terça-feira, 14 de junho de 2011

COMENTÁRIO: Atitude autônoma da Inglaterra e Alemanha ameaça a União Europeia

Por Luiz Felipe de Alencastro


Do UOL Notícias


Tem se falado muito na crise econômica dos PIGS (Portugal, Irlanda ou Itália, dependendo do momento, Grécia e Espanha) que ameaça a estabilidade do euro e a existência da própria zona euro, formada por 17 países da União Europeia (UE). Na verdade, a coesão da UE está sendo também ameaçada pelo jogo autônomo de dois países importantes, a Inglaterra e a Alemanha.
O caso inglês é conhecido. Londres fez tudo o que pode para reduzir o escopo da União Europeia, evitando associar-se a ela nos anos 1950 e 1960. Quando aderiu, em 1973, exerceu seu poder de veto para travar as instituições europeias, evitando entrar na zona euro e no espaço Schengen, que aboliu os controles entre as fronteiras da maioria dos países da UE.
Há duas semanas,
assinalei aqui o reforço das ligações anglo-americanas em detrimento da União Europeia, notando o destaque político que o presidente Obama deu à sua visita ao Reino Unido. Falando no parlamento britânico, privilégio raríssimo concedido a chefes de Estado estrangeiros, Obama enalteceu a "relação especial" entre os Estados Unidos e a Inglaterra, desconsiderando o fato que Londres integra a União Europeia e praticamente ignorando as relações de Washington com as outras capitais do continente europeu.
Na semana passada, escrevi sobre o outro país importante que se isola na UE, a Alemanha. Sem consultar os países vizinhos, Angela Merkel decidiu fechar as centrais nucleares alemãs, enfraquecendo a coordenação da política energética europeia. Da mesma forma, a Alemanha opunha-se ao plano de ajuda aos países mais frágeis da zona euro, decidida pelo Banco Central Europeu. Havia ainda um outro acontecimento que evidenciava o isolamento alemão, suas reservas ao engajamento militar ocidental na Líbia, manifestadas no Conselho de Segurança da ONU e no comando militar da Otan, contra os votos favoráveis de Londres, Paris e Washington.
Assim, a recente visita de Angela Merkel à Casa Branca ganhou um significado particular. Congratulada por Obama com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração civil americana, Merkel foi também recebida com um jantar de grande pompa na Casa Branca. Mas Obama aproveitou a ocasião para cobrar um maior engajamento alemão ao lado dos Estados Unidos, tanto na Europa como em outras frentes internacionais.
Desde logo, a Alemanha anunciou que mandaria tropas para manter a paz na Líbia quando Gaddafi abandonar o poder. Como declarou à revista "Time" Josef Braml, um especialista das relações EUA-UE, "Merkel aprendeu que não há jantar gratuito em Washington", para ele, o fato de Merkel não ter apoiado a intervenção militar na Líbia, constituiu “um grande erro de política externa”.
Postos lado a lado, os encontros de Obama com o primeiro ministro inglês, David Cameron, e com Angela Merkel ilustram a política americana de privilegiar ligações diretas com a Inglaterra e a Alemanha, deixando de lado a União Europeia. Como escreveu o jornal madrilenho "El País": "Os Estados Unidos, que são um país eminentemente prático, dirigem suas preocupações para os que podem resolvê-las e não para estruturas que são difusas e incompreensíveis".

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