Por BERNARDO MELO FRANCO - FOLHA.COM
BRASÍLIA - Pode ser que a aposta dê certo, e a entrega da articulação política a Michel Temer ajude a tirar Dilma Rousseff e seu governo do buraco. No entanto, a solução improvisada ontem pode se transformar em uma perigosa armadilha para a presidente e para seu vice.
De um lado, Temer assumirá a responsabilidade pelas negociações com um Congresso conflagrado, que vem submetendo o Planalto a sucessivas e humilhantes derrotas. O maior problema está no PMDB, convertido desde o início do ano em um foco de guerrilha contra o governo.
Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, têm se comportado como líderes da oposição. Se os dois não suspenderem o motim, a autoridade do vice poderá ser gravemente comprometida. Ele perderá poder em seu partido e passará a ser visto como sócio dos fracassos de Dilma.
Há outros desafios no caminho. Temer comandará um balcão esvaziado pela crise e pelo ajuste fiscal. Com o caixa vazio, precisará de muita lábia para fechar acordos sem saciar o apetite dos parlamentares por cargos e verbas federais.
De quebra, terá que administrar a rivalidade com Aloizio Mercadante. Isolado no PT e odiado pelo PMDB, o ministro está a um passo de se transformar em peça decorativa do palácio. Seu histórico sugere que ele não vai entregar o poder sem lutar.
O arranjo de ontem também embute riscos consideráveis para Dilma. Por definição, todo vice-presidente se alimenta da expectativa de poder. O principal atrativo do cargo, disputado a tapa antes de cada eleição, é a possibilidade de ser alçado ao comando do governo.
Nos últimos meses, isso passou a ser visto como uma possibilidade real diante do derretimento da popularidade da presidente.
Se Temer conseguir pacificar o Congresso e se transformar em um supervice, passará a lidar diariamente com a tentação de exercer o poder sem intermediários.
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