Por Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Os advogados de defesa não têm o que dizer nem o que fazer diante da
consistência das decisões já tomadas pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento
do mensalão.
Pouco ou quase nada lhes resta além de anunciar recursos a cortes
internacionais. Com isso, fornecem algum discurso político a seus clientes, mas
na prática a ideia equivale mais ou menos a reclamar ao bispo.
Gente que entende do assunto explica que a Corte Internacional de Direitos
Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) - o foro escolhido para a
anunciada reação - pode condenar os países associados quando há violação dos
direitos humanos, entre os quais está o julgamento tido como injusto.
Nesse princípio se inclui o direito do réu a ser julgado por ao menos duas
instâncias. É nisso que os acusados agora se apoiam.
Ocorre, porém, que a jurisprudência da OEA considera como exceção os casos em
que o julgamento é feito em instância única pela mais alta corte do País.
Justamente o que acontece no caso em exame no Supremo.
Esse ponto foi abordado no primeiro dia de julgamento, em 2 de agosto, quando
Márcio Thomaz Bastos apresentou questão de ordem sobre o desdobramento da ação
para outras instâncias.
Na ocasião, o decano do STF, Celso de Mello, explicou a jurisprudência da
OEA. Esclareceu e deveria, com isso, ter encerrado o assunto no qual os
advogados insistem inutilmente.
Número ímpar. A resolução dos casos de empates divide tão
profundamente os ministros do Supremo, que há uma tendência a esperar pela posse
de Teori Zavascki.
Isso se houver outros e mais importantes impasses além do resultado de 5 a 5
no julgamento de José Borba (ex-líder do PMDB na Câmara) por lavagem de
dinheiro.
Esse caso, segundo avaliação corrente no STF, pode ser resolvido com a
mudança do voto de algum ministro.
Há a impressão de que Dias Toffoli talvez "caminhe" da condenação para a
absolvição.
A recomposição das 11 cadeiras e a participação de Zavascki seria a solução
menos traumática em nome da paz na Corte.
Saneamento. O procurador-geral Roberto Gurgel certamente
será criticado por ter considerado "salutar" a perspectiva de que o julgamento
do mensalão venha a influir no resultado da eleição de domingo.
Será acusado de "parcialidade", por esperar apenas o óbvio: que o eleitor
junte A com B e tome suas decisões levando em conta as questões que estão sendo
debatidas no Supremo.
Não necessariamente para rejeitar candidatos apenas por serem ligados aos
personagens em julgamento. Mas para fazer a escolha com mais rigor em relação à
conduta daqueles que serão governantes no Executivo e seus representantes no
Legislativo.
Há candidatos dos partidos envolvidos no processo que nada têm a ver com os
crimes julgados no Supremo, assim como há outros ligados a legendas que não
estão no processo, cujos comportamentos e vidas pregressas não valem um mandato.
Se escândalos anteriores tivessem influído em pleitos seguintes, haveria
menos candidatos fichas-sujas e talvez o ambiente já estivesse bem melhor.
A eleição é o momento ideal para se discutir essas coisas.
Vacina. O ministro Ricardo Lewandowski não parou de repetir:
"Vou julgar nos autos". Indelicado com seus pares que por suposto votariam fora
deles.
O revisor pareceu aplicar um antídoto à hipótese de terminar isolado,
marcando posição em prol da legalidade.
Ademais. O PT não estaria há dez anos no poder se no partido
mandasse o tesoureiro.
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