quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ARTIGO: O meu apagão e o seu

Quais os maiores desastres de comunicação do governo George W. Bush? Um com lugar cativo no alto do pódio é o furacão Katrina, quando o presidente projetou uma imagem de distanciamento. Outro vistoso no portifólio é a cerimônia no convés do porta-aviões Abraham Lincoln, em maio de 2003, quando Bush discursou tendo atrás dele um banner com “Mission Accomplished” (missão cumprida), referência ao fim das principais operações de combate na Guerra do Iraque.
O Katrina virou símbolo de insensibilidade diante do sofrimento humano. O “missão cumprida” tornou-se ícone de como o excesso de marketing acaba atrapalhando, quando a realidade vem colocar dúvidas sobre a verossimilhança do palavrório. Tecnicamente, Bush podia mesmo dizer que a guerra de alta intensidade tinha acabado. O problema foi que depois veio uma de baixa intensidade. E o “Mission Accomplished” virou motivo de chacota.
Ao enfrentar o apagão da noite de terça-feira, e descontada a proporção dos fatos, o governo Luiz Inácio Lula da Silva dá sinais de querer combinar os dois erros.
Há um “efeito Katrina”. Os porta-vozes governistas estão mais preocupados em explicar por que o apagão de Lula é diferente dos de Fernando Henrique Cardoso. E não em pelo menos simular que a prioridade é com a segurança e o conforto dos cidadãos, suas famílias e seus negócios. E há um “efeito missão cumprida”, já que o governo vinha dizendo, insistentemente, que fato como esse não mais iria ocorrer.
É o risco que Lula corre. O triunfalismo virou peça permanente da sua retórica. E o triunfalismo tem seus problemas. Ele passa razoavelmente ileso pelos “pequenos” transtornos (como o número de mortos pela gripe suína), especialmente quando mascarados pelas boas notícias que saem da linha de produção. Mas se tem um apagão —e que apagão!— o contraste entre o discurso e a realidade fica evidente demais.
Ainda que Lula possa ter razão quanto às diferenças entre o apagão dele e os de FHC. E ainda que Bush estivesse realmente certo quanto ao fim das grandes operações de guerra no teatro iraquiano.
Quem está interessado em saber se o apagão de Lula é melhor ou pior que os de FHC? Petistas, tucanos e agregados em cada um dos dois lados. Além, naturalmente, da turma que espera por uma beirada no Orçamento, ou pela nomeação para um cargo de confiança, a partir de 2011, conforme quem levar vantagem na urna.
O resto do país está mais ocupado em entender como o governo vai fazer para evitar que se repita. Quer saber as iniciativas que vão ser tomadas (e que já foram tomadas) para aumentar a confiabilidade do sistema. Que é inconfiável, óbvio. E as pessoas querem saber também por que aconteceu. E se poderia ter sido evitado. Neste último caso, vão querer o nome de quem vai pagar o pato, politicamente falando.
Assim é que funciona. Ou deveria funcionar. Não dá para Lula querer enfrentar o assunto na base do “meu apagão não é tão grave quanto foi o seu” ou do “deixem comigo, pois meu governo tem 70-80% de aprovação e eu sei o que estou fazendo”. Ou do “eu fiz o máximo, não encham”. Não é assim que funciona na democracia. Ou não deveria ser.
Imprevistos levam esse nome não à toa. Quando finalmente acontecem, vêm os sabichões de todos os tipos para explicar por que o desastre era absolutamente previsível. São os engenheiros de obra feita.
Existem, por exemplo, as mais variadas teorias conspiratórias sobre o 11 de setembro de 2001, e as investigações posteriores levantaram falhas decisivas para que o ataque ao World Trade Center tenha tido sucesso.
Mas o fato é que George W. Bush cumpriu sua missão como presidente dos Estados Unidos ao deixar o governo, sete anos e alguns meses depois, sem que o país fosse vítima de mais nenhum atentado terrorista.
O abastecimento pátrio de energia elétrica expôs terça-feira sua grande fragilidade. Como ela vai ser enfrentada? É só isso que o país quer saber.
Alon FeuerwerkerBrasília, DF - Brasil

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