sexta-feira, 28 de março de 2014

COMENTÁRIO: Queda confirmada

Por Merval Pereira - O Globo

Na semana passada já havia ocorrido a mesma coisa, mas não passou de especulação: a Bolsa subiu a partir do boato de que o Ibope detectara uma queda da candidatura da presidente Dilma, que acabou se confirmando apenas em parte naquela ocasião.
Hoje, a confirmação da queda de popularidade da presidente fez com que a Bolsa voltasse a subir, e o dólar se desvalorizasse diante do real, seguindo previsão dos economistas: se a reeleição da presidente for inevitável, os mercados reagirão de mau humor, fazendo a Bolsa despencar e o dólar subir, como aconteceu com Lula em 2002.
Caso contrário, como a nova pesquisa do Ibope indica, a possibilidade de alternâncias no poder faz com que a mercado financeiro festeje mudanças futuras. Em alguns cenários na pesquisa anterior, Dilma caía de 43% para 40%, mas mantinha a tendência de fechar a eleição no primeiro turno.
Essa queda especulada há uma semana foi confirmada hoje em nova pesquisa, desta vez abordando apenas a popularidade pessoal da presidente e a de seu governo, sem entrar na medição de intenção de votos dos candidatos à eleição presidencial deste ano, o que deve acontecer mais adiante, confirmando ou não a tendência de queda na intenção de votos nela.
Caso se confirme uma tendência de queda, será bom também saber para onde foram esses votos arrependidos. Tanto podem aumentar a faixa dos brancos e nulos ou a dos que “não sabem” quanto ir para os adversários, indicando então uma nova tendência na corrida presidencial.
Os novos números demonstram que a popularidade da presidente caiu de 43% em novembro para 36% agora, o que a põe novamente no patamar próximo aos 30% a que chegou em junho do ano passado, durante as manifestações de rua.
A arrogância do marqueteiro João Santana, que previu que a presidente recuperaria o total de sua popularidade ainda no ano passado — voltando aos 57% que tinha —, não foi respaldada pela realidade.
As pesquisas indicam que a maioria do eleitorado está em busca de mudanças na maneira de gerir o país sem Dilma à frente do Executivo. Essa queda registrada ontem é consequência do desejo, revelado na pesquisa anterior do mesmo Ibope, de uma maioria de 64% do eleitorado que quer que o próximo presidente “mude totalmente” ou “muita coisa” na próxima gestão.
Entre esses, apenas 27% consideram que a própria Dilma poderá fazer as mudanças necessárias, o que significa que cerca de 40% do eleitorado quer mudar tudo, inclusive Dilma. O caso da Petrobras é exemplar de como esse mal-estar das ruas se reflete na atuação política.
A oposição minoritária acabou forçando a convocação de uma CPI auxiliada por uma dissidência da base aliada do governo em diversas dimensões.
Os senadores do PSB votaram contra o governo, solidificando a posição oposicionista que deve ser aprofundada na eleição de outubro. Isso quer dizer que, pela primeira vez desde 2002, o candidato do PT vai ter num provável segundo turno a ação coordenada de dois candidatos de oposição real.
Há também diversas dissidências em partidos da base como o PMDB e o PP, o que confirma a previsão de que o governo pode vir a ter o tempo de televisão de todos os partidos da base, mas provavelmente não terá nem a lealdade nem a máquina desses partidos a seu lado integralmente.
Os candidatos da oposição mais conhecidos, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), ainda não obtêm nas pesquisas a integral votação dos cerca de 40% que querem mudanças radicais no comando do país, o que indica que ainda têm campo para melhorar a atuação. Eles terão o benefício de terem seus programas eleitorais na televisão neste momento de ebulição.
Há também dois outros candidatos que podem agregar votos para a oposição, ajudando a realização de um segundo turno: o pastor Everaldo, do PSC, aparece com 3% dos votos e, dizem os especialistas, tem fôlego para chegar a cerca de 5%.
E o jovem senador Randolfe Rodrigues, do PSOL, pode ter uma posição melhor do que o candidato de 2010, Plínio de Arruda Sampaio, que não obteve nem 1% dos votos.
O importante nesse tremor de terra registrado pelo Ibope é que a queda de popularidade de Dilma se deu sem as manifestações de massa nas ruas, apenas provocada pelas notícias ruins acumuladas ao longo dos últimos dias.

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