segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

CASO PETROBRAS: Mulher de marqueteiro sabia que recursos eram ilícitos, diz juiz

FOLHA.COM
MARIO CESAR CARVALHO
FELIPE BÄCHTOLD
DE SÃO PAULO

Reprodução 
Assinatura de Mônica Moura, mulher de João Santana, aparece em contrato da offshore Shellbill Finance

A Polícia Federal começou a investigar o marqueteiro João Santana ao apreender um bilhete da mulher dele, a jornalista Mônica Moura, com Zwi Skornicki, apontado pela polícia como um repassador de propinas em contratos com a Petrobras. A apreensão ocorreu em fevereiro de 2015, na nona fase de Lava Jato.
Junto com o bilhete, a jornalista enviava um contrato para justificar os US$ 4,5 milhões que Skornicki pagou a Santana entre setembro de 2013 e novembro de 2014. O marqueteiro recebeu o dinheiro numa conta no Citibank de Nova York, que atuava como correspondente do banco suíço Heritage, no qual o casal teria conta.
O bilhete de Mônica aponta que ela sabia que se tratava de um negócio ilícito, segundo despacho do juiz federal Sergio Moro.
Diz ela numa passagem do bilhete: "Apaguei, por motivos óbvios, o nome da empresa. Não tenho cópia eletrônica, por segurança".
Reprodução 
Bilhete de Mônica Moura apreendido pela Polícia Federal

Segundo o juiz, o uso dessas expressões "indicam não só o dolo, mas também a consciência de ilicitude das transações, como o apontamento por Monica de que teria rasurado o nome da empresa contratante no contrato enviado como modelo e de que não guardaria cópia do contrato".
Moro diz que há "fundada suspeita" de que os repasses tenham origem em pagamentos de propina na Petrobras. "É possível, portanto, que essas transferências fossem destinadas a remunerar, com produto de acertos de propina em contratos da Petrobras, serviços de João Santana e de Monica Regina prestados ao Partido dos Trabalhadores."
A Polícia Federal, em relatório anexado aos autos, conclui que a cópia do contrato apreendido foi assinada por Mônica. Os policiais compararam a assinatura no documento em nome da Shellbill Finance com a assinatura de Mônica em sua carteira de identidade.
A PF descobriu o nome que Monica havia rasurado porque o trabalho foi "malfeito", como classifica o juiz. A empresa era a Klienfeld Services Ltd., uma velha conhecida dos investigadores da Lava Jato porque aparecera recebendo US$ 117,3 milhões de três offshores que seriam controladas pela Odebrecht e foram usadas para repasse de propina, de acordo com os investigadores da Lava Jato, o que a empresa nega com veemência.
Foi a Klienfeld quem repassou propina para ex-executivos da Petrobras, como Pedro Barusco, Renato Duque, Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa.
A empresa Shellbill, que recebeu os depósitos de US$ 4,5 milhões, também foi uma novidade para a PF. Outros dois fatos vinculam a empresa ao marqueteiro: a Shellbill fez uma série de pagamentos para a filha e o genro de João Santana e foi usada também para pagar parte de um apartamento que o casal comprou em São Paulo por US$ 4 milhões, dos quais US$ 1 milhão foram pagos no exterior.
Outra empresa offshore que fez um de pagamento US$ 500 mil a João Santana, Innovation Research Engineering and Development Ltd., também já havia aparecido nas apurações da Lava Jato.
A Innovation também recebeu recursos de empresas que são controladas pela Odebrecht e repassou valores de suborno para Paulo Roberto Costa e Barusco.
Segundo Moro, ainda não dá para saber se a Klienfeld e a Innovation são controladas pela Odebrecht ou usadas pela empresa para repassar propina.
O juiz aponta ainda que anotações encontradas no aparelho celular de Marcelo Odebrecht fazem "provável referência" a João Santana. Entre outras anotações, havia frases como "liberar p/Feira pois meu pessoal não fica sabendo", "Feira (5+5)" e "40 para vaca (parte para Feira)". "Vaca", na visão da PF, seria o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
O juiz afirma no despacho que ordenou as buscas e as prisões desta segunda-feira (22) que essas anotações "sugerem" que "os pagamentos da Odebrecht à João Santana seriam doações eleitorais sub-reptícias, realizando a empresa pagamentos nesse sentido a João Vaccari Neto e a João Santana".
Oficialmente, Santana recebeu R$ 171,6 milhões de campanhas do PT entre 2006 e 2014.
Procurada, a Odebrecht informou nesta segunda-feira (22) somente que "as equipes da polícia obtiveram todo auxílio para o cumprimento dos mandados". "A organização permanece à disposição das autoridades para colaborar, sempre que necessário", disse.
A defesa de Zwi Skornicki afirmou que irá se manifestar nos autos do processo e que a prisão é "desnecessária" porque ele sempre esteve no Brasil e à disposição de autoridades para prestar esclarecimentos.

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