segunda-feira, 29 de abril de 2019

ANÁLISE: Bolsonaro volta a lembrar Dilma, ao pedir para Banco do Brasil baixar juros

OGLOBO.COM.BR
Manoel Ventura

Presidente já havia interferido na Petrobras

Presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa Foto: Adriano Machado / Reuters

BRASÍLIA — Eleito com um discurso liberal na economia, o presidente Jair Bolsonaro voltou a lembrar ações da ex-presidenteDilma Rousseff, do PT, nesta segunda-feira. Publicamente, Bolsonaro pediu ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para que a instituição financeira reduza os juros dos empréstimos cobrados do setor agropecuário — uma das principais vertentes de atuação da estatal.
A ofensiva de Bolsonaro para reduzir os juros do BB ocorre depois do presidente vetar um filme publicitário do banco e semanas após o presidente intervir na Petrobras . Bolsonaro pediu que a estatal suspendesse uma alta de 5,7% no preço do óleo diesel, numa tentativa de evitar uma nova crise com caminhoneiros. A Petrobras atendeu ao presidente, viu suas ações desabarem, e depois voltou atrás.
Os atos do presidente no Banco do Brasil e na Petrobras lembram muito decisões tomadas no governo Dilma, tão criticado pela equipe de Bolsonaro e por economistas, nas duas empresas.
Pressionados por Dilma, em 2012, BB e Caixa Econômica Federal reduziram os juros para ajudar na política econômica, ao financiar o aumento do consumo e capitanear uma queda forçada nas taxas. Uma das consequências da estratégia foi o aumento da inadimplência, principalmente, na Caixa.
Algo parecido ocorreu entre 2008 e o início de 2009, no auge da crise global, quando os bancos privados reduziram a oferta de crédito temendo o aumento da inadimplência. À época, BB e Caixa sustentaram boa parte do financiamento ao consumo e aumentaram suas participações de mercado nos empréstimos.
Antes, Bolsonaro já tinha lembrado Dilma ao interferir na Petrobras. Durante a gestão petista, entre 2011 e 2014, o preço dos combustíveis ficaram artificialmente baixos para ajudar a controlar a inflação. De acordo com cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a decisão da estatal de vender gasolina e diesel mais barato que a cotação no mercado internacional gerou prejuízos de mais de R$ 70 bilhões.
Apesar de recuar na interferência à Petrobras, o governo Bolsonaro cobrou “transparência” da companhia na definição dos seus preços, numa demonstração que está pouco confortável com a política adotada pela empresa.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, gosta de lembrar que o governo Bolsonaro é composto por uma aliança de centro-direta, com liberais na economia e conservadores nos costumes — depois de 30 anos de governos que ele chama de de centro-esquerda. As atitudes de Bolsonaro, que durante seus mandatos como deputado federal nunca teve uma postura liberal, apesar de ter sido eleito com essa bandeira, mostra que falta alinhamento entre o discurso do seu ministro e as declarações do presidente.

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