Da FOLHA,COM
BERNARDO MELLO FRANCO,ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Sete anos depois de denunciar o mensalão à Folha , o ex-deputado
Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, continua no ataque.
Às vésperas de ser julgado com outros 37 réus no STF (Supremo Tribunal
Federal), ele sugere que o ministro Joaquim Barbosa tentará condená-lo e o acusa
de "jogar para a galera" e buscar "aplausos em botequim".
Jefferson mantém a versão de que o ex-presidente Lula não sabia do esquema de
compra de apoio a seu governo no Congresso e diz que será absolvido das
acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
"Não serei condenado. Não serei preso. Escreve isso", diz.
O petebista será operado sábado para retirar um tumor no pâncreas, descoberto
na semana passada. Deve ficar internado até o início do julgamento.
Abatido, mas com discurso confiante, recebeu a reportagem ontem em seu
escritório no centro do Rio. Na parede, um quadro exibe sua foto de olho roxo na
CPI dos Correios, em 2005. Ele sustenta que foi atingido por uma estante num
acidente doméstico. "Mas nem mamãe acredita", diz, aos risos.
Folha - Como o sr. se sente às vésperas de ser julgado pelo escândalo que
denunciou?
Roberto Jefferson - Acho que está na hora. Chega. Quanto mais
adia, mais aumenta o sofrimento. Em algum momento você tem que enfrentar, e a
hora é agora.
O que espera do STF?
Penso que a decisão será severa sem ser
política. O Supremo não vai permitir isso. A meu ver, o ministro Joaquim Barbosa
[relator do caso] joga para a galera. Ele não sentencia no direito. O negócio
dele é aplauso em botequim, ele gosta disso. O Joaquim devia se inscrever em
partido político, daria um grande candidato. Eu o receberia no PTB de braços
abertos. [risos]
E os demais ministros?
Os outros não têm esse negócio. A tradição
da casa não é essa. Vai ser todo mundo absolvido? Não acredito. Mas não será uma
sentença política. O Ayres Britto [presidente do STF] é amicíssimo do governador
de Sergipe [Marcelo Déda, do PT]. Foi feito ministro por ele e não é
comprometido. O Marco Aurélio, o Gilmar Mendes... O Ricardo Lewandowski, apesar
da relação com o PT, tem uma postura independente.
Teme ser condenado?
Se eu tivesse medo, não dormiria à noite. Eles
têm a história para julgá-los, a opinião pública. Tem coisas que não dá, apesar
da amizade. Tenho certeza de que serei absolvido. Se é justo, não pode me
condenar. Eu não aceito uma condenação. Não se aplica à minha conduta. Eu não me
vendi. Não serei condenado e não serei preso. Não serei preso, escreve isso aí.
O sr. admitiu ter recebido R$ 4,5 milhões do esquema e é acusado de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não tem o menor cabimento. Seria
o fim da desfaçatez eu ter me vendido ao mensalão. Eu adverti o governo um ano
antes. Adverti o Lula.
Nem tudo é mensalão. Não acredito que o [deputado
petista] João Paulo tenha se vendido, acho absurda a acusação. Ele não tem nada
a ver com esse troço. Foi lá, pegou R$ 50 mil e resolveu um problema da vida
dele, mas não vendeu voto.
Sua alegação de que só recebeu dinheiro para saldar dívidas é a mesma de
outros réus que o sr. acusou de venderem apoio ao governo.
Então o meu
advogado, o [Luiz Francisco] Barbosa, está de parabéns. E ele é 0800, está me
defendendo de graça porque é companheiro de partido e meu amigo.
O sr. já disse que o ex-ministro José Dirceu é seu "irmão siamês" no
processo. Por quê?
Se ele não for absolvido, vai haver pressão para levar
todo mundo. Se for, abre a porta para outras absolvições. Ele pode fazer a
picada para outras condenações. A corte vai ter problema se condenar o Dirceu e
não o resto.
Alguém tentou pressioná-lo ao longo do processo?
Não. Nenhuma
ameaça, nada. Eu também não abro muito a porta. Nunca visitei um ministro do
Supremo.
O que achou de aliados de Lula se reunirem com Marcos Valério, acusado de
operar o esquema? Houve chantagem?
Não quero comentar isso.
Seu advogado
disse que Lula já sabia e autorizou o esquema. É verdade?
O Lula custou a agir,
custou a acreditar. Mas minha impressão é que ele não sabia. Tenho grande
admiração por ele. É um grande político, não abandona os amigos. O Lula vai
continuar sendo o Lula. Ele é povo, tem a catinga do povo.
O Supremo vai confirmar a história que o sr. contou? Outros réus sustentam
não haver prova de pagamentos mensais por apoio.
Não sei se vão escrever
a história que eu contei, mas há condutas que vão ser apenadas. O Ministério
Público apostou na minha tese, mas não estou preocupado que ela
prevaleça.
Minha denúncia era política, e eu sou vitorioso no efeito e na
consequência que ela causou. A imprensa tratava o PT como se fosse o único
partido bom, o filete de água limpa no cano de esgoto. Isso acabou. Mas não
torço pela condenação de ninguém.
Tem algum arrependimento?
Faria tudo novo. Agora é história. O
mensalão não me pertence mais. Não sou mais o protagonista.
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