quinta-feira, 10 de abril de 2014

COMENTÁRIO: Fracasso anunciado

De OGLOBO.COM.BR
Do blog do MERVAL PEREIRA
Por MERVAL PEREIRA

Em ano eleitoral, em que a diferença entre a percepção e a realidade amplia-se muito devido à disputa política, há pouco espaço para uma análise mais profunda acerca das limitações do modelo econômico vigente, embora elas possam estar apontando para épocas futuras mais sombrias. É por esta razão, e com visão crítica, que os economistas Fabio Giambiagi e Alexandre Schwartsman,escreveram o livro "Complacência – Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode”, publicado pela da editora Campus, lançado esta semana.
Um exemplo para ser pessimista: na última década, a taxa anual média de crescimento da economia brasileira foi de 3,5%. Neste mesmo período, as taxas médias de Chile, Colômbia e Peru foram de 4,6 %, 4,7 % e 6,4%, respectivamente, enquanto o vizinho Uruguai cresceu 5,1 % ao ano. É bem possível que, ao fim do mandato da presidente Dilma, a taxa média dos quatro anos mal chegue a 2%.
Os economistas demonstram que um conjunto de fatores contribuiu para o êxito das políticas oficiais depois de 2003, sobretudo a relação entre os preços das exportações e das importações, as baixas taxas de juros internacionais, a taxa de câmbio e os excepcionais dados do emprego, fatores que os economistas denominam de “quadrado mágico”. "Até o começo da atual década, vivemos a "fase fácil" e, para crescer, bastava injetar demanda na economia. Mas era algo que cedo ou tarde iria acabar. O fracasso do modelo adotado, após a fase da bonança mundial, estava anunciado”, afirma Giambiagi.
Com o início da “etapa difícil”, quando foi necessário expandir a capacidade de oferta, o governo falhou, na visão dos autores. Desta forma, a poupança doméstica se manteve baixa, incapaz de financiar o investimento requerido, e tivemos o que chamam de “risível crescimento da produtividade”: apenas 1% ao ano entre 2001 e 2011. Na China, no mesmo período o crescimento da produtividade foi de 9,9% e na Índia 6,4%.
“O fato é que a maior parte dos países está se preparando com afinco para um mundo de muita competitividade, mas o Brasil está deixando a desejar”, alertam os economistas, para quem as contas da política econômica da última década estão chegando. Para os autores de “Complacência – Entenda por que o Brasil cresce menos do que pode”, um dos mais urgentes problemas atuais a ser solucionado é a escassez de mão de obra qualificada, através de um incremento do esforço educacional.
O grupo de pessoas que está no mercado de trabalho, a chamada população economicamente ativa, cresce a taxas cada vez menores. “A pirâmide etária brasileira sofrerá uma alteração dramática nas próximas três décadas e meia, relata Giambiagi. Em razão do peso da questão demográfica e dos resultados do país no campo da educação, a tendência à baixa produtividade se manterá, representando um constrangimento sério para o crescimento econômico futuro do país”.
A Índia e a China massificaram o envio de estudantes a universidades internacionais renomadas. Na Coréia do Sul, 64 % da geração entre 25 a 34 anos se formou em universidade (dados de 2011), representando um ganho de 51 pontos percentuais em relação à geração mais velha com idade entre 55 a 64 anos - que contabiliza somente 13% de pessoas com curso superior.
No caso do Brasil, onde apenas 9% da geração com idade entre 55 a 64 anos tem curso superior, a atual proporção de 13 % de pessoas com formação superior na geração de 25 a 34 anos revela um incremento de modestos quatro pontos percentuais, e representa três vezes menos que a taxa do Chile (41%) e quase quatro vezes menos que a taxa da Russia (56%). 
Os autores também destacam que a proporção de alunos que conclui o ensino médio no Brasil é muito baixa em termos comparativos, não só em relação aos países mais avançados, como também em relação a outras economias emergentes. Enquanto no Brasil apenas seis de cada 10 pessoas na faixa de 25 a 34 anos concluíram o ensino médio, no Chile essa proporção é de nove de cada 10 pessoas neste grupo etário.
Para retomar o crescimento sustentado com vistas a ganhos de competitividade, eficiência e produtividade, para substituir o “quadrado mágico”, que já não existe mais, Giambiagi e Schwartsman sugerem o “pentágono virtuoso", representado pela ênfase em i) competição; ii) poupança; iii) infraestrutura; e iv) gasto público eficiente, e v) investimento em educação. E ressaltam que o roteiro de reformas precisa ser complementado.

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