Por Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Enquanto os investimentos do governo federal patinam e os do empresário
brasileiro seguem semiparalisados, os do estrangeiro continuam chegando aos
borbotões.
As Contas Externas divulgadas ontem pelo Banco Central apontam, em junho,
entrada líquida de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) de pouco mais de
US$ 5,8 bilhões. No primeiro semestre foram US$ 29,7 bilhões (2,6% do PIB) -
9,4% a menos do que nos primeiros seis meses do ano passado. E, no período de 12
meses terminados em junho, somaram US$ 63,9 bilhões - algo 7,2% abaixo do total
no período anterior (veja o gráfico).
É um volume de capitais mais do que suficiente para cobrir o rombo das demais
contas externas, de US$ 25,3 bilhões no semestre e de US$ 51,8 bilhões em 12
meses.
Como é constituído de recursos de longo prazo, o IED deve ser considerado
cobertura de excelente qualidade para o atual déficit nas contas externas. Seria
ruim se fosse um financiamento feito preponderantemente com capitais
especulativos, que chegam, mordem e batem logo depois em retirada.
Não há como evitar um déficit nas contas externas. O Brasil tem uma poupança
interna muito baixa, de não mais que 16% do PIB. Isso torna a economia
dependente, sobretudo, de investimentos externos. E eles seguem chegando.
O Brasil é dependente de investimentos externos por quê? É que, para que essa
forte entrada de capitais de investimento não provoque excessiva valorização do
real (alta do dólar) no câmbio interno, a economia brasileira tem de permitir
algum déficit estrutural em conta corrente.
Há meses, alguns economistas brasileiros advertiam que a crise internacional
e a paradeira interna afugentariam os investimentos estrangeiros ou, pelo menos,
provocariam seu adiamento. Até agora, isso não aconteceu.
Ontem, o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando
Rocha, avançou que somente neste mês de julho o IED deve ultrapassar os US$ 7
bilhões.
Isso sugere que, ao longo de todo o ano de 2012, as projeções do Banco
Central nesse item (US$ 50 bilhões) se mantêm conservadoras. As dos analistas
auscultados semanalmente pelo Banco Central pela Pesquisa Focus são um
pouco mais altas, de US$ 55 bilhões.
Enfim, enquanto o empresário brasileiro lamenta "o semestre perdido", como
apontou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e ainda engaveta
projetos de expansão, o estrangeiro, aparentemente, vem fazendo o contrário.
Demonstra ter mais confiança do que o empresário brasileiro.
Até quando contar com esse afluxo de capitais? Não dá para saber. De um lado,
os custos internos vão aumentando, sem que se note no coração do governo
disposição séria de assegurar a recuperação da competitividade do setor
produtivo. E, de outro lado, a administração da economia baseada na expansão do
consumo dá sinais de esgotamento. Enquanto isso, o governo Dilma vai passando a
percepção de falta de renovação estratégica.
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