanha presidencial, emergiu mais politizado. Enquanto isso o PT, em mais um erro, continua a falar em “representantes do atraso” e sai com uma campanha convocando sua “Militância às armas” - "arme-se com argumentos para rebater a ignorância nas redes e nas ruas", como explica o texto publicado no Facebook.
* Coluna publicada originalmente na edição desta quinta-feira (6) do jornal A Tarde

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