segunda-feira, 17 de março de 2014

COMENTÁRIO: Campos acha o timbre de sua campanha: cáustico com Dilma, uma seda com Lula

Por Josias de Souza - UOL.COM.BR
Do blog do JOSIAS DE SOUZA

Movido a pesquisas de opinião, o presidenciável Eduardo Campos, do PSB, encontrou o timbre da primeira fase de sua campanha. Egresso do bloco do governo, ele é ácido nas críticas à gestão de Dilma Rousseff, é dócil nas referências a Lula e é respeitoso nas menções a Fernando Henrique Cardoso. Com essa combinação, planeja quebrar a polarização PT-PSDB, que marca as sucessões presidenciais no Brasil desde 1994.
Em privado, Lula revela-se mais preocupado com Campos do que com Aécio. A estratégia do amigo pernambucano, desarruma o cenário que esboçara para 2014, no qual a oposição seria obrigada a aceitar a reedição do plebiscito: nós, do governo democrático e popular, contra eles, neoliberais e demofóbicos. A chapa Eduardo Campos-Marina Silva, dois ex-ministros de Lula, injeta na cena uma novidade com a qual o petismo nunca lidou: em vez do nós contra eles, o nós contra nós mesmos.
Na fórmula idealizada por Lula e implementada pela marquetagem petista desde 2010, Dilma é uma técnica competente que dá continuidade ao governo do seu criador. No modelo adotado por Campos, Dilma é uma gestora precária que “não deu conta de melhorar o país” e ainda põe em risco as “conquistas” obtidas antes dela —a estabilidade econômica, por exemplo.
Para aprumar o seu discurso, Campos fez o que todos os candidatos fazem em épocas eleitorais: instalou uma sonda na cabeça do eleitor. Numa prática apelidada de “pesquisa qualitativa”, brasileiros de diferentes faixas sociais são reunidos em salas fechadas e passam horas debatendo temas conjunturais. Especialistas na alma humana anotam as angústias, recolhem as opiniões e repassam ao candidato relatórios com o mapeamento da vontade média dos pesquisados.
Em essência, essas pesquisas revelam: a) uma apreensão com o futuro, b) um desejo difuso por mudanças, e c) uma baixa taxa de conhecimento e de crença nos nomes alternativos a Dilma. Campos se equipa para preencher as lacunas. Ao carregar nas tinhas —“ninguém aguenta mais quatro anos” de Dilma —tenta firmar-se, desde logo, como alternativa. Para parecer confiável, realiza um ciclo de seminários “programáticos” em diferentes Estados. Já fez dois: um em Porto Alegre, no mês passado. Outro no Rio, neste final de semana.
Enquanto Lula se preocupa, Aécio Neves se anima. Há quatro dias, o presidenciável do PSDB analisou a estratégia de Campos numa reunião com quatro de seus operadores políticos: os senadores Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Cássio Cunha Lima (PB); e os deputados Marcus Pestana (MG) e Bruno Araújo (PE).
Concluíram que a marcha de Campos rumo à jugular de Dilma tende a engordar o cesto de votos da oposição num eventual segundo turno. Munidos de autocritérios, acham que o PSDB, mais bem estruturado do que o PSB, tem mais chances de chegar ao segundo round. Falta combinar com os russos. Mas, considerando-se a agenda negativa que assedia Dilma, a oposição, agora adensada por Campos, parece abandonar devagarinho o estado de paralisia física e cerebral.

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