quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

MUNDO: Com mudança de governo, aumenta combate à corrupção na China

De OGLOBO.COM.BR
THE NEW YORK TIMES (ANDREW JACOBS) (EMAIL)

‘A tempestade de combate à corrupção começou’, anuncia o Partido Comunista em tentativa de limpar a imagem de gestão anterior
Os esforços começaram poucos dias após Xi Jinping ter advertido que a falta de combate à corrupção poderia colocar a aderência ao partido em risco- Reuters / Ed Jones

PEQUIM - Os chineses ficaram habituados a ouvir e ler histórias de funcionários públicos com apartamentos de luxo, relógios caros e dinheiro suficiente para comprar mulheres e carros. Quando imagens de um oficial do Partido Comunista no sudoeste da China em relações sexuais com uma menina de 18 anos surgiram no mês passado, porém, a população se manifestou negativamente e Lei Zhengfu precisou ser demitido.
O momento é difícil para os burocratas que enganam, roubam e subornam. Outros casos começaram a ser expostos publicamente. Apesar dos gritos habituais de inocência, a maioria foi afastada do cargo enquanto investigadores invadiam seus quartos e contas bancárias.
Desde a eleição de novos líderes no Partido Comunista, a mídia estatal, muitas vezes alimentada por vigilantes autônomos, tem divulgado uma série de escândalos.
Entre os destaques, um deputado da província de Shanxi que é pai de 10 filhos com quatro mulheres; um oficial da prefeitura de Yunnan viciado em ópio que conseguiu acumular 23 casas, incluindo seis na Austrália; e um burocrata de Hunan com 19 milhões de dólares (algo em torno de R$ 39 milhões) não declarados e que uma vez deu a sua filha 32 mil (R$ 65 mil) para que comemorasse o aniversário.
“A tempestade de combate à corrupção começou”, declarou o partido em comunicado.
A enxurrada de revelações sugere que membros da nova liderança na China podem ser mais firmes que os antecessores na tentativa de domar o nepotismo, o suborno e a devassidão que afligem as empresas estatais e governos locais. A fiscalização chega até aos pequenos comitês de bairro que supervisionam questões como o saneamento.
Os esforços começaram poucos dias após Xi Jinping, recém-nomeado chefe do Partido Comunista e presidente eleito da China, ter advertido que a falta de combate à corrupção poderia colocar a aderência à legenda em risco.
- Alguma coisa mudou - disse Zhu Ruifeng, um jornalista de Pequim que expôs mais de uma centena de casos de alegada corrupção em seu site. Entre eles, o vídeo de Lei. - No passado, poderia levar 10 dias para que um funcionário envolvido em um escândalo sexual perdesse o emprego. Desta vez, Lei foi embora em 66 horas.
A licenciosidade de Qi Fang, chefe de segurança pública de uma pequena cidade no extremo oeste, pode merecer um prêmio de originalidade. Este mês, um detetive revelou que a autoridade mantinha duas jovens irmãs como amantes. As mulheres conseguiram empregos no departamento de polícia e dividiam um apartamento financiado pela prefeitura.
Qi perdeu o posto, mas não sem antes negar qualquer mal e corrigir um detalhe da história. As irmãs, ao contrário de relatos anteriores, não são gêmeas.
Ainda assim, apesar das revelações de todas as obscenidades associadas aos últimos escândalos, analistas dizem que é muito cedo para saber se o presidente e outros líderes terão estômago para travar uma guerra sem travas contra a corrupção generalizada no partido.
Eles lembram que a maioria dos recentes escândalos foi descoberta por jornalistas, cidadãos anônimos ou colegas descontentes que postaram fotos e outras alegações condenatórias na internet, forçando as autoridades a responderem. Também é significativo que a maioria dos expulsos eram funcionários de cargos considerados menores.
Zhu, o jornalista que tem um site para expor impropriedades oficiais, também foi surpreendido ao encontrar seu site intocado um mês após ter revelado imagens com Lei engajado em acrobacias com uma mulher de 18 anos em um hotel. No passado, Zhu diz, a página seria bloqueada a cada revelação, normalmente seguida de uma visita ameaçadora de autoridades de segurança.
- Desta vez, recebi um telefonema da polícia de Pequim dizendo que tinham recebido instruções para me proteger - disse, com espanto.
Xi não é o primeiro líder chinês a protestar contra vícios oficiais. Hu Jintao, ex-presidente da China e ele próprio alvo de suspeitas de corrupção, chamou a prática de “bomba-relógio enterrada sob a sociedade”. O ex-premier Zhu Rongji prometeu dar a vida na lutra contra a má conduta oficial. “Eu vou ter 100 caixões preparados”, disse após tomar posse em 1998. “99 são para funcionários corruptos e o último é para mim mesmo”.
Zhu ainda está vivo e seu filho, Zhu Yunlai, tornou-se chefe de um dos maiores bancos de investimento da China pouco tempo depois do pai ter deixado o cargo.
Os críticos dizem que os membros do partido têm medo de que qualquer repressão de longo alcance possa bater muito perto de suas casas, dada a forma como muitos parentes têm lucrado com a proximidade do poder. Membros da família de Wen Jiabao, último primeiro-ministro da China, tinham sob controle um patrimônio de pelo menos 2,7 bilhões de dólares (o equivalente a cerca de R$ 5,5 bilhões).

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