De OGLOBO.COM.BR
COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Gestora de recursos divulgou relatório afirmando que clima para investimentos no Brasil, em 2013, não foi caracterizado por “ordem e progresso”
Ibovespa fechou em queda de 1,99% aos 48.320 pontos, seguindo Bolsas externas
SÃO PAULO - Números mais fracos da indústria da China fizeram o dólar comercial se valorizar nesta quinta-feira frente a moedas de países emergentes, entre elas o real. No fim da sessão, a divisa americana se valorizou 1,26%, e encerrou cotada a R$ 2,401 na compra e R$ 2,403 na venda, a maior cotação desde o dia 22 de agosto de 2013, quando o dólar fechou a R$ 2,432. Na máxima do dia, a divisa americana foi cotada a R$ 2,405 (alta de 1,39%) e na mínima a R$ 2,371 (queda de 0,04%). Colaborou para o pessimismo dos investidores no mercado doméstico, um relatório publicado pela Pimco, maior gestora de bônus emergentes do mundo, avaliando que o clima para investimentos no Brasil foi caracterizado em 2013 por qualquer coisa menos "Ordem e Progresso", numa alusão à inscrição da bandeira brasileira.
- Foi um dia de pessimismo para os mercados emergentes, tanto no mercado de ações quanto de moedas. O dia começou com os dados ruins da China e terminou com o relatório da Pimco. E, em relação ao Brasil, há os fatores negativos que já estão no radar dos investidores, como baixo crescimento da economia, a alta da inflação, a política fiscal ruim - diz João Paulo de Gracia Correa, gerente de câmbio da corretora Correparti.
Moedas de países exportadores de commodities tiveram forte recuo frente ao dólar. A lira turca recuou 1,60%; o rand sul-africano perdeu 1,55%; o dólar australiano teve desvalorização de 1,12% e o peso mexicano caiu 0,87% frente ao dólar. O dado chinês fez as Bolsas asiáticas e europeias encerraram em queda. O índice Dax, da bolsa de Frankfurt, recuou 0,92% e o índice cac, da Bolsa de paris, perdeu 1,02%. Nos Estados Unidos, os principais índices acionários também apresentavam quedas superiores a 1%.
"Os investidores estão mais cautelosos após um relatório decepcionante sobre a indústria da China", disseram analistas do banco Wells Fargo numa nota.
O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial chinesa caiu para 49,6 pontos em janeiro - menor nível em seis meses -, de 50,5 pontos em dezembro, segundo dados preliminares divulgados pelo instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o banco HSBC. Números acima de 50 pontos sugerem expansão da atividade, enquanto valores abaixo desse nível apontam contração.
O Banco Central fez mais dois leilões de contratos de swap cambial. No primeiro, ofereceu 4 mil contratos novos, totalizando US$ 197,8 milhões. No segundo, foram rolados 25 mil contratos que vencem em 3 de fevereiro, totalizando US$ 1,2 bilhão. Após os leilões, o dólar se desvalorizou momentaneamente frente ao real. Mas no início da tarde, o dólar retomou a trajetória de valorização.
- Por aqui, as atuações do Banco Central limitaram momentaneamente uma depreciação mais significativa do real, mas a moeda seguiu a tendência do exterior - diz João Paulo de Gracia Correa, da Correparti.
Relatório da Pimco amplia mau humor dos investidores
Para amplificar o mau humor do mercado, a gestora de recursos Pimco, divulgou relatório afirmando que a alocação de recursos para o Brasil deve ser moderada devido à volatilidade vista nos mercados emergentes pela redução dos estímulos do Federal Reserve (banco central americano) à economia dos Estados Unidos e antes da eleição presidencial no Brasil em outubro.
"O Brasil precisa ancorar a política econômica sob uma rigorosa e crível meta de superávit primário, em vez de executar o mix atual de política fiscal expansionista, empréstimos públicos subsidiados e política monetária cada vez mais apertada", escreveu o co-responsável pela equipe de gestores do portólio de emergentes da Pimco Michael Gomez.
Gomez disse ainda que embora existam ativos atrativos no Brasil, a instauração da "ordem" no mercado financeiro local é incerta a menos que políticas efetivas sejam restauradas.
"Investidores em mercados emergentes devem ser agora cautelosos com o Brasil, especialmente devido ao recente fraco desempenho", disse. Ao mesmo tempo, ele avalia que "os ingredientes para retornos atrativos em renda fixa no Brasil no longo prazo estão dados". O relatório foi publicado exatamente no momento em que a presidente Dilma Roussef foi a Davos, na suíça, pela primiera vez, para ‘vender’ o Brasil a investidores estrangeiros.
Os maiores bancos de investimentos americanos também divulgaram relatórios, este ano, recomendando aos investidores reduzir sua exposição aos mercados emergentes. O banco Goldman Sachs, por exemplo, recomendou a seus clientes cortar aplicações em países emergentes em um terço, projetado “desempenho abaixo da média” para ações, bonds (títulos) e moedas nos próximos dez anos. J.P.Morgan Chase espera que os títulos em moedas locais entreguem apenas 10% do retorno médio registrado desde 2004 no próximo ano, enquanto o Morgan Stanley prevê que o real, a lira turca e o rublo russo continuem em desvalorização, após recuarem 17% no ano passado.
Ibovespa recuou acompanhando movimento do exterior
O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, seguiu o pessimismo do mercado externo e fechou em queda de 1,99% aos 48.320 pontos e volume negociado de R$ 6,8 bilhões. É o menor patamar do ibovespa, em pontos, desde o dia 7 de agosto do ano passado, quando o índice fechou aos 47.446 pontos. A Bolsa brasileira também foi influenciada pelos dados da economia da China, com impacto especialmente as ações da Vale e da Petrobras, e pelo relatório da Pimco.
- Hoje o fiel da balança foi a China. Saíram números mais positivos do desemprego nos EUA e, no mercado doméstico, o IPCA-15 veio abaixo do esperado. Mas mesmo assim, houve uma queda generalizada nas Bolsas globais, por causa do dado mais fraco da indústria da China. Nosso mercado está muito volátil - afirma Rogério Oliveira, especialista em bolsa da corretora Icap.
O número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos subiu em 1 mil na semana encerrada em 18 de janeiro, para 326 mil, após ter registrado 325 mil na semana anterior, segundo dados do Departamento do Trabalho. O número foi um pouco melhor do que as estimativas, já que analistas esperavam alta para 327 mil novas solicitações.
Pela manhã, o Ibovespa chegou a ficar no azul, puxado pela alta de ações ligadas aos setores de consumo e construção, após um dado mais fraco de inflação medida pelo IPCA-15. Mas a abertura negativa dos mercados americanos, com o dado mais fraco da indústria chinesa e da própria indústria americana, fizeram o índice retomar a tendência de desvalorização do início do pregão. Na reta final do pregão, o relatória da Pimco azedou ainda mais o humor dos investidores.
Segundo o instituto Markit, o setor industrial dos Estados Unidos reduziu o ritmo de crescimento no início de 2014. O Índice dos Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) saiu de 55 em dezembro para 53,7 em janeiro. Foi a primeira queda do indicador desde outubro, embora ele se mantenha acima de 50 pontos, o que sinaliza expansão da economia.
Os papéis da Vale e da Petrobras foram os que mais sofreram. As ações PNA da mineradora recuaram 2,61% a R$ 28,19, enquanto as ações preferenciais da petrolífera perderam 2,33% a R$ 15,51. Já entre as ações de bancos, Itaú Unibanco PN teve queda de 1,98% a R$ 29,66 e Bradesco PN perdeu 2,25% a R$ 26,90.
A maior alta do Ibovespa foi apresentada pelas ações ordinárias da construtora Brookfield, com ganho de 20,72% a R$ 1,34. De acordo com um operador, a ação subiu diante de rumores de que a empresa pode fechar seu capital.
- O papel da Brookfield é um dos três mais alugados no mercado, com os investidores apostando na queda do papel. Muita gente com papéis alugados foi às compras após os rumores do fechamento de capital. Isso fez as ações dispararem - disse o operador.
A maior queda do Ibovespa foi apresentada pelas ações ordinárias da JBS, com perda de 6,03% a R$ 8,10.
Juro futuro tem alta seguindo valorização do dólar
No mercado de juros futuros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DIs) encerraram o dia em alta, pressionadas pela alta do dólar. Pela manhã, as taxas caíram depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) desacelerou para 0,67% em janeiro, ante taxa de 0,75% registrada em dezembro. As taxas recuaram mesmo após a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), indicar nova alta na taxa de juros (Selic).
No fim do dia, a taxa do contrato de janeiro de 2015 subiu de 11,07% para 11,16% e o papel com vencimento em janeiro de 2017 avançou de 12,49% para 12,65%.