De OGLOBO.COM.BR
Segundo Itamaraty, Brasil tem exclusividade na
compra até 2023
BRASÍLIA E BUENOS AIRES - O Itamaraty informou nesta quinta-feira não ter
recebido qualquer comunicado do Paraguai sobre a suposta intenção de alterar as
atuais regras de fornecimento de energia da usina hidrelétrica binacional de
Itaipu. Destacou que o Brasil tem interesse em continuar a comprar a energia e
lembrou que há um acordo bilateral que assegura ao país exclusividade na
aquisição do insumo até 2023.
Na última quarta-feira, declarações do presidente Federico Franco de que não
estaria disposto a continuar “cedendo” a energia excedente da hidrelétrica para
Brasil e Argentina foram publicadas no site oficial do governo.
Presidente da usina contemporiza
O presidente de Itaipu, Jorge Samek, minimizou o episódio, dizendo que houve
uma grande “confusão”. Samek contou que se reuniu durante toda a manhã de ontem
com a nova diretoria paraguaia da usina e com seu presidente, Franklin Boccia,
engenheiro do setor formado no Brasil.
— Foi um mal-entendido. O presidente do Paraguai quer a industrialização do
país, a mesma coisa que o Brasil quer: o desenvolvimento de todos os países da
região — disse.
Neste ano, segundo Samek, o Brasil pagará cerca de US$ 3,6 bilhões, ou 90% da
energia produzida pela hidrelétrica, e o Paraguai vai desembolsar US$ 300
milhões pelos outros 10%. Esses recursos serão usados para pagar parcela da
dívida contratada pela Eletrobras para a construção de Itaipu, além de juros,
royalties e modernização dos equipamentos. Metade dessa dívida é do Brasil; a
outra metade, do Paraguai.
— Queremos é produzir energia, e nenhuma diretoria deixou que a política
interferisse no funcionamento de Itaipu — disse Samek.
Atualmente seria inviável para o Paraguai absorver a energia produzida por
Itaipu que é vendida para o Brasil, disse Ricardo Canese, ex-coordenador da
Comissão de Entes Binacionais Hidrelétricos do governo Lugo.
— O Paraguai não tem redes de transmissão para receber essa energia nem
industrias para utilizá-la. Franco é mentiroso ou ignorante. O que ele propõe é
impossível de ser aplicado e seria como jogar uma bomba no Paraguai —
afirmou.
As declarações do presidente do Paraguai repercutiram no Congresso. O líder
do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), disse acreditar que o Paraguai blefou ao
ameaçar romper o acordo:
— Acho que não vai acontecer, creio que o bom senso vai prevalecer. É mais um
blefe. O Paraguai vai abrir mão do que recebe do Brasil? Do ponto de vista
econômico, não é viável. Nós renegociamos recentemente o valor, ele foi
aumentado. O Paraguai não usa essa energia. Se deixar de fornecer para o Brasil,
vai mandar para onde?
Durante o governo do ex-presidente Fernando Lugo, foi fechado um acordo com o
Brasil e o preço da energia excedente de Itaipu foi praticamente triplicado,
passando de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões ao ano.
O Brasil também financia a construção de uma importante linha de transmissão
para os paraguaios, com custo total de US$ 555 milhões.
Itaipu é responsável por 16,9% da energia consumida no Brasil e abastece
72,91% do consumo paraguaio.
Comentários:
Postar um comentário