sexta-feira, 2 de março de 2018

OPINIÃO: As surpresas na entrevista de Lula

POR BERNARDO MELLO FRANCO - OGLOBO.COM.BR

Lula fala com sindicalistas | Edilson Dantas / Agência O Globo

Lula disse à “Folha de S.Paulo” que vai “brigar até ganhar” para ser candidato. Suas chances são pequenas, mas ninguém poderia esperar uma declaração diferente. Se admitisse que deve ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente esvaziaria seu próprio poder de barganha. Ele pode ter muitos defeitos — o de ser bobo, definitivamente, não está na lista.
As surpresas aparecem em outros trechos da entrevista. Num deles, Lula sugeriu que as manifestações de 2013 e a Lava-Jato seriam produtos de uma conspiração urdida pela Casa Branca. “Hoje estou convencido de que os americanos estão por trás de tudo o que está acontecendo na Petrobras”, disse. Isso faria sentido se os dirigentes que roubaram a estatal tivessem sido indicados pelo Tio Sam. No mundo real, eles foram nomeados pelo ex-presidente.
Em outra passagem, o petista saiu em defesa de Michel Temer. Afirma que o peemedebista, logo ele, teria sido vítima de uma tentativa de “golpe”. Desta vez, os vilões da trama seriam o procurador Rodrigo Janot, o empresário Joesley Batista e a TV Globo. “Ora, o Temer teve a coragem de enfrentar”, disse Lula. O elogio foi festejado pelo ministro Carlos Marun, o que diz mais do que qualquer comentário do colunista.
Mais adiante, o ex-presidente desautorizou os aliados que ameaçam boicotar as eleições. Segundo Lula, o PT pode discutir “todas as alternativas”, mas precisa participar do processo eleitoral. “Eu sou contra boicotar as eleições”, afirmou. Depois dessa, ficará mais difícil repetir o bordão “Eleição sem Lula é fraude”.
O entrevistado também frustrou a militância petista ao avisar que não fará greve de fome se for preso. “Eu já fiz greve de fome. Eu sou contra, do ponto de vista religioso”, informou. A frase desanimou aliados que contavam com o sacrifício do líder para inflamar as ruas.
Lula ainda perdeu a chance de se defender no caso do sítio de Atibaia, onde descansava nos fins de semana. A jornalista Mônica Bergamo tentou apertá-lo para saber por que as empreiteiras Odebrecht e OAS torraram tanto dinheiro em obras na propriedade. Ele preferiu sair pela tangente. “Você não é juíza. Eu vou esperar o juiz”, desconversou.

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