Por SANDRO VAIA - Do blog do NOBLAT
Em pouco mais de uma semana, o governo, depois de ter levado um puxão de orelhas do PMDB e perdido uma votação importante no Senado, trocou seus líderes na Câmara e no Senado e perdeu o apoio da bancada do PR.
Como diriam os operadores de Bolsa, nada que não estivesse “precificado” no famoso “presidencialismo de coalizão”, filho torto da Constituição de 1988.
Como nenhum presidente consegue ter maioria absoluta própria no Congresso para poder impor sua vontade, os governos são obrigados a formar coalizões, ou federações de interesses, e para isso dispõem de um variado cardápio de siglas de conveniência , muitas das quais foram criados exatamente para criar dificuldades e vender facilidades.
Nas velhas democracias parlamentaristas europeias, governos sem maioria costumam sobreviver através de coalizões programáticas que unem interesses variados em torno de um objetivo comum.
Aqui, o nosso jovem e já decrépito presidencialismo de coalizão se caracteriza pela prosaica barganha fisiológica do toma lá dá cá.
Collor, que se elegeu por uma dessas siglas de conveniência, tentou passar ao largo do establishment político e morreu soterrado pela explosiva mistura de incompetência, improbidade, arrogância e desatino com que conduziu um pedaço de mandato.
Num recado que mandou à presidente Dilma esta semana, ele diz, em outras palavras, que se tivesse sido capaz de tecer a sua rede de sustentação com o fígado e os intestinos do Congresso, talvez tivesse escapado do impeachment.
Itamar, Sarney, Fernando Henrique e Lula, animais políticos por vocação, conseguiram administrar o “presidencialismo de coalizão” com os danos e perdas morais que já conhecemos e que passaram a fazer parte da paisagem.
Dilma, que nos venderam como “a gerentona durona”, parece estar meio perdida nesse cipoal de interesses entrelaçados que formam a base de sustentação de governo, tão gigantesca numericamente e tão inconsistente ideologicamente.
Não que ela desconhecesse a matéria prima que compõe essa frágil frente de interesses. Afinal, no governo anterior ela era Chefe da Casa Civil, não era uma noviça.
Há quem nos queira vender a imagem da mulher que não transige com o “toma-lá-dá-cá”, assim como não tolera os “malfeitos”, e por isso estaria disposta a bater de frente com os aliados insaciavelmente fisiológicos, assim como bateu de frente com os ministros que ela defenestrou por atitudes suspeitas (esquecem-se os acólitos que todos os demitidos haviam sido nomeados por ela, mas esse, para eles, é um pormenor negligenciável).
O que acontece, na verdade, é que com o único, exclusivo e indispensável mentor e líder supremo temporariamente afastado do comando da nau por razões de força maior, a grande gerente não consegue encontrar o botão certo para calibrar nem a gerência do País e nem da federação de interesses que formam o bloco de apoio do governo no Congresso.
Dependendo do ângulo que você vê as coisas, isso pode ser uma nova forma de fazer política, como alguém já escreveu, ou uma velha forma de incompetência.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail:
Como diriam os operadores de Bolsa, nada que não estivesse “precificado” no famoso “presidencialismo de coalizão”, filho torto da Constituição de 1988.
Como nenhum presidente consegue ter maioria absoluta própria no Congresso para poder impor sua vontade, os governos são obrigados a formar coalizões, ou federações de interesses, e para isso dispõem de um variado cardápio de siglas de conveniência , muitas das quais foram criados exatamente para criar dificuldades e vender facilidades.
Nas velhas democracias parlamentaristas europeias, governos sem maioria costumam sobreviver através de coalizões programáticas que unem interesses variados em torno de um objetivo comum.
Aqui, o nosso jovem e já decrépito presidencialismo de coalizão se caracteriza pela prosaica barganha fisiológica do toma lá dá cá.
Collor, que se elegeu por uma dessas siglas de conveniência, tentou passar ao largo do establishment político e morreu soterrado pela explosiva mistura de incompetência, improbidade, arrogância e desatino com que conduziu um pedaço de mandato.
Num recado que mandou à presidente Dilma esta semana, ele diz, em outras palavras, que se tivesse sido capaz de tecer a sua rede de sustentação com o fígado e os intestinos do Congresso, talvez tivesse escapado do impeachment.
Itamar, Sarney, Fernando Henrique e Lula, animais políticos por vocação, conseguiram administrar o “presidencialismo de coalizão” com os danos e perdas morais que já conhecemos e que passaram a fazer parte da paisagem.
Dilma, que nos venderam como “a gerentona durona”, parece estar meio perdida nesse cipoal de interesses entrelaçados que formam a base de sustentação de governo, tão gigantesca numericamente e tão inconsistente ideologicamente.
Não que ela desconhecesse a matéria prima que compõe essa frágil frente de interesses. Afinal, no governo anterior ela era Chefe da Casa Civil, não era uma noviça.
Há quem nos queira vender a imagem da mulher que não transige com o “toma-lá-dá-cá”, assim como não tolera os “malfeitos”, e por isso estaria disposta a bater de frente com os aliados insaciavelmente fisiológicos, assim como bateu de frente com os ministros que ela defenestrou por atitudes suspeitas (esquecem-se os acólitos que todos os demitidos haviam sido nomeados por ela, mas esse, para eles, é um pormenor negligenciável).
O que acontece, na verdade, é que com o único, exclusivo e indispensável mentor e líder supremo temporariamente afastado do comando da nau por razões de força maior, a grande gerente não consegue encontrar o botão certo para calibrar nem a gerência do País e nem da federação de interesses que formam o bloco de apoio do governo no Congresso.
Dependendo do ângulo que você vê as coisas, isso pode ser uma nova forma de fazer política, como alguém já escreveu, ou uma velha forma de incompetência.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: