quarta-feira, 14 de agosto de 2019

ECONOMIA: Dólar fecha valendo R$ 4,038 e Bolsa despenca 3% com temor sobre desaceleração global

O GLOBO.COM.BR
Rennan Setti e Gabriel Martins

Dados fracos nas economias da Alemanha e da China preocupam os investidores
Moedas e notas de dólar Foto: Pixabay

RIO — O dólar comercial fechou cotado a R$ 4,038 nesta quarta-feira, enquanto a Bolsa brasileira despencou 2,94%, acompanhando as preocupações de investidores de todo o mundo com a desaceleraçãoda economia global. Dados frustrantes sobre a atividade naChina e na Alemanha acabaram ofuscando o alívio nas tensões comerciais sino-americanas e, internamente, a aprovação da chamada MP da Liberdade Econômica , a MP 881.
Desde 28 de maio o dólar não encerrava cotado acima de R$ 4, e a cotação de fechamento desta quarta-feira foi a maior desde 23 de maio. O dólar comercial fechou com alta de 1,76% e chegou a valer R$ 4,04 durante a sessão, enquanto o índice de referência da B3, o Ibovespa, recuou aos 100.263 pontos. Foi sua maior queda desde 27 de março. 
O real acompanhou o enfraquecimento de divisas de outros países emergentes, como o rublo russo e o rand sul-africano. Mas a moeda que mais perdeu valor frente ao dólar hoje é o peso argentino, desvalorizando 5,8%. 
Também perdem valor as commodities. O barril de petróleo do tipo WTI, referência nos EUA, cai 4,4%, valendo US$ 54,58, com a alta dos estoques no país e os números chineses e alemães.
Na Alemanha, os números divulgados nesta quarta-feira mostram que a terceira maior potência exportadora do mundo caminha para uma recessão, em um efeito colateral da guerra comercial travada entre EUA e China. O Produto Interno Bruto (PIB) alemão registrou contração de 0,1% no segundo trimestre. Economistas preveem que, no terceiro trimestre, a atividade alemã deve continuar caindo, o que, se confirmado, se enquiadrará na definição técnica de recessão.
Na China, o crescimento da produção industrial desacelerou para a mínima em mais de 17 anos, conforme a intensificação da guerra comercial com os EUA pesa sobre empresas e consumidores.
"De modo geral, os dados reforçaram a fraqueza da economia europeia, e assim como os números da China, contribuem para a manutenção do receio em torno de uma desaceleração econômica em escala global", escreveram os analistas da Guide Investimentos.
Prenúncio de recessão
Em reação à nova onde de dados decepcionantes, o mercado de títulos públicos americanos emitiu um sinal de alerta. Os juros dos títulos que vão vencer daqui a dez anos caíram abaixo daqueles dos papéis que vencem em dois anos. O fenômeno, que é conhecido como "inversão de curva", não acontecia desde 2007, pouco antes da crise global, e prenunciou todas as recessões americanas dos últimos 60 anos. 
Normalmente, quanto mais distante é o prazo dos títulos, maiores são os juros cobrados pelos investidores. Quando a situação se inverte, o mercado está 
manifestando temores sobre o futuro da economia. Como os títulos do Tesouro americano são considerados o investimento mais seguro do mundo, diante do pessimismo coletivo, os investidores direcionam volume atípico de recursos para os títulos de longo prazo para se protegerem. Quanto maior a procura por eles, menores são os juros pagos.
Os juros dos papéis de 10 anos chegaram a recuar até 1,9 ponto-base abaixo dos de dois anos, para 1,57%. Mas a inversão durou pouco, com a taxa do Treasuries de 10 anos voltando para 1,60%.
Inversões semelhantes já tinham ocorrido este ano entre os títulos com prazos de três meses e de dez anos, mas os acontecimentos desta quarta-feira aprofundaram os temores de crise global. Nesta quarta, os títulos britânicos também sofreram inversão da curva de juros entre os prazos de dez e dois anos.
"Temos destacado em nossas apresentações a clientes e em relatórios que é importante olhar para a inclinação (dessas taxas) como previsor de recessão principalmente nos EUA e no Reino Unido. Apesar de não ser infalível, esse tipo de indicador é útil para antecipar a recessão de 12 a 24 meses à frente. Hoje começa a contagem regressiva?", questionou Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, em nota a clientes.
Ações em queda pelo mundo
Segundo Julia Monteiro, economista-chefe da corretora Um Investimentos, o cenário externo dificulta a retomada do crescimento no Brasil: 
— As possibilidades de o Brasil crescer com as reformas, que estão avançando, ainda não se concretizaram. E se nosso risco-país não ficava há tanto tempo tão baixo, isso não se traduz em atração de investidores porque o exterior está contaminado pela guerra comercial.
Flávio Byron, sócio da Guelt Investimentos, pontua que, no atual cenário, a conjuntara externa quem determina o comportamento do mercado.
— Por mais que a agenda doméstica de reformas econômicas esteja andando, o exterior segue pressionando muito o câmbio. Desta forma, o Brasil não consegue passar imune às perdas — destaca. — Além da guerra comercial, o Brasil sofre com as eleições prévias da Argentina, um importante canal de exportação para o país.
Ele ressalta que, quando a situação externa acalmar, o Brasil tem chances de entrar em uma sequência de ganhos:
— O exterior segue pressionando negativamente, mas as perspectivas em relação ao futuro econômico do Brasil são positivas. Quando a situação internacional começar a dar sinais de melhora, o Brasil tem chances de surfar em uma boa onda de ganhos.
Nas Bolsas internacionais, as ações europeias reunidas no índice de referência Euro Stoxx 50 caíram 2%. Em Frankfurt, o DAX caiu 2,2%. O FTSE 100 da Bolsa de Londres perdeu 1,42%, enquanto o CAC 40 recuou 2,08% em Paris. Em Wall Street, o Nasdaq, que concentra papéis de empresas de tecnologia, perde 2,58%. O S&P 500 cai 2,29%, e o Dow Jones, 2,33% .
O tom pessimista deste pregão sucede um dia de alívio, com o presidente americano, Donald Trump, adiando a imposição de novas tarifas sobre produtos chineses, que deveriam entrar em vigor em duas semanas, para 15 de dezembro. As preocupações sobre o crescimento global ofuscam ainda notícias consideradas positivas pelos investidores, como a aprovação da MP da Liberdade Econômica e o avanço das reformas da Previdência e do sistema tributário no Congresso.
Destaques da Bolsa
Todas as ações do índice Ibovespa caíram. Por conta dos temores sobre uma possível desaceleração da economia da China, maior parceiro comercial do Brasil, as empresas de commodities listadas no Ibovespa fecharam em queda. As ações da mineradora Vale registram perdas de 3,48%. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da Petrobras caíram 3,08%, enquanto os preferenciais (PN, sem direito a voto) recuaram 3,37%.
A maior queda, porém, foi da Kroton. A gigante do setor de educação registrou uma queda de mais de 5% no número de alunos do ensino superior. Diante deste cenário, suas ações fecharam em queda de 11,5%.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |